Reproduzimos o último Editorial impresso do jornal A Nova Democracia e convocamos as mulheres do povo a realizarem, desde já, uma vigorosa Campanha pelo boicote eleitoral e em defesa da Revolução de Nova Democracia!
A crise geral de decomposição do capitalismo burocrático, sua economia moribunda em decadência, só faz agravar, lançando as massas populares num cotidiano mefistofélico, e a sociedade num espiral de esfacelamento. Tudo aquilo que caracteriza uma vida de penúrias e desesperança está cada vez mais presente.
Mais de 125 milhões de brasileiros e brasileiras não têm garantia de que vão comer. Destes, 33 milhões passam fome todos os dias – um aumento de 14 milhões, se comparado com o índice de 2020. Para ficar no relato de uma trabalhadora entrevistada pelo monopólio de imprensa Globo: “Os meninos choram muito com fome, aí pedem e a gente não tem; a gente fica pensando e a cabeça da gente dói”. Junto, crescem a delinquência e a ação genocida do velho Estado de forma continuada sobre a população de pobres em expedições punitivas policiais nas favelas e país a dentro; cresce a população de rua lançada a sobreviver como animais ou coisa menos digna; o alcoolismo e drogatização; prostituição, inclusive de meninas adolescentes; desestruturação das famílias do povo e toda sorte de tragédias pessoais; ademais das sequelas sociais de todo tipo devido à matança por omissão e atos perversos do governo militar de Bolsonaro durante a pandemia e as desgraças dos crimes contra o povo, chamados oficialmente pelos governantes e monopólio da imprensa como “desastres ambientais”, como o recém-ocorrido na região metropolitana de Recife, matando já 128 pessoas. Alguém tem dúvidas de que este é o Inferno, ou sua antessala?
Frente a isso, a reação inicia a armação de seu circo eleitoral com seu espetáculo pérfido de ilusionistas e domadores, com o objetivo principal de renovar a legitimidade do sistema político putrefato, manejando a falsa polarização entre a falsa esquerda oportunista eleitoreira e o “fascismo”, para angariar votos e engajar as massas através da mobilização entusiástica. Fracassa, no fundamental. Grande parte das massas já atingem um grau de consciência suficientemente claro para não se deixarem nem iludir e nem domar.
Isso se nota pelas pesquisas, pois que, no essencial, o que conduz ao voto aquelas massas populares que ainda não a boicotam é a chantagem. Do eleitorado, 52% têm mais medo de uma reeleição de Bolsonaro e 35% têm mais medo da volta de Luiz Inácio; já sobre a rejeição, 60% rejeitam Bolsonaro e 40% rejeitam Luiz Inácio (Genial/Quaest, 08/06). Ou seja, os eleitores que ainda votam são mobilizados – em geral – pela negação, e não pela afirmação; não votam no que querem, mas sim, votam no que rejeitam menos; não se mobilizam e nem se engajam por crerem na velha democracia e por acharem que seus mecanismos são meios para angariar melhorias nas suas condições de vida; apenas depositam desesperançosos votos que se convertem em acúmulo de frustrações e ressentimentos explosivos que fazem alimentar seu ódio contra todo o sistema político e as instituições corroídos pela corrupção e suas péssimas condições de vida, temperando ainda mais a situação revolucionária e sua propensão cada vez mais ativa a apoiar e tomar parte das inevitáveis ações revolucionárias vindouras.
As eleições, sumamente importantes para a reação se unificar, não apenas não poderão cumprir seu desígnio de iludir e domar a fúria de classe das massas populares, cada vez mais conscientes sobre a natureza de classe desse sistema político moribundo do velho Estado de latifundiários e grandes burgueses serviçais do imperialismo, principalmente ianque, mas também não poderão resolver as pugnas cada vez mais agudas no seio de ditas classes dominantes.
Como já afirmamos, esse ano definirá os próximos, mas não pelo resultado das eleições, e sim pela luta renhida que ocorre em meio e à margem dela. Bolsonaro, que a cada cinco minutos precisa reafirmar que “sou eu o comandante-em-chefe das Forças Armadas” com medo de que alguém o esqueça, está passando crescentemente à ofensiva. Recentemente, disse que não cumprirá eventuais decisões do STF, que o TSE está fazendo de tudo para o Luiz Inácio vencer e que “há quem queira roubar a nossa liberdade” – referindo-se ao TSE – e que para defendê-la ele está disposto a “ir para a guerra”. Sim, o então acovardado capitão do mato agora está apresentando-se valente, uma vez que sabe muito bem do nível de politização das tropas das Forças Armadas e forças auxiliares, que se aprofundará com a aproximação do pleito e com as perspectivas, até aqui apontadas, de vitória do oportunista Luiz Inácio. Sabe que os generais, embora prefiram conduzir seu golpe de Estado pela via institucional e sem rupturas, não podem evitar de todo “embarcar” numa ruptura se estiver em risco seu controle sobre as tropas; sabe que a luta de classes dará um salto, e pretende usar isso como justificativa para seu projeto de terror reacionário e como argumento para arrastar o Alto Comando; sabe ainda que as massas rejeitam a velha democracia – embora também rejeitem uma reedição do regime militar fascista – e que pode utilizar esse sentimento para neutralizar o movimento de “defesa das instituições”; e, principalmente, sabe que os covardes que se encontram no comando jurídico do processo eleitoral não farão nada para impedi-lo de concorrer, pois que fazê-lo seria reforçar sua retórica golpista de que querem tirá-lo do páreo em favor do petista.
E eis que vemos os generais, sacerdotes da inutilidade e dos supersalários, conspirando cada vez mais abertamente por impor a ordem reacionária golpista. O ex-comandante do Exército e atual ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, outrora louvado pelos tolos liberais do monopólio de imprensa como homem-forte da “defesa da democracia” no Exército, em audiência no Congresso, ao ser perguntado se as Forças Armadas aceitariam participar de um golpe provocado por Bolsonaro, não respondeu diretamente, mas apenas leu o artigo 142 da constituição, cuja interpretação unânime para todos os generais, de todas as gerações, é abertamente um salvo-conduto, um livre mandato para intervir militarmente nas instituições para “garantir os poderes constitucionais”, tal qual um Poder Moderador.
Assim é que os generais, que já têm unanimidade sobre a necessidade de eles controlarem o sistema de governo – de preferência, operando nos bastidores, mas com controle real e reconhecido – estão crescentemente se unificando mais e mais numa posição. Avaliam que nessas circunstâncias (politização dos quartéis e risco de quebra da hierarquia; de possibilidades de eleições submersas na violência política e em atentados contra candidatos, todas combinadas com a tendência irreversível de crescimento da Revolução Agrária), ainda que buscando manobrar as tropas enquanto for possível no sentido da não-ruptura, se deva considerar a possibilidade de passar a uma ruptura em confluência tática com Bolsonaro, para depois tentarem neutralizar Bolsonaro, reestruturar o velho Estado e retornar à “democracia” – na verdade, um regime de presidencialismo absolutista – saindo no fim das contas como uma força legalista, que livrou o país dos extremos. Esse é o seu protervo sonho. É por isso que não chancelam definitivamente as urnas eletrônicas – senão que as questionam –, e tampouco afirmam categoricamente que o artigo 142 não lhes permite intervir, senão o contrário. Patetas são os que acreditam que são as eleições que decidirão o rumo do país neste ano, dentre os quais se destaca como o maior deles o senhor Luiz Inácio.
Marx disse que há decênios que valem apenas um ano, e ano que vale por decênios. Essas eleições, não pelo seu resultado em si, mas pela disputa que ela engendrou, farão que este ano valha por decênios. Prenunciando grandes combates de uma guerra de classes, a contrarrevolução está passando em revista a suas fileiras e está afilando suas espadas, debruçando em seus planos de ação e pondo-os em marcha acelerada. A revolução, por assim dizer, deve também fazê-lo, as necessidades das massas assim exigem: fazê-lo com mais energia e sacrifício, com mais concentração e disciplina, mais rápido e melhor.
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