12/04/2023

Dinaelza Coqueiro (Mariadina)

Filha de Antônio Pereira de Santana e Junília Soares Santana, Dinaelza Soares Santana Coqueiro nasceu em 22 de março de 1949, em Vitória da Conquista (BA). Filha mais nova do técnico agrimensor e da professora, respectivamente, Dinaelza tinha quatro irmãs e um irmão, sendo Diva, Dilma, Dinorá, Dircineide e Getúlio. Sobre sua infância, segundo suas irmãs, tiveram uma vida simples, onde Diná foi uma criança feliz como todas as outras de sua época, brincando com bonecas, participando de brincadeiras de roda e tendo um bom relacionamento com sua família. Além disso, mais uma vez como elas destacam, ela sempre teve boa frequência e notas na escola (CAVALCANTI JUNIOR, 2016).

Estudou em Jequié no Instituto Educacional Régis Pacheco (IERP), além de fazer parte do grupo de leitura, deu seus primeiros passos na formação política, a exemplo de quando reorganizou, junto a outros colegas, o Grêmio escolar da instituição, como afirmou sua irmã Diva (CAVALCANTI. 2020, pag. 65). Em 1969, foi para Salvador cursar Geografia na Universidade Católica. 

Como parte da diretoria do Grêmio do IERP desafiava o diretor Milton Rabelo, ligado aos órgãos de repressão e informação, e publicavam um jornal que, segundo depoimentos de sua irmã, “era considerado naqueles anos como tendências de esquerda”. Nesse período organizou com seus colegas grupos de estudos para leitura do marxismo e de documentos do Pcdob, que na época estava na clandestinidade. Sua irmã Dinorá conta que “Após a leitura dos documentos do partido, eram enrolados em sacos plásticos (o que na época era difícil encontrar), colocados dentro de uma mala e enterrados em buracos no quintal da casa, disfarçando plantas no local. Todo esse aparato era realizado a partir de muito cuidado e sigilo”. Além de documentos o grupo de estudo debatia títulos literários como “A mãe” de Máximo Górki, “Os miseráveis” de Victor Hugo, “Os sertões”, de Euclides da Cunha entre outros.

Participou ativamente do Movimento Estudantil, sendo eleita para a Comissão Executiva do DCE da Universidade Católica de Salvador (DCE/UCSAL). Nessa época, casou-se com Vandick, estudante de Economia, também combatente no Araguaia. Em 1970, ela e o marido já integravam o comitê estudantil do PCdoB em Salvador. Trabalhou na empresa aérea Sadia, depois Transbrasil, até 1971, quando pediu demissão e foi deslocada para a região do Gameleira, no Araguaia, onde se tornou mais conhecida como Mariadina.

No sul do Pará, integrou o Destacamento B da guerrilha, região do povoado de Santa Cruz, juntando-se a Chica, Tuca, Lena e Walk. O comandante desse destacamento era Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão. (Cavalcanti Jr, 2020)

Dinaelza participou de vários enfrentamentos armados. Tendo adaptado-se à região e estreitado o contato com a população, Mariadina acompanhava Tuca nos atendimentos médicos à população, especialmente na realização de partos.

Sinésio Martins Ribeiro, guia do Exército na época, afirmou em depoimento prestado em São Geraldo do Araguaia, em 19/07/01: “ficou sabendo pelo Pedro Galego e Iomar Galego que a Mariadina (Dinaelza) foi presa no rumo da OP-1, dentro da mata; que quem prendeu ela foi o mateiro Manoel Gomes e entregou para o Exército; que segundo soube o depoente, ela foi levada para a casa do Arlindo Piauí para contar onde estavam os outros e outras informações; que ela não falou nada; que lhe contaram que ela era muito bruta, porque ela não respondia nenhuma das perguntas e também cuspiu nos doutores; que por isso mataram ela um pouco adiante da casa do Arlindo Piauí, dentro da mata; (...)”.

Taís Morais e Elmano Silva escreveram em Operação Araguaia sobre Dinaelza: “Presa pelo mateiro Manoel Gomes nas proximidades da OP-1, revoltou-se com o tratamento recebido do Exército. Meiga com os familiares, xingou o Major Curió de ‘chifrudo’ e cuspiu na cara de um oficial. Foi morta em 8 de abril de 1974, segundo os registros da Marinha”.

O número 208 de A Classe Operária, jornal oficial do PCdoB, trouxe trechos do depoimento prestado à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados por Cícero Pereira Gomes, posseiro no Araguaia que colaborou com o Exército no combate à guerrilha. Depois de descrever com detalhes as torturas aplicadas a guerrilheiros e moradores da região, informou que o corpo de Dinaelza Santana Coqueiro está enterrado na altura do quilômetro 114 da rodovia que liga São Geraldo a Marabá, indicando o local da cova, perto de uma casa de tábua.

Reconhecida por seus companheiros e familiares por ter dedicado sua vida à causa “do futuro de milhões de pessoas”, como disse em uma carta à familiares. As ações e a postura de Dinaelza, a combatente Mariadina, no Araguaia registraram sua valentia e desprendimento. Não entregou nenhuma informação ao inimigo cuspindo na reação, lutando até seu último fôlego pela revolução no Brasil. Heroicidade que a luta de classes e o assumimento da ideologia do proletariado é capaz de produzir.

 

Dinaelza Coqueiro, heroína do povo e da Revolução Brasileira! Presente na luta!

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Notas: 

BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Direito à Memória e à Verdade. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007. p 247.

CAVALCANTI JR, Ary. As Dinas do Araguaia: diferentes trajetórias de uma luta contra a Ditadura Militar. Tese UFGD, 2020



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