Fúria
revolucionária das mulheres estremece o Irã e o mundo
Irã,
16 de setembro de 2022. O
infame e revoltante assassinato
da jovem curda Masha Amini, 22
anos – nas mãos da
“Polícia da Moralidade” do Estado
teocrático reacionário
do Irã por
não utilizar o hijab (véu)
sobre
os cabelos -
desatou a maior onda de protestos
em décadas no país, que se alastrou por ao menos 161 cidades,
dentre elas a capital Teerã,
Sanandaj,
Bukan,
Saqez, Marivan. Durante meses, os
protestos continuaram, inclusive, com grandes manifestações de
apoio ao redor do mundo. Buscando silenciar as massas, o
ultrarreacionário regime dos aiatolás condenou à morte doze
ativistas acusados de participar dos protestos. Dois deles já foram
enforcados, tendo seus corpos exibidos
como exemplo em guindastes. Política de
terror que expressa, na verdade, o pânico que as classes dominantes
sentem perante o vulcão de massas que irrompe sob os seus pés.
Como
ocorre em qualquer comoção social de grandes proporções, o
assassinato de Masha foi o estopim de um
longo acúmulo de contradições e descontentamento represado
nas massas.
A faísca que incendiou a pradaria. Valendo-se da restrição mais
severa mesmo aos mais elementares direitos democráticos das massas,
o governo latifundiário-burocrático tem imposto uma piora acentuada
das condições de vida dos trabalhadores, que se traduziu na recente
suspensão dos subsídios para compra de alimentos, que lançou
milhões de famílias à fome. No esteio da crise econômica que se
agravou com a pandemia da Covid-19,
aumentou o desemprego e a miséria de
milhões. Hoje, apenas 23 milhões de
pessoas, sobre uma base de 85 milhões de habitantes, possuem um
emprego formal. Dentre as mulheres, apenas 11,6% estão empregadas.
As universidades também têm sofrido, não apenas com o corte de
verbas, como com o aprisionamento da experimentação científica
pelo caráter teocrático do regime e a vigilância policial
permanente sobre professores e estudantes. Os
camponeses são submetidos a uma inaudita exploração pelas
autoridades políticas e religiosas, expressão concentrada da
semifeudalidade. De tudo isto se
constata que, como ocorre em geral, a opressão sexual
feminina,
com particular manifestação de
opróbrio das mulheres do povo, funciona
como uma justificativa – e, ao mesmo tempo, um desafogo – para a
opressão geral das massas populares.
Portanto,
a rebelião do heroico povo iraniano – prenhe de tradições de
luta anti-imperialista e revolucionária
– é mil vezes justa! Confundir a luta de classes dentro do país
com a tentativa do imperialismo ianque de utilizá-la para seus
próprios fins seria um erro e mesmo uma traição, típica, aliás,
de revisionistas. Na verdade, o regime dos aiatolás não é um
regime que luta de forma consequente contra o imperialismo: não só
porque usa suas pugnas com os ianques para negociar com outras
potências a subjugação da nação e
seu povo – como Rússia e China –
como mantém uma relação de morde e assopra com o próprio USA,
buscando usar provocações para barganhar condições. Como exemplo,
mais do que eloquente, podemos lembrar que o mesmo regime de Teerã
apoiou a declaração de “guerra ao terror” dada por George W.
Bush após a maquinação do 11 de setembro de 2001 e as subsequentes
invasões ao Afeganistão e ao Iraque. O
atual regime iraniano está fundado sobre o sangue de milhares de
comunistas e democratas, presos e assassinados após o triunfo da
contrarrevolução islâmica de 1979. Não somos daquelas que dizem
que o “inimigo do meu inimigo é meu amigo”,
pragmatismo burguês contrarrevolucionário. O proletariado, ao
contrário, aplica em cada problema político concreto a sua posição
de classe independente, que não vai a reboque de nenhuma facção da
contrarrevolução externa ou interna. Isso
foi o que nos ensinaram desde Marx e Engels.
Para
concluir: o recrudescimento da violência e da restrição dos
direitos das mulheres, inclusive nos países ditos “democráticos”
(como EUA, cuja Suprema Corte reverteu o direito ao aborto consagrado
desde a década de 1960, causa
conquistada a duras penas de lutas memoráveis das mulheres do povo
norte-americano),
é expressão da crise econômica e da reacionarização política
que o imperialismo, em avançado estágio de decomposição, alastra
em toda linha. Ao mesmo tempo, as mulheres do
povo
também participamos
em toda frente, ombro a ombro com os homens oprimidos do
mundo,
das massivas rebeliões populares que estremeceram a
Terra
recentemente,
em todos os continentes e
sob todas as modalidades de governos, o que prova que nosso
verdadeiro e comum inimigo é o imperialismo e as reacionárias
classes dominantes internas. A colossal participação feminina
nesses protestos é
medida da explosividade das massas que atinge proporções jamais
vistas nas últimas décadas. Os
reacionários fracassarão na sua tentativa de nos amordaçar, pois é
uma lei histórica que as
mulheres
(e os povos de modo geral)
não aceitam viver em condições incompatíveis com a sua época.
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