04/01/2023

 Fúria revolucionária das mulheres estremece o Irã e o mundo


Irã, 16 de setembro de 2022. O infame e revoltante assassinato da jovem curda Masha Amini, 22 anos – nas mãos da “Polícia da Moralidade” do Estado teocrático reacionário do Irã por não utilizar o hijab (véu) sobre os cabelos - desatou a maior onda de protestos em décadas no país, que se alastrou por ao menos 161 cidades, dentre elas a capital Teerã, Sanandaj, Bukan, Saqez, Marivan. Durante meses, os protestos continuaram, inclusive, com grandes manifestações de apoio ao redor do mundo. Buscando silenciar as massas, o ultrarreacionário regime dos aiatolás condenou à morte doze ativistas acusados de participar dos protestos. Dois deles já foram enforcados, tendo seus corpos exibidos como exemplo em guindastes. Política de terror que expressa, na verdade, o pânico que as classes dominantes sentem perante o vulcão de massas que irrompe sob os seus pés.

 

Como ocorre em qualquer comoção social de grandes proporções, o assassinato de Masha foi o estopim de um longo acúmulo de contradições e descontentamento represado nas massas. A faísca que incendiou a pradaria. Valendo-se da restrição mais severa mesmo aos mais elementares direitos democráticos das massas, o governo latifundiário-burocrático tem imposto uma piora acentuada das condições de vida dos trabalhadores, que se traduziu na recente suspensão dos subsídios para compra de alimentos, que lançou milhões de famílias à fome. No esteio da crise econômica que se agravou com a pandemia da Covid-19, aumentou o desemprego e a miséria de milhões. Hoje, apenas 23 milhões de pessoas, sobre uma base de 85 milhões de habitantes, possuem um emprego formal. Dentre as mulheres, apenas 11,6% estão empregadas. As universidades também têm sofrido, não apenas com o corte de verbas, como com o aprisionamento da experimentação científica pelo caráter teocrático do regime e a vigilância policial permanente sobre professores e estudantes. Os camponeses são submetidos a uma inaudita exploração pelas autoridades políticas e religiosas, expressão concentrada da semifeudalidade. De tudo isto se constata que, como ocorre em geral, a opressão sexual feminina, com particular manifestação de opróbrio das mulheres do povo, funciona como uma justificativa – e, ao mesmo tempo, um desafogo – para a opressão geral das massas populares.

 

Portanto, a rebelião do heroico povo iraniano – prenhe de tradições de luta anti-imperialista e revolucionária – é mil vezes justa! Confundir a luta de classes dentro do país com a tentativa do imperialismo ianque de utilizá-la para seus próprios fins seria um erro e mesmo uma traição, típica, aliás, de revisionistas. Na verdade, o regime dos aiatolás não é um regime que luta de forma consequente contra o imperialismo: não só porque usa suas pugnas com os ianques para negociar com outras potências a subjugação da nação e seu povo – como Rússia e China – como mantém uma relação de morde e assopra com o próprio USA, buscando usar provocações para barganhar condições. Como exemplo, mais do que eloquente, podemos lembrar que o mesmo regime de Teerã apoiou a declaração de “guerra ao terror” dada por George W. Bush após a maquinação do 11 de setembro de 2001 e as subsequentes invasões ao Afeganistão e ao Iraque. O atual regime iraniano está fundado sobre o sangue de milhares de comunistas e democratas, presos e assassinados após o triunfo da contrarrevolução islâmica de 1979. Não somos daquelas que dizem que o “inimigo do meu inimigo é meu amigo”, pragmatismo burguês contrarrevolucionário. O proletariado, ao contrário, aplica em cada problema político concreto a sua posição de classe independente, que não vai a reboque de nenhuma facção da contrarrevolução externa ou interna. Isso foi o que nos ensinaram desde Marx e Engels.

 

Para concluir: o recrudescimento da violência e da restrição dos direitos das mulheres, inclusive nos países ditos “democráticos” (como EUA, cuja Suprema Corte reverteu o direito ao aborto consagrado desde a década de 1960, causa conquistada a duras penas de lutas memoráveis das mulheres do povo norte-americano), é expressão da crise econômica e da reacionarização política que o imperialismo, em avançado estágio de decomposição, alastra em toda linha. Ao mesmo tempo, as mulheres do povo também participamos em toda frente, ombro a ombro com os homens oprimidos do mundo, das massivas rebeliões populares que estremeceram a Terra recentemente, em todos os continentes e sob todas as modalidades de governos, o que prova que nosso verdadeiro e comum inimigo é o imperialismo e as reacionárias classes dominantes internas. A colossal participação feminina nesses protestos é medida da explosividade das massas que atinge proporções jamais vistas nas últimas décadas. Os reacionários fracassarão na sua tentativa de nos amordaçar, pois é uma lei histórica que as mulheres (e os povos de modo geral) não aceitam viver em condições incompatíveis com a sua época.

 


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