10/04/2023

Lúcia Maria (Sônia)

Estudante da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro participava do Movimento Estudantil como membro do PCdoB. Era responsável pela impressão e distribuição do jornal A Classe Operária, no Rio de Janeiro, nos anos de 1969 e 1970, atividade que realizava junto com Jana Moroni, também combatente no Araguaia. Afrodescendente, cursava o 4º ano da faculdade e era estagiária do Hospital Pedro Ernesto, quando entrou para a clandestinidade, indo viver na Região do Araguaia, próximo de Brejo Grande. Vivia com Libero Giancarlo Castiglia, também desaparecido. Destacou-se como parteira e no trabalho pesado de derrubada da mata. Era membro do Destacamento A, utilizando o nome Sônia. Em combate, foi ferida e morreu em 24/10/1973, próximo da grota Água Fria, onde seu corpo teria sido abandonado, conforme depoimento de Agenor Morais da Silva.

De família humilde, temperamento enérgico e “doce”, o Movimento Estudantil foi também uma experiência vivida por ela. Lúcia chegou a cursar até o 4º ano de Medicina na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, algo que no Araguaia contribuiu para sua atuação como parteira (MORAIS; SILVA, 2005).

Conforme o Relatório Arroyo: “no dia 23, pela manhã, dois outros companheiros foram levar, até a estrada que vai para São Domingos, um rapazinho que, por acaso, se encontrava com os nossos. Nesse mesmo dia, os demais, em número de 11, deslocaram-se para a margem esquerda do Fortaleza. Dois helicópteros e um avião começavam a sobrevoar a área. No dia 24, Sônia (Lúcia Maria de Souza) e Manuel (Rodolfo de Carvalho Troiano) foram ao encontro dos dois que haviam levado o rapazinho. Não encontraram. À tarde, novamente Sônia e Wilson (elemento de massa) voltaram ao local de encontro. Recomendou-se que não fossem por um pizeiro antigo, pois ali poderia haver soldados emboscados. Acontece que Sônia acabou indo pelo pizeiro e, como decidisse caminhar descalça, deixou a botina no caminho. Quando voltou não encontrou a botina. Pensou que fosse brincadeira de gente de massa. Chamou por um nome conhecido. Apareceu uma patrulha do Exército que atirou nela, deixando-a ferida. Os soldados – segundo relatou gente de massa – perguntaram-lhe o nome. E ela respondeu que era uma guerrilheira que lutava por liberdade. Então o que comandava a patrulha, respondeu: ‘Tu queres liberdade. Então toma...’ - desfechou vários tiros e matou-a. Wilson conseguiu escapar”.

O relatório do Ministério do Exército afirma que “foi morta no dia 24/10/1973, em confronto com as forças de segurança ocorrido entre Xambioá (GO) e Marabá (PA)”. Em entrevista à revista IstoÉ (04/09/1985), o então major Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, - atualmente coronel da reserva e um dos primeiros oficiais do CIE enviado para o Araguaia - revelou que Lúcia foi ferida, caiu e sacou um revólver escondido na bota, ferindo-o no braço e a um capitão do CIE, Lício Augusto Ribeiro Maciel no rosto.

Elio Gaspari, em A Ditadura Escancarada, descreve com detalhes a morte de Lúcia Maria, a Sônia, e desfaz fantasias de algumas importantes fontes militares sobre o episódio. No que tange ao general Hugo Abreu, o jornalista relata: “Anos depois, o general Hugo Abreu, que comandava a tropa páraquedista, contou a seguinte história: ‘Lembro-me de um casal que matamos – eles mataram um major e eu tive de mandar matá-los. A moça deveria ter uns vinte anos e era belíssima, o rapaz, uns 25 anos. Digo a vocês que não sentia ódio dos guerrilheiros. No caso desse casal, o que senti foi pena’. Hugo Abreu revelava o seu mundo de fantasias. Não morreu major no Araguaia. A guerrilheira não foi morta por ordem de ninguém, mas na cena do combate em que feriu os dois oficiais. O acompanhante de Sônia não tinha 25 anos, nem morreu. Era um adolescente e fugiu. Foi achado dias depois e sobreviveu à guerrilha. Três moradores da região asseguram que o corpo de Sônia ficou na lama da Borracheira.”.

Jovem de origem pobre, com grandes dificuldades financeiras conseguiu ingressar na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, onde cursou até o 5º ano. Em 1970 mudou-se para a região do Araguaia. Pessoa muito carinhosa, rapidamente conquistou a amizade dos companheiros e moradores da região. Esforçava-se bastante para se adaptar às novas condições, chegando a superar muitos companheiros homens no trabalho físico de derrubada de mata, no uso do facão, na capacidade de transportar grandes pesos. Sua vontade de aprender sempre mais, levava-a a estudar até tarde da noite, sob a luz do lampião, tanto os compêndios de medicina, como os clássicos marxistas. Era grande admiradora de música clássica. Era membro do Destacamento A - Helenira Resende. Ferida em combate, ao ser presa e interrogada sobre qual era o seu nome respondeu: “Sou uma guerrilheira que combate pela liberdade. Guerrilheiro não tem nome!” Irritados, seus algozes assassinaram-na no próprio local, em 24/10/73, próximo da grota Água Fria, onde seu corpo teria sido abandonado. 

Lúcia Maria, heoroína do povo e da Revolução Brasileira! Presente na luta!

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