07/01/2024

Cabanagem: 189 anos da tomada de Belém


Cabanos tomam a cidade de Belém

No dia 6 de Janeiro celebramos os 189 anos da tomada de Belém, importante marco da histórica Revolução Cabana. Conhecida popularmente como Cabanagem a revolta que teve início na então província do Grão-Pará em 1823, e se estendeu até 1840, chegou a tomar o poder completo em Belém, onde instalou o governo cabano que se sustentou através da violência das massas armadas por um período relativamente curto de tempo mas que proporcionou grandes mobilizações de resistência entre ex-escravizados, povos originários, padres e até jornalistas todos unidos contra os desmandos do governo de Dom Pedro I e em seguida do período regencial. (Começou no primeiro reinado e terminou no regencial).

A cronologia da Cabanagem é difícil de se estabelecer com precisão, particularmente por ela ser uma culminância de um quadro político complexo de tensões e insurgências que iam se avolumando na região do Grão-Pará. Sabe-se que seu período de maior radicalização ocorreu a partir de 7 de Setembro de 1822, numa resistência heroica a uma violenta repressão aos cabanos que resultou na morte de 252 revolucionários da Cabanagem por asfixia no porão de brigue. Com isso as revoltas e insurreições ganharam mais força e frequentemente se radicalizavam. Os donos de terra que tentavam capitanear as vitórias políticas dos cabanos, perderam o controle, principalmente pela negativa de depor as armas após o chamado de Malcher "Largai as armas, tomais os instrumentos agrícolas para felicitar a indústria e o comércio". (Motins políticos de D.A Raiol)

Cabanas eram a moradia de boa parte da população

Ao não atender o chamado de largar as armas a base popular da cabanagem segue a rebelião e produz suas próprias lideranças, assumindo suas demandas, ações e alvos, fazendo com que a revolta representasse um perigo real não só ao governo regencial mas também aos proprietários de terras locais.

A Cabanagem representou demandas radicais e mesmo revolucionárias e um balanço correto nos mostra que foi uma revolta anti senhoriais, quaisquer que fossem, as populações negras em ações armadas pelo seu direito a verdadeira liberdade, as massas pobres composta principalmente de indígenas, tapuios e mamelucos também se insurgiam contra o recrutamento militar forçado e em conjunto ambos buscavam o acesso à terra e o direito de tirar dela sua subsistência.

Por seguir na luta combativa e abnegada os cabanos obtiveram vitórias importantíssimas como a abolição do alistamento compulsório, por meio do qual homens livres, principalmente jovens, eram forçados a entrar para a reacionária guarda nacional, cumprindo tarefas de massacras o povo em luta. Inclusive essa guarda foi substituída por uma força armada popular, na qual os comandantes eram eleitos pela própria tropa, cuja função principal era defender o poder conquistado. Além disso, houve a criação, em Belém, da Padaria Pública e do Açougue Público, para distribuição de pão e carne; organização de trabalho coletivo em obras de reconstrução espalhadas por toda a Província, muito abalada no período de lutas da Cabanagem, particularmente pelos bombardeiros da Marinha Imperial.

Conquistando vitórias parciais, os cabanos foram traídos pelas direções representantes da classe dominante, que vendo a luta se radicalizar e ganhar vulto estrondoso se aliaram ao governo regencial em ações de repressão contra aquelas massas, não sem que os cabanos instalassem o terror contra as forças repressivas que temiam os revolucionários por conhecerem muito o terreno de batalha e "não terem nada a perder". O perigo de outras novas rebeliões no entanto não se dissipou, de dentro dos navios prisões que transportaram milhares de cabanos presos o revolucionário Pedro Fernandes de Souza, segundo consta no códice 1130 do Arquivo Público do Pará, afirmava que “O tempo cabanal há de retornar” e que “Essa outra Cabanagem que virá será muito pior que a passada”.

Combates nas ruas de Belém durante a Cabanagem

 O fato é que a Cabanagem foi um dos acontecimentos históricos mais marcantes da história do Brasil, onde cerca de 30 mil homens lutaram em armas contra as atrocidades cometidas contra o povo, onde só havia uma saída: Pegar em armas para derrubar o governo central. Segue sendo tarefa dos revolucionários dar cabo a revolução agrária pendente e cumprir a meta de dar terra pra quem nela vive e trabalha, deve pulsar forte nos revolucionários e revolucionárias desta época que a tarefa de uma nova Cabanagem seja cumprida, agora com mais organização e vigor revolucionário. Lutar para manter o rumo da vitória, sustentando a decisão de, com armas nas mãos, “desafiar o Imperador”, é o caminho para honrar o generoso sangue derramado por aqueles combatentes destemidos. O povo organizado e armado, se guiado por uma direção justa, vai até as últimas consequências para experimentar a liberdade, e a Cabanagem demonstrou isso.

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Notas:

Brigue: Tipo de embarcação muito comum à época.

Província do Grão-Pará: Seu território era formado por todo o território da atual região norte (IBGE), com exceção do Acre, que foi comprado da Bolívia na virada do século XIX para o Século XX. Sua sede administrativa e principal cidade era Belém, atual capital do estado do Pará.


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