Republicamos, do Jornal A Nova Democracia, poema de Edith Lagos. Importante militante do Partido Comunista do Peru, o poema escapou de sua cela em 1981 e, sob um pseudônimo, venceu o primeiro lugar num concurso de poesia de Ayacucho.
O redemoinho rompeu a calma (1982)
Do alto de uma montanha
Ao lado de uma pedra inerte
Meio ao aroma das ervas silvestres
pergunto:
Quanto falta para que o rio
Aumente seu caudal?
Para que tormentosamente arrase
Este cruel presente.
Para o sul avisto os largos caminhos
E nos pampas se notam os redemoinhos
Pergunto aos redemoinhos:
Porque se dirigem ao sul?
Que querem arrasar?
A iniquidade do passado
Lá alojada.
Retoma o caminho curvilíneo, ziguezagueante se dirige lá
Onde a calma já é tormenta
Onde a tormenta já não quer ser calma
Pedra inerte, há muito pedra, há muito inerte.
Sei que o caminho, o rio
O pampa e o redemoinho
Moveu seus guardados sentimentos.
Não querias subir a montanha
Para ver os pampas, o caminho, o rio
E o redemoinho.
Porém a inércia ficou para trás
Incendiados estão teus sentimentos.
Erva silvestre, aroma puro
Te rogo acompanhar-me em meu caminho
Serás meu bálsamo em minha tragédia
Serás meu alento em minha glória.
Serás minha amiga
Quando crescer
Sobre minha tumba.
Lá: que a montanha me abrigue
que o rio me conteste
O pampa arda,
O redemoinho volte, o caminho descanse
E a pedra?...
A pedra lápide eterna será nela
Gravada,
“Tudo permanecerá”.
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