19/05/2023

Honra e Glória eternas a heroína e aos heróis do 1º de maio de 1950 do Rio Grande!

 

Angelina Gonçalves


Se Angelina morreu em combate, defendendo a classe operária da escravização capitalista, nossa resposta imediata é prosseguir a luta que ela empreendia contra a reação, contra o obscurantismo. (…) Que em cada coração de mulher, o sentimento de amor à vida, à liberdade e à paz se intensifique com o exemplo de Angelina Gonçalves – líder inesquecível do proletariado brasileiro, que deu sua vida para deixar ao mundo o traço de união entre as mulheres das fábricas e as camponesas, entre as operárias e as donas de casa, porque todas sofrem igual miséria e todas merecem uma vida feliz num mundo de dignidade, justiça, progresso e paz. (…) Sobre a terra fria que cobre o corpo heroico de Angelina, juramos vingança e entoamos o hino de despedida, num vibrante chamado a todas as mulheres para a mais poderosa união e fraternidade proletária.”

Arcelina Mochel, Voz Operária, 27 de maio de 1950


Por ocasião do primeiro de maio levantamos alto a memória da heroína e heróis do proletariado brasileiro, a tecelã gaúcha Angelina Gonçalves, o portuário Honório Alves de Couto, membros do Partido Comunista do Brasil P.C.B., o pedreiro Euclides Pinto, liderança operária e o ferroviário Osvaldino Correia, assassinados no dia 1º de maio de 1950, no Rio Grande-RS debaixo do tacão anticomunista e reacionário do governo Dutra.

Os anos de 1950 foram de efervescência da luta de classe no país. O governo Dutra, com um golpe militar que depõe Vargas aplica sua política anticomunista radical segundo os padrões ianques, com sua guerra fria para impor hegemonia e as “eleições constituintes” para aprofundar sua dominação, colocando o Partido Comunista na ilegalidade. Por sua vez o Partido Comunista do Brasil, como parte da luta de duas linhas desenvolvida em toda a sua história, dá combates importantíssimos com o manifesto de Agosto de 1950, assumindo posição à esquerda, mesmo com limitações ideológicas, aprofundando a luta contra o reformismo e apontando na direção do caminho revolucionário pela tomada do poder. Nesse sentido, experimentava avanços importantes na luta operária dirigindo inúmeras greves e principalmente fortes lutas camponesas como as lutas de Porecatu e Trombas e Formoso.

Essas lutas e batalhas da classe produziram incontáveis heróis e heroínas do proletariado e povo brasileiro. Hoje destacamos a batalha ocorrida em 1º de maio de 1950 na cidade de Rio Grande-RS. Diante do fechamento imposto pelo Ministro da “Justiça” de Dutra da sede da “União Operária”, que já estava selada há oito meses, o Partido convocou para o dia 1º de maio, celebrando com luta o dia do internacionalismo proletário, a saída em marcha pela cidade até a sede, exigindo sua reabertura.

Em texto publicado na revista “Sul”, de 1985, conhecemos alguns relatos da manifestação: Angelina Gonçalves é das mais entusiasmadas. Bela, franzina, tem pouco mais de trinta anos. Desde os nove anos de idade vem sendo explorada como operária da fábrica Rheigantz, onde deixa seu suor e sangue por uns míseros trocados. Ela é a porta-estandarte. Nas mãos, seus dois tesouros: a filha Schirley, de dez anos, de um lado, e de outro a bandeira deste país que ela sonha igualitário e socialista. A solidariedade, a fraternidade operária cadencia cada passo da multidão. A poucas quadras está a União Operária em cuja fachada, anos atrás, um outro grupo de explorados escreveu: ‘Proletários do mundo, uni-vos’. A sede está fechada pela polícia dos patrões. ‘precisamos abri-la’, pensam as lideranças. Esta é a hora. ‘todos para a União Operária’, grita uma voz de comando. E a massa humana se dirige no rumo de ‘sua’ casa.””

Durante o protesto, a polícia do governador Walter Jobim (PSD) lançou ferozes ataques aos operários e operárias que marchavam combativos e decididos com suas bandeiras nas mãos. Os odiosos agentes do velho Estado reacionário dispararam seus fuzis contra os manifestantes, ferindo vários deles e assassinando Angelina Gonçalves, Euclides Pinto, Honório Alves de Couto e Osvaldino Correia.

Angelina era militante do partido desde o ano de 1945 (algumas fontes apresentam como data de ingresso o ano de 1934), trabalhava como tecelã desde os 9 anos de idade. O periódico do Partido à época, “VOZ OPERÁRIA” conta que estava com sua filha de 10 anos em um braço e uma bandeira no outro e que as últimas palavras dessa combatente da classe foram de incentivo aos manifestantes: “Não temam, companheiros!”


Cerca de 5000 pessoas participam revoltados do sepultamento dos manifestantes assassinados em 1º de maio de 1950. Rio Grande/RS


Provando mais uma vez que o sangue não afoga a revolução e sim a rega, o sepultamento dos operários comunistas foram marcados por grandiosa manifestação de revolta com cerca de 5000 pessoas naquela cidade portuária, fazendo estremecer o governo reacionário, anticomunista e pró-ianque de Eurico Gaspar Dutra, marcando, mais uma vez, as celebrações do 1º de Maio como dia do internacionalismo proletário, dia de combate da classe, combates que não cessarão enquanto houver o capitalismo e sua exploração e opressão.

O MFP – Movimento Feminino Popular reafirma seu compromisso de honrar o sangue dos heróis e heroínas de nosso valoroso proletariado e povo brasileiro. Levantemos alto os nomes de Angelina Gonçalves, Euclides Pinto, Honório Alves de Couto e Osvaldino Correia, parte dos melhores filhos e filhas de nosso proletariado seguindo a luta pela destruição revolucionária dessa velha ordem e construção de uma nova sociedade, uma Nova Democracia ininterrupta ao Socialismo a serviço da Revolução Proletária Mundial. Elevemos o protesto popular, unamos nossa classe em torno da ideologia todo-poderosa do proletariado internacional e lancemo-nos aos combates! Os reacionários pagarão por todo o sangue derramado! 

 

Glória eterna aos heróis e heroínas do proletariado e povo brasileiro!

Angelina Gonçalves, Euclides Pinto, Honório Alves de Couto e Osvaldino Correia: Presentes na luta!

Viva o 1º de Maio: Dia do Internacionalismo Proletário!


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A seguir, publicamos poema de Lila Ripoll em Homenagem aos Heróis do 1 de Maio de Rio Grande:

 

FESTEJO

Foi num primeiro de maio,

na cidade de Rio Grande.

O céu estava sem nuvens.

O mês das flores nascia.

O vento lembrava as flores

no perfume que trazia.

O povo reuniu-se em festa

pois a festa era do povo.

Crianças, homens, mulheres,

o povo unido cantava.

O povo simples da rua,

comovido se abraçava.

O mês das flores nascia

e o vento lembrava as flores

no perfume que trazia.

Foi num primeiro de maio,

de pensamento profundo.

“Uni-vos, ó proletários,

ó povos de todo o mundo”.

Unido estava em Rio Grande,

o povo simples cantando,

No peito de cada homem

uma esperança se abria.

Em qualquer parte do mundo

uma estrela respondia.

Era primeiro de maio

dia da festa do mundo.

O velho parque esquecido

tinha um ar claro e risonho.

Germinava no seu peito

o calor de um novo sonho.

Misturavam-se cantigas,

frases, risos, alegrias.

No peito de cada homem,

um clarão aparecia.

Surgiam jogos e prendas,

hinos subiam ao ar.

Em cada grupo uma história

alguém queria contar.

A tecelã Angelina,

vivaz e alegre cantava,

Recchia - o líder operário

ria e confraternizava.

Era primeiro de maio,

dia de festa do mundo.

Foi quando a voz calma e séria,

no velho parque vibrou,

e um convite alvissareiro

o povo unido escutou:

“Amigos, a rua é larga.

Unidos vamos partir.

A nossa ‘União Operária’

nós hoje vamos abrir.”

No peito de cada homem

Um clarão aparecia.

Em qualquer parte do mundo,

uma estrela respondia.

“A casa de nossa classe,

fechada por que razão?

Amigos, vamos à rua,

e as portas se abrirão.”

A onda humana agitou-se,

Cresceu em intensidade .

Em coro as vozes subiram

clamando por liberdade.

“Á rua,à rua, sem medo,

unidos, vamos marchar.”

Foi como se uma rajada

De vento encrespasse o mar.


PASSEATA

Sem demora, a passeata organizou-se.

Rompeu-se a indecisão.

Um sopro audaz passava em cada rosto,

onde os olhos falavam com estrelas,

na densa escuridão.

Espontâneas as filas se formaram

e ergueram-se a cantar.

Nas mãos erguidas, lenços tremularam,

impacientes também para avançar.

- Quem vai na frente? Quem? disseram vozes.

E três vultos surgiram, decididos.

Eram pedreiros uns. Outros portuários.

- Recchia, Osvaldino, Honório, Euclides Pinto -

e também Angelina, a tecelã.

E a passeata iniciou-se: “Adiante, amigos

Avancemos sem medo. A rua é nossa.”

Ouviu-se a voz sonoramente clara,

indicando o caminho a percorrer.

Decididos, os passos ritmados

marcaram os primeiros movimentos.

Punhos fechados,

lenços agitados,

e o vento acompanha o movimento

da marcha triunfante.

“A Bandeira na frente, companheiros”,

e Angelina surgia, erguida fina,

tocada pela luz da tarde mansa,

como um vivo estandarte a caminhar.

Os passos ritmados,

batiam sem cessar.

“Viva a classe operária. Salve. Viva!”

Era o coro das vozes a clamar.

Como um pássaro verde, muito verde,

a Bandeira voava,

revoava,

por sobre o mar humano a se espraiar.

Flutuavam lenços, mãos gesticulavam.

Vozes subiam animando a marcha.

E as filas andavam sem parar.

A “União” já estava quase a aparecer

e os punhos se fechavam.

Um sopro audaz passava em cada rosto.,

onde os olhos brilhavam.

“Viva a ‘União’, companheiros, viva o povo”.

E a voz interronmpeu seu entusiasmo

e um silêncio caiu, inesperado.

E logo uma palavra subiu clara,

atravessando homens e mulheres,

como um fino punhal.

“A polícia, a polícia, companheiros”.

E houve um leve arquejar. E alguém falou:

“Avançar, companheiros, avançar.”

Era Recchia investindo desarmado

E a onda contida transbordou.


ANGELINA

A massa resiste,

rebelde,

indomável,

erguendo muralhas,

de peitos e braços,

às frias espadas,

aos altos fuzis.

A rua tranquila,

tão cheia de cantos,

encheu-se de cinza,

de sangue e de pó.

O povo resiste

e os tiros aumentam.

Protestam as vozes

Num vivo clamor.

Respondem espadas,

fuzis apontados,

fuzis metralhando.

A massa recua,

retorna e avança

com novo vigor.

Na rua estendidos,

Euclides e Honório,

e mais Osvaldino,

fecharam seus olhos,

seus lábios calaram.

As vagas aumentam

de ódio incontido.

E há novos protestos

do povo ferido.

Alguém arrebata

das mãos de Angelina

a verde Bandeira

que ondula no ar.

Os tiros procuram

o peito de Recchia.

E os tiros ficaram

no peito a morar.

Os olhos dos homens

refletem angústia,

revelam paixão.

Ferido está Recchia,

e há sangue no chão.

Ninguém junto ao leme,

ninguém no comando.

Vermelhas papoulas

matizam o chão.

O rosto em tormento,

cabelos ao vento,

retorna Angelina,

mais alta e mais fina.

“A nossa Bandeira,

nas mãos da polícia?”

E à luta regressa,

com febre no olhar.

Os braços erguidos,

subiam, caiam,

em meio a outros braços,

o mastro a arrastar.

E às mãos vitoriosas,

num breve momento,

retorna a Bandeira

batida de vento.

Um frio estampido

correu pelo espaço,

na rua vibrou.

Vacila a Bandeira,

vacila Angelina,

e a flor de seu corpo

na rua tombou.


(Primeiro de Maio,1954)


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Reproduzimos a seguir matéria da edição 164 do Jornal Voz Operária, de 12 de julho de 1952 que homenageia os heróis e heroína do Rio Grande.

 

Jornal Voz Operária, de 12 de julho de 1952


NOMES QUE JAMAIS SE APAGARÃO

Da memória de nosso povo

(...)



OS HERÓIS E MÁRTIRES DE RIO GRANDE

EUCLIDES PINTO – líder operário de há muito estimado pelos trabalhadores de Rio Grande. Participou de todas as lutas populares que se realizaram, nos últimos tempos, na heroica cidade portuária. Conheceu várias vezes os cárceres da reação, tanto no Rio Grande do Sul, como em São Paulo. A 1º de Maio, liderava a grande passeata da classe operária, quando foi assassinado. Foram suas as últimas palavras: “Não chorem por mim, morro contente porque morro na data do trabalhador. Avante companheiros, em defesa da paz e da liberdade!”

ANGELINA GONÇALVES – operária tecelã, foi um exemplo de mulher operária. Ativa participante das lutas dos trabalhadores tecelões, Angelina ingressou no P.C.B. logo após seu surgimento à sua vida legal, em 1945. Daí por diante suas atividades como líder operária aumentou consideravelmente, participando de todas as lutas dos trabalhadores do Rio Grande. Angelina levava a bandeira brasileira na passeata de 1º de Maio, quando foi atacada pela polícia. Suas últimas palavras foram de incentivo: “Não temam companheiros!”

HONÓRIO COUTO – jovem operário, natural da cidade de Uruguaiana. Portuário, preocupado com a situação da classe operária, Honório encontrou no P.C.B., quando este veio à legalidade, a solução para os problemas dos trabalhadores. Tornou-se um ativo e exemplar militante comunista. Quando as armas dos assassinos foram dirigidas contra os manifestantes de 1º de Maio, Honório, mesmo desarmado, enfrentou os bandidos. Tomou a arma de um beleguim e tombou lutando.

OSVALDINO CORREIA – ferroviário, ativo partidário da paz, participou de diversas lutas reivindicativas da classe operária. Merecia a confiança de seus companheiros de classe, era estimado e respeitado. Acompanhava a passeata de 1º de Maio, quando foi atingido pelas balas assassinas da reação.

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