No último dia 29 de julho a Delegada Juliana Lopes Bussacos, da 6ª Delegacia de Defesa da Mulher em São Paulo, responsável pelos dois meses de investigação em que Neymar era acusado de agressão e estupro por parte de Najila Trindade, arquivou o inquérito contra o jogador. Ao mesmo tempo, Najila passa a ser investigada por denunciação caluniosa e tentativa de extorsão.
Já denunciávamos esse provável desfecho em nosso artigo recente: "Caso Neymar: Basta um episódio envolvendo um ricaço para fazer cair a máscara 'feminista' de hipócritas". Mais uma vez as leis deste país demonstram que só existem para defender ricos e poderosos. Já denunciávamos que Neymar sairia ileso, mesmo confessando agressão. Cai por terra todas as máscaras e demagogias daqueles que dizem defender os direitos das mulheres, quando o que interessa para eles é manter esta sociedade de exploração e opressão com a opressão das mulheres como parte de sua base.
A seguir reproduzimos novamente o artigo:
Caso Neymar: Basta um episódio envolvendo um ricaço
para fazer cair a máscara "feminista" de hipócritas*
“As mulheres sustentam sobre seus ombros a metade do céu, e devem conquistá-la.”
Presidente Mao Tsetung
O fato de Bolsonaro ter dado a este episódio quase o status de problema
de Estado é revelador de como este caso explicita toda a misoginia
estrutural de nossa velha sociedade semicolonial e semifeudal. A verdade
é que todos os demônios e preconceitos mais rasteiros sobre o papel da
mulher vieram à tona a partir deste caso. Lamentável é que muitos
setores ditos progressistas, e mesmo ativos representantes do
“feminismo”, tenham capitulado deste enfrentamento sério e necessário
quando ele se apresenta às claras.
Najila tem sido execrada e não espantará se, de vítima, daqui a pouco
seja ela a sentar no banco dos réus. Os monopólios de imprensa já
fizeram sua parte, encarregando-se de inverter os papéis de acusador e
acusado. Sua cobertura, mesmo aquelas mais “sutis”, apresenta a mulher
como uma “aproveitadora” e Neymar, coitadinho, como um menino ingênuo.
Afinal, não é natural que um playboy milionário possa usar as pessoas a
seu bel prazer? Que mal há em que um ricaço, que ostenta mansões,
carrões, aviões, possa igualmente comprar, usar e ostentar as mulheres
como bem entenda, consintam elas ou não? É esta visão de mundo
grosseira, tacanha, prostituída, que está por trás de toda a enternecida
defesa do “menino Neymar” que tem prevalecido no senso comum.
Ele afirma que não a agrediu e não a estuprou. Mas o fato inconteste é
que as marcas da agressão estão registradas em fotografias que foram
publicadas por ele mesmo, em mais uma demonstração de desrespeito, ao
expor o corpo de Najila nas redes sociais. Em sua defesa e não podendo
negar os fatos, Neymar chega ao absurdo de afirmar que a agrediu porque
ela pediu. É, portanto, um réu confesso, certo da sua impunidade uma vez
que as “leis” – inclusive as que supostamente protegem as mulheres –
não chegam até os condomínios fechados da burguesia.
Na verdade, o fundo de todo esse discurso machista e misógino,
reproduzido diuturnamente pelos monopólios de comunicação, pelas igrejas
e outras estruturas ideológicas do velho Estado reacionário é expressão
do pensamento reacionário e decadente das classes dominantes em nosso
país, a grande burguesia, o latifúndio e o imperialismo (principalmente
ianque), revelando a pútrida ideologia dessa velha sociedade patriarcal,
semifeudal e semicolonial. Para essa sociedade o valor da mulher é
medido por padrões de beleza e sensualidade que correspondam à sua
utilidade enquanto mercadoria e não pela condição social da imensa
maioria delas, ou seja, trabalhadoras que são, seres humanos completos
com capacidades produtiva e científica. Toda essa cultura reacionária da
opressão feminina serve para sustentar a base dessa sociedade de
exploração. Historicamente os sistemas de exploração e opressão
relegaram as mulheres do povo às funções mais secundárias na sociedade, a
de meras reprodutoras exaltando-as como rainhas do lar para que se
resignassem à condição da escravidão doméstica. Tudo para reduzir ao
máximo sua prática social e assim aplastar sua participação na luta de
classe, separando do proletariado revolucionário a metade do seu
exército.
No capitalismo cabe às mulheres do povo a extenuante tarefa do trabalho
doméstico, trabalho invisível e embrutecedor que garantem a reprodução
da força de trabalho para as classes exploradoras na forma de trabalho
gratuito. Com isto os salários podem ser mantidos em níveis baixíssimos,
o patrão não precisa desembolsar nada para garantir que seu empregado
se apresente no trabalho diariamente, alimentado, vestido e cuidado
todos os dias. Ele explora a classe de duas formas: na fábrica, com
pouca paga e no lar, com esse trabalho não pago da mulher. Quando são
inseridas na produção social é para aumentar a exploração da classe
impondo a elas uma dupla jornada.
Em propagandas oficiais, o próprio monopólio de imprensa, em campanhas
contra a violência sobre a mulher, afirma que, em casos de estupro a
palavra da vítima basta para abrir processo. Porque então este mesmo
monopólio, com a Rede Globo à cabeça, faz sensacionalismo criando um
ambiente de ataque e condenação à vítima? Revela o fundo hipócrita de
seu discurso de “arautos dos direitos das mulheres e das liberdades
sexuais”.
Esses mesmos órgãos do monopólio de comunicação que se apresentam como
vanguarda na “luta das mulheres pela liberalização sexual” são os
maiores promotores da utilização do corpo feminino como objeto sexual e
apologistas da prostituição. São, no máximo, a vanguarda do atraso,
defendendo com novas roupagens a velha tara burguesa de converter a
mulher em mero objeto de consumo, tanto no lar como na rua. As novelas
cumprem um papel ideológico de fortalecimento do machismo, naturalizando
a pornografia e a prostituição, alimentando esse mercado extremamente
lucrativo, para que as meninas, desde a mais tenra idade, acreditem que
seu valor está na exposição de sua sexualidade, estimulando um
comportamento sexual desregrado e degenerado, como se isso fosse a
“libertação” da mulher. Chegam a defender a prostituição como uma
“profissão digna como qualquer outra”, quando é, na verdade, a maior
expressão do rebaixamento da condição humana, tanto de quem se prostitui
quanto de quem se utiliza da prostituição. Em seus programas de
“entretenimento” glamorizam a prostituição como se as mulheres que vivem
nesta condição não sofressem os piores tipos de humilhações e
violências. Promovem e fortalecem diuturnamente a velha cultura de
subjugação feminina, enquanto demagogicamente fazem campanhas “contra a
violência sobre a mulher”. Quando fazem denúncias dos inúmeros casos
diários de feminicídio, naturalizam o problema como se fosse uma questão
de desvio de conduta moral ou de personalidade individual dos
agressores e escondem que a base de todo esse repugnante cenário é a
manutenção dessa sociedade de exploração e opressão. Contudo, o final
feliz das novelas costuma ser sempre igual: para a mulher “regenerada”, o
altar e o casamento, a redenção nos braços do príncipe encantado.
O caso Neymar é mais uma expressão de como a mulher é tratada nessa
sociedade, vítima de todo o tipo de violência, exploração e opressão.
São mais de 1300 estupros praticados por dia no nosso país segundo dados
oficiais, e esses números elevadíssimos seguramente ainda são
subestimados. Na verdade, além desses horrores com que convivemos
diariamente, a maior parte dos estupros acontecem sobre os brancos
lençóis dos ditos bem-casados, abençoados pelas igrejas que lhes impõem
seus caducos dogmas e segundo os valores morais hipócritas, certificados
pelos cartórios dessa velha sociedade. Os crimes de estupro são muito
difíceis de ser comprovados tanto por geralmente acontecem sem
testemunhas, quanto por ser acobertado pela cultura machista que
justifica as maiores barbaridades no comportamento masculino.
Influenciados pela ideologia machista, os homens que praticam o estupro
pensam que têm o direito de tomar a mulher pela força, quando ela não
quer praticar sexo ou não quer fazer da forma como o homem quer impor. É
direito da mulher interromper uma relação sexual se assim é o seu
desejo. Na maioria das vezes as mulheres se sujeitam a fazer o que não
desejam, o que as faz sentir sujas, por uma série de constrangimentos
que lhes é imposta como o que é normal e aceitável nessa sociedade. O
fetiche das “fantasias sexuais” e da exacerbada erotização de tudo
promovido pela indústria pornográfica, que cada vez mais inunda os meios
de comunicação, publicações e entretenimentos, estimula todo tipo de
degeneração humana e serve à manutenção da mulher como puro objeto,
desprovida de desejo, sentimento e dignidade próprios e apontada como
ser inferior. Difunde-se o mito de que o estuprador é o homem pobre e
negro, saído de um matagal ermo, quando a maior parte dos casos de
estupro e assédio ocorre dentro de casa ou no ambiente de trabalho. Sem
falar das incursões policiais nas favelas, que deixam um rastro não
apenas de jovens assassinados, mas também, muito comumente, de mulheres
violadas. Sobre isso, o monopólio de imprensa e os arautos da
“moralidade cristã” guardam um silêncio cúmplice e criminoso.
Todo o feminismo burguês e pequeno-burguês, supostamente radical,
converge para esse mesmo tipo de pensamento e apontam como suposta
“libertação sexual” da mulher o direito dela expor seu corpo e usar sua
sexualidade como “empoderamento” não importando forma, a qualquer preço e
a qualquer custo. Como se a emancipação da mulher fosse a “conquista”
do direito de fazer todas as baixezas tidas por “coisas de homem”. Ou
seja, estimulam que homens e mulheres desenvolvam relacionamentos
efêmeros, baseados exclusivamente em sexo, desligados de outros aspectos
da vida social, particularmente da luta de classes. Isto não é nem de
longe o que mulheres e homens podem construir juntos elevando sua
condição humana. Para contrapor essa velha cultura de subjugação da
mulher é necessário destruir as bases sobre as quais ela se sustenta, a
sociedade de exploração e opressão de classe e a propriedade privada. Ao
mesmo tempo em que destruímos esta velha sociedade do individualismo e
egoísmo, construímos uma nova, coletivista, com novas bases sociais, em
que a mulher é considerada um ser humano completo, inserida na prática
social ombro a ombro com o homem. Junto com essa nova sociedade se
erguerá uma Nova Cultura em que as relações entre homens e mulheres
serão de tipo mais elevada e profunda, baseadas em companheirismo e
respeito.
Para não julgar o caso Neymar pelas aparências, é necessário refletir
sobre todas essas questões, baseando-nos numa análise de classes da
sociedade. Neymar é considerado um ídolo de uma geração inteira de
jovens. Quão triste e miserável é uma ordem em que os exemplos das
futuras gerações não são legítimos membros do povo, seus trabalhadores e
pensadores verdadeiros, mas projetos de jogador como este tal. De fato,
neste sentido, Neymar não passa de um moleque: não completou sua
formação como atleta, menos ainda como ser humano. É, ele também, um
lúmpen dos tantos que uma sociedade em decomposição como a nossa cria
diariamente. O que não espanta, se pensarmos que é também um lúmpen
miliciano que se senta hoje na cadeira de presidente desta republiqueta.
Seu comportamento machista reforça nesses mesmos jovens a concepção de
que os homens devem usar as mulheres como objeto, de forma descartável,
como uma propriedade. O discurso de que “se ela apanha, é porque fez por
merecer” ou “porque gosta”, é parte dessa mesma concepção. É a mesma
lógica que leva à prática do feminicídio, realidade cada vez mais grave
em nosso país e em todo o mundo, hoje, mais do que nunca em crescente
desordem, afundado na crise geral de decomposição do capital, o
imperialismo.
O Movimento Feminino Popular repudia toda essa velha ordem hipócrita e
reafirma a luta pela construção de uma sociedade que ponha fim a toda
repugnante ordem de opressão feminina. A condição para transformar essa
realidade que subjuga a mulher do povo diariamente só pode se dar
através da destruição da base material que a sustenta. Nos países
semicoloniais/semifeudais como o Brasil, bem como a imensa maioria dos
países no mundo, esse caminho passa pelas Revoluções de Nova Democracia
ininterruptas ao Socialismo.
A origem e a causa da opressão feminina é a propriedade privada, bem
como o patriarcado e a divisão da sociedade em classes antagônicas dela
derivadas, que serve e reproduz a exploração e opressão do homem pelo
homem. Somente com a erradicação completa desses fatores e sua
substituição por novas relações de produção, baseadas na propriedade
social dos meios de produção e de distribuição da riqueza, pode conduzir
a emancipação das mulheres ao emancipar politicamente a classe operária
e demais classes trabalhadoras. Ou seja, a revolução social do
proletariado – composta de homens e mulheres – para o estabelecimento do
socialismo em transição para a sociedade sem classes, o comunismo.
Despertar a fúria revolucionária da mulher!
MFP – Movimento Feminino Popular
Junho – 2019