Mulher palestina enfrenta soldado sionista durante protesto, set/2015. |
“Esta mulher gera os filhos e eles viram fedayin. Ela dá à luz e a Palestina leva.”
Recomendamos a leitura de Umm Saad de Ghassan Kanafani, revolucionário palestino, cofundador da Frente Popular para a Libertação da Palestina, assassinado pelo Mossad¹ em 1972. Kanafani escreveu romances, peças de teatro, contos e ensaios políticos. A 1ª edição do original em árabe foi publicada em 1969. Em língua portuguesa podemos encontrar na publicação da Editora Tabla.
Em Umm Saad nos deparamos com uma belíssima história representativa de milhões de mulheres palestinas que na guerra de resistência nacional de seu povo não perdem o otimismo e depositam nas novas gerações a fé inabalável na vitória, no trinfo, na liberdade da Nação.
Capa do livro de Ghassan Kanafani, Editora Tabla |
O narrador dessa prosa apresenta Umm Saad como uma mulher real, prima sua. Ao apresentar o parentesco, destaca que esse não é o motivo para contar sua história e sim a causa que une uma nação vilipendiada e povo desterrado. As relações que se desenvolvem e se fortalecem em torno desse designo são a coisa mais valiosa e grandiosa que qualquer laço de parentesco. Umm Saad é a alegoria da mãe palestina, do vigor e fortaleza das mulheres de um povo que jamais se dobra e que ama os filhos tanto quanto odeia os colonizadores de todos os tempos, como hoje, os bandidos sionistas.
Já na apresentação, o autor exalta o papel das massas na história “aprendemos com elas e as ensinamos”, numa clara referência às experiências mais avançadas de revoluções em todo o mundo, particularmente dirigidas pelos comunistas. Umm Saad é originária de uma comunidade rural e, depois da Nakba (catástrofe), passa a viver em um campo de refugiados, fora do território palestino. O narrador, ao descrever a personagem, afirma que “depois do povo palestino pagar caro pelas derrotas que sofreu”, encolhidos, “como bandeiras dobradas” vê essa mulher vigorosa surgir “como algo que brotava do útero da terra”, “andava altiva, como se fosse uma bandeira hasteada por braços invisíveis”. A grandeza de caráter da mãe palestina, que não duvida do futuro de seu povo, que afirma as vitórias vindouras é demonstração da superioridade moral de todo o povo palestino.
Expressão dessa confiança no futuro é como, nas pequenas coisas, apesar de todas as dificuldades garante que o novo surgirá, como de um galho seco, aparentemente sem vida, surgirá uma parreira. Convicção no Novo, no futuro, indubitabilidade da vitória. Outro elemento de força ideológica que devém dessa confiança, é a persistência, em não admitir que seus pares desistam, trava luta, para fazer o pouco a pouco, de plantar a semente e cuidá-la com paciência porque gerará frutos, assim como a terra, assim como a mãe palestina.
Na luta entre a angústia de estar longe do filho, de sentir que ele já é um ser humano que não depende mais da mãe e o orgulho de vê-lo se tornar um guerrilheiro da libertação da nação, o que prevalece é o júbilo por ver seu filho um fedayin², vê seus sonhos se realizarem nas ações do filho, demonstrando uma inesgotável fé no futuro de seu povo. Ela sabe que o lugar do filho não é “debaixo de suas asas”, mas na luta pela libertação da nação. Isso nos faz lembrar o grande Lênin quando, ao se referir com otimismo revolucionário que o proletariado deseja ter filhos, afirma que esse otimismo vem da certeza de que “lutamos melhor que nossos pais e nossos filhos lutarão melhor que nós”.
O orgulho da mãe é ainda maior diante da postura do filho que não se rende, não se vende, não capitula da luta, nem diante da prisão e da morte. A mãe palestina trava luta com aqueles que vacilam e denuncia que a vida é uma prisão se não há luta, que a liberdade está na persistência em lutar.
O filho Saad encontra a mãe, mesmo distante, nos campos de combate. A mãe palestina encontra seus filhos onde quer que seja e os filhos encontram suas mães por toda a parte. É um dos maiores exemplos do exercício da maternidade social, de como a luta de classes promove o que há de mais belo no ser humano, expressão da coletividade, sentimento de causa única da classe, contrário a todo sentimento egoísta e individualista de relações exclusivamente individuais.
Outros elementos ideológicos que surgem na narrativa é a identificação, por parte da mãe palestina, dos traidores da causa de libertação com combate a toda capitulação. Sua cabeça é de uma combatente da causa revolucionária, aprendeu a apagar os vestígios para não permitir que os combatentes caiam nas mãos do inimigo. Além disso, a identidade de classe, solidariedade com as outras mães estão presente na obra. Para a Umm Saad as marcas dos cortes e feridas da guerra se curam com trabalho e luta, não se apagam, senão que forjam, tornam os palestinos mais fortes.
A defesa da luta armada como única esperança para que um dia possam voltar à Palestina é presente em toda a narrativa. Assim como Umm Saad, seu marido, se entusiasma ao ver o fuzil nas mãos dos filhos, treinando para a guerra, para a retomada de suas terras, reacendendo a vontade de viver pela esperança de voltar para casa.
Os elementos dessa belíssima novela estão presentes nas batalhas de hoje. A força e vigor da mãe palestina, sustentada no ódio contra os sionistas que assassinam seus filhos diariamente é indestrutível. As mães palestinas continuarão a fornecer fedayins como seu dever perante a Resistência Nacional Palestina, seguirão brotando naquelas terras guerrilheiros que acumularão forja e experiência para destruir os imperialistas, principalmente os ianques e seus lacaios sionistas parte por parte. Brotará assim a Libertação Nacional Palestina, fruto da indomável guerra de resistência.
Viva as mães palestinas!
Viva as crianças palestinas!
Viva a Resistência Nacional Palestina!
Palestina resiste, palestina triunfará!
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Notas:
1 - Mossad – Serviço Secreto do Estado Sionista de Israel.
2 - Fedayin – Cada um dos militantes palestinos que resistem combatendo em guerrilhas. Guerrilheiro.
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