Reproduzimos abaixo o Editorial publicado em 12 de janeiro de 2022 do jornal A Nova Democracia
A economia mundial não saiu da crise cíclica, dentro da crise geral do imperialismo, na qual mergulhou no segundo trimestre de 2019, e já se desenha outra bolha. A única potência imperialista que vinha na contramão da recessão no período 2019-2021, a China, agora está às bordas de sua própria crise geral de superprodução relativa, especificamente no setor imobiliário, que é o principal ramo de sua economia, respondendo por 30% de seu PIB e concentrando, portanto, uma grande massa de seu proletariado; sem contar os ramos subsidiários que se sustentam e operam em torno dessa atividade.
A corporação chinesa Evergrande, segunda maior do país, contraiu e acumulou uma dívida de 300 bilhões de dólares para impulsionar a produção no ramo imobiliário. Tanto os capitais fictícios (economia especulativa) afugentaram-se, decaindo o preço geral das ações no mercado financeiro (desvalorização do capital), como também os preços dos terrenos na China decaíram (17,5%, em agosto de 2021), produzindo o mesmo efeito. Já são 65 milhões de residências ofertadas no mercado e ociosas na China, equivalente ao número total de residências na França. A superprodução já está dada, apenas faltando o seu efetivo colapso.
Tal é a lei fundamental do capitalismo, elevada à milésima potência na sua fase monopolista e última (imperialismo): a produtividade, elevada sem precedentes pela burguesia monopolista com fins de baratear a produção e alcançar a taxa máxima de lucro possível, extrapola a capacidade de consumo social. Os baixos salários – apenas o mínimo necessário – pago ao proletariado e às massas trabalhadoras, somado a um crescimento irrefreável da produção global, tornam impossível que tais mercadorias – e, portanto, que os capitais invertidos em todos os ramos da economia e na especulação, inclusive o capital fictício – encontrem mercados. Ou melhor: há consumidores em potencial, pessoas desejosas e necessitadas de mercadorias, mas estes não podem comprá-las segundo necessitam, na mesma proporção em que são produzidas. O resultado é a crise geral cíclica de superprodução relativa, que, vejam, só pode ser relativamente debelada com o crescimento ainda maior da pauperização das massas e da produtividade, combinação cujo desborde será uma crise potencialmente ainda mais catastrófica, uma pior à outra.
Quando estourar a inadimplência e a demissão em massa neste setor da economia chinesa – visto que não se pode continuar produzindo para um mercado saturado – se tornará ainda mais restrito o mercado consumidor, visto que tais desempregados serão, na prática, excluídos do mesmo; assim como a inadimplência produzirá a derrubada de outros setores da economia, num efeito dominó, que agravará a restrição do mercado, afetando decisivamente o mercado mundial. Como diz Marx, é essa a única dialética – a dialética da crise geral do capital – que os capitalistas podem entender quando estourar as crises, pois entra em suas cabeças a marteladas!
É claro que a explosão de uma crise de superprodução na China teria impacto econômico em todo o sistema imperialista mundial; os impactos sociais e políticos são ainda mais graves, com tendência a maior desenvolvimento da situação revolucionária, ainda que de modo desigual mundo afora, com números crescentes de levantamentos espontâneos e, onde existem fatores subjetivos minimamente estabelecidos, a saltos no desenvolvimento desta mesma situação revolucionária. Agravar-se-á – como já se agrava – o saqueio das nações oprimidas, com a retirada de direitos trabalhistas em todo o globo, assim como, necessariamente, a retirada dos direitos democráticos fundamentais, em marcha incrementando a reacionarização e o fascismo, na busca desapiedada pelo lucro máximo. Assim como agudizar-se-á no campo imperialista a pugna e o conluio entre as superpotências, entre estas e as potências e entre as potências por controle de mercados cativos para os capitais e mercadorias de suas corporações e para pilhar força de trabalho e matérias-primas a custos mínimos, que produzem e/ou agravam crises internas nas semicolônias, instabilidades e, no limite, invasões militares imperialistas para subverter o regime indesejado. As crises graves do Cazaquistão e das movimentações de tropas no Leste europeu, tudo é parte dessa necessária pugna.
É dentro desse palco, recordemos, que o Brasil, como semicolônia integrada ao sistema de dominação imperialista, principalmente ianque, está posicionado. Nesse contexto ocorre a profunda crise do seu capitalismo burocrático – a maior de sua história, que já se arrasta por sete anos – adjunta à maior crise de legitimidade do aparelho de Estado dos últimos 40 anos, em cujo cenário atua firme, disciplinado e crescente um promissor movimento de massas revolucionárias.
Agora, em meio a toda essa situação, é preciso ganhar mais e mais massas para as táticas revolucionárias, convencê-las de que é preciso lançar às cucuias as eleições reacionárias e seu embate de marionetes; demonstrar a elas que, seja qual seja o resultado, as eleições só servirão para chancelar o programa da ofensiva contrarrevolucionária preventiva por conjurar o perigo de Revolução feito de repressão selvagem às massas em luta e ao movimento revolucionário. Programa este cujos pilares fundamentais já estão traçados e publicizados pelo Alto Comando das Forças Armadas desde 2015 e assumidos relativamente de antemão por aqueles com reais chances de vencê-las. É preciso ser firme em evidenciar que a vitória do oportunismo só mistificará o gravíssimo perigo no qual se encontra a pátria, pois, como nos recorda Lenin, “a democracia pequeno-burguesa é incapaz de conservar o poder, servindo sempre para encobrir a ditadura da burguesia, apenas como degrau para o poder absoluto da burguesia”.
Assim, tem grande valor a recomendação do Grande Timoneiro: Abandonai as ilusões e preparai-vos para o combate!
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