Como parte das Biografias de mulheres que se destacaram na história das revoluções, particularmente da Revolução Proletária Mundial, vamos relatar aqui, ainda que de forma breve, a trajetória comunista de uma das maiores dirigentes que o proletariado internacional já forjou, Olga Benário Prestes. Uma mulher comunista, que dedicou toda sua vida à causa dos povos oprimidos e da Revolução Proletária Mundial, uma chefe proletária, grande internacionalista, uma comunista de aço.
Olga Gutmann Benário nasceu na cidade de Munique, na Alemanha, no dia 12 de fevereiro de 1908. Filha de uma família judia abastada, de um pai jurista rico e famoso na Baviera, membro do Partido Social-Democrata Alemão, Olga despertou cedo sua consciência política, ingressando na militância revolucionária com apenas 15 anos, se filiando na Juventude Comunista Alemã. Na Alemanha da época havia grande pobreza e miséria, decorrentes da derrota da Alemanha na I Guerra Mundial imperialista e do Tratado de Versalhes imposto pelos vencedores. Quanto ao contexto político, as organizações comunistas revolucionárias eram ilegais e duramente perseguidas nos anos de 1920 no país. Apesar disso, Olga dava mostras de grande audácia e decisão, estudando com afinco o marxismo e os grandes ensinamentos da Revolução Bolchevique de 1917 e do grande Lenin, colando cartazes clandestinos, fazendo pichações que clamavam contra a carestia de vida para os trabalhadores alemães nos muros das ruas mais movimentadas de Munique (importante cidade industrial), desafiando, assim, a repressão do Estado através da polícia política.
Devido à sua grande decisão e capacidade, tanto teórica quanto prática, ingressa nas fileiras do Partido Comunista da Alemanha e, com devoção e aplicação no trabalho revolucionário, rapidamente assume tarefas de direção na organização. É convocada pelo Partido Comunista da Alemanha para se transferir de Munique para Berlim, capital da Alemanha, para realizar seu trabalho político na capital. Perguntada se não existiria nenhum entrave para sua mudança, ela responde prontamente e com firmeza: “viajo na hora que o Partido decidir!”.
Com a mudança para Berlim começa uma outra etapa da vida de Olga Benário, a da vida clandestina. Por causa de sua intensa atividade revolucionária, a polícia alemã aumenta a procura por ela. O Partido Comunista providencia-lhe documentos falsos e Olga assume outra identidade. É destacada para militar no bairro de Neukolln, bairro operário de Berlim chamado pelos revolucionários de “fortaleza vermelha” da esquerda alemã devido à elevada participação dos operários na luta política. Poucos meses após sua chegada, assume a Secretaria de Agitação e Propaganda do Partido no bairro, e já em 1926 é eleita como secretária de Agitação e Propaganda da Juventude Comunista de toda a capital alemã. Durante todo esse período ela atuou intensamente, fazendo incontáveis reuniões, organizando grupos de pichação, panfletagens, participação em manifestações, piquetes em fábricas, ações e acerto de contas com a juventude nazista que atacava o Partido na época.
Tudo isso atraiu ainda mais a atenção da polícia política para ela e também para seu companheiro, Otton Braun, importante dirigente do Partido Comunista da Alemanha. Em outubro de 1926 Olga é presa pela polícia alemã e, algum tempo depois, também seu companheiro. Ambos vão para a famigerada prisão de Moabit. Olga foi liberada depois de dois meses na prisão, entretanto seguiu sendo perseguida. Otton Braun seguiu preso acusado de “traição a pátria”. Com o processo judicial nas mãos do juiz de extrema-direita Vogt e com Otton sobre a acusação de ser “espião soviético”, a condenação de Otton era certa. O Partido Comunista então planeja uma ação ousada: libertar Otton assaltando a prisão Moabit com armas nas mãos.
Foi a própria Olga quem selecionou os militantes que participariam da ousada ação e ela mesma comandou, de arma em punho, a ação vitoriosa do lendário dia 11 de abril de 1927, que libertou Otton Braun da prisão. A reação e a polícia ficam furiosos e, por todos os lados, podia-se ver retratos de Olga colados na parede oferecendo 5.000 marcos (moeda alemã) pela sua captura. Mesmo com toda a repressão desencadeada a partir da ação revolucionária, a juventude comunista alemã celebra com ousadia a libertação de Otton Braun na conhecida cervejaria Muller, frequentada pela esquerda berlinense na época. Com o cerco da repressão em busca de Olga e Otton se tornando insustentável, ambos são obrigados a se exilar em Moscou, na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS.
Ao chegar em Moscou Olga Benário é saudada com grande entusiasmo em um evento com milhares de jovens da Juventude Comunista Internacional pela direção da audaciosa ação armada de libertação de Otton . Ela não aceita as férias programadas para descansar dos duros momentos de clandestinidade na Alemanha e parte imediatamente para um trabalho político ainda mais vivaz, realizando inúmeros discursos em fábricas, fazendas estatais, escolas, programas de rádio, etc. Além disso, avança com afinco no estudo do francês, inglês e russo. Recebe treinamento na Escola Lenin, trabalhando como instrutora da Juventude Comunista. Apenas dois meses depois de chegar é eleita para o Comitê Central da Juventude Comunista Internacional. Separou-se de Braun em 1931.
Durante o período em que esteve na URSS também se desenvolveu como exímio quadro militar, aprendeu a atirar com ambas as mãos com armamento leve e pesado, aprendeu a cavalgar, fez curso de paraquedismo e pilotagem de avião e foi incorporada por mérito em uma unidade regular do Exército Vermelho Soviético.
Olga teve também papel destacado em várias missões internacionais para as quais foi designada. Em 1931 foi convocada para intervir na Juventude Comunista francesa em Paris. Não se limita a transmitir as orientações da Internacional, se envolve em manifestações de rua e é presa. Depois de duas semanas é libertada e com contatos consegue fugir para Londres, onde é presa novamente na capital da Inglaterra em outra manifestação em que participava, sempre apresentando uma atitude firme perante as prisões. Retornando a Moscou é eleita para o Presidium da Juventude Comunista Internacional, mais alto nível de direção da organização. Por fim, é convocada para mais uma missão internacional, dessa vez para o Brasil, onde realizaria um de seus mais importantes feitos e entraria para a história do povo brasileiro como heroína.
Ainda em Moscou Olga se encontrou com Luis Carlos Prestes. Prestes foi o grande chefe político e militar da invicta Coluna Prestes (1924-1926), que representou a última tentativa de uma pouco esclarecida burguesia nacional de transformar o exército da república dos coronéis em partido da revolução democrática-burguesa. Na Coluna, por três anos, mais de mil homens, principalmente, e algumas mulheres (seguramente não havia mais porque estavam proibidas de fazer parte), lograram derrotar os ataques de 14 generais do exército reacionário, percorrendo mais de 25 mil Km, aflorando as aspirações democráticas interior do Brasil adentro, fazendo justiça ao povo. Sem um programa mínimo revolucionário e uma direção estratégica e política justa e correta para guiar a revolução, a Coluna se refugiou na Bolívia.
A decisão da Internacional Comunista foi designar Olga como o quadro da Internacional Comunista responsável pela segurança pessoal de Luis Carlos Prestes.
Luis Carlos Prestes, já então um chefe do Partido Comunista do Brasil, voltou ao Brasil sob proteção de Olga Benário para deflagrar e dirigir o Levante Popular de 1935. Além de Olga, a Internacional Comunista também enviou outros delegados ao Brasil, tal qual o inquebrantável Arthur Evert, que após o fracasso do Levante é preso e torturado ao ponto de enlouquecer-se.
Para viajar da Rússia ao Brasil na clandestinidade, com documentos forjados, ambos assumem outra identidade, e agem como casal em lua de mel visitando o mundo. Com a convivência e com uma mesma perspectiva de vida e de mundo, a admiração e inclinação mútua vai aumentando e nasce um amor proletário entre dois dirigentes comunistas. Olga Benário e Luis Carlos Prestes chegam ao Brasil em abril de 1935.
Logo se estabelecem no Rio de Janeiro. No país, havia naquele momento grande efervescência política com o movimento da Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização de massas dirigida pelo PCB que defendia abertamente a necessidade de uma transformação revolucionária no país. A ANL, Frente Única dirigida pelo Partido Comunista, gozou de grande prestígio entre as massas, contando com milhares de filiados por todo o país.
A preparação do Levante foi precedida de grande propaganda revolucionária com a mobilização e organização de milhares de operários e massas populares em comitês, não só nas capitais do país, também em muitas cidades interioranas, em torno da palavra de ordem de “Todo o Poder à ANL!”. Grandes comícios foram realizados, o Partido distribuía jornais e panfletos em inúmeros setores da sociedade, pichações e ações contra o fascismo, tal como o histórico episódio da “revoada dos galinhas verdes” no centro da cidade de São Paulo, com que os aliancistas dirigidos pelo Partido Comunista escorraçaram as forças integralistas de Plínio Salgado.
Com o banimento da legalidade da ANL por Getúlio Vargas, se deu precipitadamente a tomada do palácio de governo de Natal. Foram quatro dias de sublevações armadas e batalhas antifascistas, com os comunistas à frente, que despertaram a esperança e o entusiasmo das grandes massas exploradas e oprimidas de nosso país. Em Natal, onde o Levante foi mais a frente tomando o principal quartel e angariando forte apoio das massas, erigiu-se o primeiro governo popular nacional revolucionário dirigido pelo proletariado no País. Foram batalhas heroicas que representam o marco inicial da luta armada dirigida pelo Partido Comunista no caminho do proletariado brasileiro ao Poder.
Após 13 anos de sua fundação e várias lutas de duas linhas nos primeiros anos de sua existência, o Partido Comunista do Brasil formulou objetivamente, pela primeira vez na história do proletariado brasileiro, um programa revolucionário e a proposição do caminho para a conquista do Poder por meio da luta armada. Contra o fascismo, o latifúndio e o imperialismo e pela conquista do Poder com o glorioso Levante Popular de 1935.
Com a derrota do Levante, a procura por Prestes e pelos dirigentes comunistas mais importantes se intensifica e o cerco da repressão se fecha. Serviços de inteligência estrangeiros colaboram para a captura de Prestes e Olga, como o serviço britânico, a Gestapo, etc. Por fim a polícia localiza o aparelho de Prestes e Olga e adentra o local com ordem explícita de entrar atirando. Entretanto, de forma decidida Olga se coloca na frente de Prestes e enfrenta os verdugos: “Não atirem, ele está desarmado”, evitando assim o assassinato de Prestes. Prestes e Olga são presos e, por ordem de Getúlio Vargas, Olga Benário é enviada em um navio (o cargueiro La Coruña) para uma prisão da Gestapo na Alemanha Nazista, mesmo sendo judia e já estando grávida de 7 meses.
Após sua deportação Olga foi enviada para a prisão de mulheres da Gestapo de Barnimstrasse, onde teve sua filha, com quem ficou apenas até o fim do período de amamentação. Nesse período foi realizada uma ampla campanha internacional pela sua libertação e de sua filha Anita, campanha encabeçada pela mãe de Prestes, dona Leocádia Prestes e sua irmã, Lígia Prestes. Na Europa e na América Latina se estenderam faixas e cartazes denunciando o crime do governo de Getúlio e dos nazistas para todo o povo. A campanha de solidariedade dirigida pelo Socorro Internacional, órgão da Internacional Comunista de apoio aos presos políticos e prisioneiros de guerra em todo o mundo, se espalhou pelos quatro cantos, o que obrigou o governo nazista a entregar a filha de Olga e Prestes para sua avó Dona Leocádia.
Olga foi enviada ao campo de concentração de Lichtenburg nos primeiros dias de março de 1938 e em 1939 foi transferida para o campo de concentração feminino de Ravensbruck, onde as presas eram submetidas a trabalho escravo por grandes monopólios, como a Siemens. Com profundo senso de classe e moral comunista inquebrantável continuou combatendo, ajudando a organizar as presas para exercícios físicos pela manhã e para faxinas nos imundos pavilhões. Organizou reuniões de formação política e instrução geral, chegando até a fabricar um pequeno mapa múndi clandestino para instruir as prisioneiras sobre geografia, história e política. Frente as pessimistas notícias do avanço do exército nazista sobre o país e sobre a Europa, permaneceu firme na convicção da vitória da grande União Soviética sobre os nazistas, que viria a se concretizar mais tarde, quando Olga já havia sido executada. Persistiu nessas atividades enfrentando fortes represálias e torturas de seus carrascos, na forma de solitárias, espancamentos sistemáticos, temperaturas abaixo de zero e falta de comida, além da restrição na comunicação com parentes e amigos fora da prisão. Olga não teve notícia de sua filha desde que foi obrigada a entregá-la para os nazistas, não sabendo nem ao menos seu paradeiro. Firme comunista que era, persistiu sempre otimista e convicta até seu último dia, não se intimidando com os horrores e crimes nazistas.
No dia 23 de abril de 1942, aos 34 anos de idade, Olga Benário foi executada covardemente nas famigeradas câmaras de gás, com mais 199 prisioneiras, no campo de extermínio de Bernburg. Lê-se assim um trecho de sua última carta para sua filha e Prestes: “Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor no mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão por que se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas… Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver”.
Olga é uma grande heroína do povo brasileiro e do proletariado internacional, lutou pela Revolução Brasileira e pela Revolução Proletária Mundial, pelo Socialismo e pelo Comunismo. Em suas próprias palavras “lutei pelo bom, PELO MELHOR DO MUNDO”. Segue viva em nossas mentes e corações e seu sacrifício jamais terá sido em vão. Segue dando batalhas após sua morte, inspirando as novas gerações com seu exemplo imperecível de vida e luta abnegada.
Companheira Olga Benário! Presente na luta!
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