A seguir, publicamos a nota da Comissão Nacional da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) denunciando tentativa de massacre e desmascarando as mentiras imputadas às famílias camponesas e ao movimento.
Abaixo a grosseira montagem do governo de RO e sua PM de demonização dos camponeses em luta pela terra para fazer despejos, prisões e massacres
Nota da LCP aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade e ao público em geral
Desde as primeiras horas de hoje (dia 8) o governo de Rondônia enviou 300 policiais armados até os dentes para sitiar o acampamento Tiago dos Santos, em Nova Mutum-Paraná,onde vivem 600 famílias, mais de 2.400 hmens, mulheres e crianças. Os policiais estão atirandocontra as motos ou qualquer coisa que se move no acampamento, impedem a entrada de qualquer coisa e até de alimentos, quando centenas de crianças não tomam leite desde segunda-feira última, numa verdadeira ciranda de terror.
Passados 05 dias dos graves acontecimentos naquela região, uma sucessão de fatos, revelações contundentes dos camponeses do Acampamento Tiago dos Santos e o próprio comportamento do monopólio da imprensa e principalmente dos “sites marrons” a serviço do latifúndio e da pistolagem, cada vez nais vão desmascarando a tempestade de mentiras, provocações, acusações, ameaças e a grosseira montagem do governo de Rondônia e sua PM para demonizar as famílias camponesas em sua dura luta por um pedaço de terra para trabalhar e sobreviver.
No dia 05 de outubro, um dia após a morte dos PMs, Sebastião Martins, irmão e advogado do maior grileiro de terras de Rondônia, Antônio Martins “Galo velho”, entrou com petição na justiça pedindo cumprimento de liminar para retirar as mais de 600 famílias, mais de 2.400 homens, mulheres e crianças, do Acampamento Tiago dos Santos. Esta área de 57 mil hectares, grilada e mantida improdutiva, é a terra pela qual as famílias de camponeses lutam desde 2016. Desde então os camponeses vêm sendo atacadas por pistoleiros e sendo retiradas por decisão judicial. Um dos que lutava por essa terra, o companheiro Tiago dos Santos, foi assassinado e por isto dá nome ao acampamento atual.
Em julho deste ano, 2020, o mesmo “Galo velho” e seu irmão foram presos por formação de quadrilha, compra de documentos falsos para roubar terras públicas e por compra de sentenças dando as terras improdutivas como produtivas, além de ter bloqueados mais de 300 milhões de reais. O Juiz Federal Herculano Nacif, da 5.º Vara Federal em Porto Velho, já falecido, julgava todos os seus casos, inclusive tendo sido o responsável por derrubar o processo da desapropriação da terra, desapropriação que já estava em curso no INCRA, à época.
Este é o fato mais revelador após os acontecimentos ao lado deste sitiamento do acampamento. Mas, e antes do dia 03 de outubro de 2020, o que acontecia?
Houve sobrevoos quase diários de helicópteros da PM, como agora, na área do acampamento Tiago dos Santos. Mas é importante ressaltar, uma vez mais, o que é reconhecido pelas próprias “autoridades de segurança” de Rondônia que NÃO FOI NA ÁREA ONDE ESTÃO AS FAMÍLIAS, QUE OS PM`S FORAM MORTOS. Também circularam na internet diversas fotos de “guaxebas” armados (como os camponeses de Rondônia chamam os pistoleiros) e vídeos em prometem limpar a região dos “sem terra” a mando do “Galo velho”.
Se o primeiro policial que foi morto estivesse simplesmente pescando numa área de conflito agrário, a qual a PM monitorava com sobrevoos de helicópteros, como querem fazer crer as versões preparadas pelos “sites marrons”, pelo secretário de segurança e o comando da PM, seria no mínimo muito estranho que sendo policial, o morto estivesse desinformado da situação de tensão na região, que se arrasta pelo menos há quatro anos.
E o que dizer da chamada “operação Mors”, em Jaru-RO, em julho de 2016, onde a polícia federal desbaratou e prendeu um grupo de extermínio que atuava na região de Jaru e do Vale do Jamari, com dezenas de execuções, e no qual onze membros eram da PM-RO (Onze policiais militares são presos durante operação da PF de Rondônia)
Mas admitindo-se que o policial morto estivesse em pescaria ali, o fato é que quem circula nas áreas próximas aos acampamentos de camponeses em luta pela terra são pistoleiros do latifúndio ocupado. É de conhecimento público em RO que dentre os pistoleiros há sempre policiais reformados e da ativa, tal como comprova o publicamente conhecido, entre outros, o caso do sargento Moisés (da PM RO), na chacina de nove camponeses, em Coniza-MT, em 19 de abril de 2017 (Caso Sargento Moisés JB News e Processo contra o Sargento Moisés no Diário Oficial do Matogrosso da 1ª, 2ª e 3ª Região). Porque tão ligeira e automaticamente essa imprensa venal de RO, o comando da PM e o secretário de segurança imputam a morte dos PM’s aos camponeses, quando é prática conhecida de policiais que servem de guaxebas a latifundiários torturar, assassinar e queimar carros? É como, por exemplo, ocorreu com os jovens camponeses assassinados Alyson e Ruan, em fevereiro de 2016, na Fazenda Tucumã, em Cujubim-RO, crime pelo qual respondem latifundiários, policiais e pistoleiros chefiados pelo mesmo foragido sargento Moisés da referida chacina de Coniza. Neste caso, fica evidente que os policiais que entraram na área onde fora morto o PM reformado, não foram ali simplesmente para buscar seu corpo e sim para “limpar a sujeira”, pois que outro PM foi morto e outros feridos em “confronto” com os “sem terra”, como alardeiam os defensores do latifúndio e seus crimes hediondos de matar camponeses, desmatar e incendiar a floresta Amazônica, e não confronto com os mesmos pistoleiros que mataram o PM reformado e que deixaram que seus acompanhantes escapassem no propósito, como está exposto acima.
A acusação contra os camponeses é tão absurda que contraria a própria lógica da versão dessa imprensa venal de Rondônia e seus “sites marrons”, a do secretário de segurança e comando da PM. Ao montar tal versão de que foram os camponeses daquele acampamento que mataram o policial que pescava, não se deram conta da incoerência da mentira. Ou seja, de que a “quadrilha de criminosos dos sem terra”, como demonizam os camponeses em luta pela terra, “assassinou o policial reformado que estava pescando” e que estes “bandidos de alta periculosidade”, como afirmou o secretário de segurança em entrevista, deixaram os acompanhantes do policial morto atravessarem o rio e irem embora. Tal versão corrobora exatamente para a tese de que os assassinos são guaxebas do “Galo velho”, que armaram para matar cruelmente o policial e deixar escapar os acompanhantes dele para que pedissem socorro à corporação. Uma provocação para que a imprensa vendida armasse seu berreiro para impressionar a opinião pública e justificar que o Estado e seus órgãos de repressão, com sangue nos olhos, caíssem em cima dos camponeses e arrasassem com seu acampamento. Da mesma forma é a versão de que um contingente policial, acatando a denúncia do assassinato pelos que escaparam, teria ido ao local para resgatar o corpo e recebidos a tiros, tiveram de retirar-se com a morte de um sargento e ferimentos de outros. Conforme a denúncia dos que escaparam qual foi o contingente enviado? Grande não foi porque senão não teriam recuado. Se foi pequeno, porque fizeram assim diante do assassinato de um policial numa área de conflito agrário? Grosseira montagem! Provocação da qual, provavelmente o comando da PM sequer sabia que membros da corporação haviam se dirigido àquela área, mas que por sua natureza de defensor dos latifundiários ladrões de terras públicas, necessitam encobrir os fatos com essa grosseira montagem.
Conhecendo a polícia de Rondônia, em que o Secretário de Segurança Pública, coronel José H. Cysneiros Pachá, conhecido oficial da PM-RO por sua participação direta no repulsivo Massacre de Corumbiara de 9 de agosto de 1995 (Oficiais de Corumbiara receberam promoções) , então tenente à época, quem pode duvidar que se esses parasitas defensores dos latifundiários ladrões de terras públicas realmente acreditassem que os policiais foram assassinados por “terroristas” e “milícias armadas dos sem terra”, LCP, etc., eles não teriam imediatamente promovido um banho de sangue como fizeram em Corumbiara, em Eldorado dos Carajás e tantos que ensanguentam a luta dos camponeses pela terra na história de nosso país?
Em Rondônia o comando da PM sabe, todo mundo sabe, que os esquemas de pistolagem do latifúndio funcionam por dentro e por fora daquela corporação, e geralmente quando há “desencontro”, conflitos de interesses ou outras contradições nos acertos da féria criminosa, a solução é muito violenta. Donde não se pode excluir as maquinações dos latifundiários com eliminações de policiais para provocar a demonização e fúria das forças repressivas do Estado contra os camponeses em luta pela terra, para exatamente expulsá-los.
Só para lembrar, no início dos anos 2.000, três camponeses entre os quais dois ativistas da LCP foram acusados e presos por assassinar um funcionário, na verdade guaxeba do “galo velho”, na disputa por terras comprovadamente griladas. No julgamento, o advogado dos camponeses lembrou do dia em que o ex-presidente João Figueiredo entregara aquela terra aos posseiros. Um dos ativistas da Liga passou quatro anos preso, pelo menos dois anos no Urso Branco. No julgamento, acima citado, uma das testemunhas de acusação, um militar, subordinado ao então major Enedy, reconheceu que policiais de Rondônia, para completar o soldo, trabalhavam como segurança para latifundiários. Também a viúva do guaxeba morto relatou a estranha insistência de “Galo velho” para que seu marido fosse receber seus “atrasados” por tanto tempo procrastinados. Os camponeses foram absolvidos. Depois de publicamente demonizados, difamados e moralmente linchados.
É o que, uma vez mais estamos vivenciando!
Os camponeses do Acampamento Tiago dos Santos, as mais de 600 famílias, mais de 2.400 homens, mulheres e crianças, são pessoas comuns, camponeses que já foram expulsos de suas posses covarde e ilegalmente, muitos foram trabalhar na construção de Jirau e ficaram desempregados, sem dinheiro, longe das famílias, “rodados”. Juntos estão lutando por esta terra pública, roubada e grilada por latifundiários dados como criminosos pela justiça deste velho Estado, com o conluio de juízes e funcionários públicos, como única forma de sobreviver frente ao brutal desemprego, miséria, pandemia e violência contra o povo!
Além de situações de grosseiras montagens como esta para justificar a continuação do secular massacre de camponeses e defesa dos latifundiários ladrões de terras públicas, também quando cansados da exploração sem fim e sofrimentos os camponeses radicalizam a luta pela terra os demonizam mais ainda para massacrá-ĺos. Essa récua de parasitas, após chupar o suor sofrido destes humildes brasileiros trabalhadores e trabalhadoras de mãos calejadas, quer ainda o seu sangue. Para levar seu hediondo e oprobioso crime insiste em difamá-los como “vagabundos sem terra” e, quando os enfrentam e não se dobram, de “bandidos” ou “terroristas”!
Os camponeses são inocentes!
A Liga dos Camponeses Pobres é um movimento de luta pela terra!
Terroristas e assassinos são essa malta de reacionários, serviçais e a soldo dos latifundiários ladrões de terras públicas, quer o sangue dessas famílias camponesas, humildes trabalhadores e trabalhadoras. Além de montagens grosseiras como o caso em questão, também em toda luta que estes honrados brasileiros e brasileiras radicalizam por estarem esgotados de serem sugados até a última gota de suor por esses exploradores, secularmente ladrões de terras públicas e demais parasitas que os rodeiam, como essa imprensa venal, barata e mentirosa de RO, de políticos corruptos descarados e de militares fascistas, acostumados a se cevarem com o sangue de massas empobrecidas indefesas e desarmadas, insistem em todas as oportunidades para, odiosamente, desqualificar como “sem terra vagabundos”, e, quando estes os enfrentam e não se dobram, demonizam como “bandidos” e “terroristas”!
Os camponeses são inocentes, são trabalhadores honrados!
A Liga dos Camponeses Pobres é um movimento desses brasileiros deserdados de tudo em luta pela terra!
Até um senador bufão, alvo de vários processos por participação em assassinato, desvio de dinheiro público e participação em milícias para-militares, foi a Mutum Paraná para aparecer como se estivesse na área do conflito, para agitar sua bandeira mulambenta e repulsiva do fascismo.
Este monte de lixo demoniza os camponeses e sua sagrada luta à estafa e lança contra eles os massacres e chacinas, o faz, além do mais, para servir o seu sangue nos banquetes em que entregam o Brasil de mão beijada para seus amos imperialistas.
Esta é a verdade!
Que os verdadeiros democratas e progressistas se levantem contra mais este crime anunciado e o banho de sangue contra os camponeses do Acampamento Tiago dos Santos.
Abaixo a demonização e criminalização da luta pela terra!
Terra para quem nela vive e trabalha!
Viva o Acampamento Tiago dos Santos!
Terroristas e assassinos são os mentirosos a serviço dos latifundiários ladrões de terras públicas !
Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres
Goiânia, 08 de outubro de 2020