Reproduzimos abaixo o Editorial publicado em 25 de janeiro de 2022 do jornal A Nova Democracia
Bandeira nacional cravada de tiros no leste da Ucrânia. Foto: Reuters.
As enormes mobilizações e concentração de tropas no Leste europeu, nunca vistas nos últimos 30 anos, envolvendo diferentes superpotências e potências imperialistas com suas respectivas coalizões, reforçam o período histórico de grandes tormentas e cataclismos no qual está entrando a história mundial.
O imperialismo ianque, como superpotência hegemônica única, manobra para sobrepujar a superpotência atômica Rússia, como condição sem a qual não pode assegurar e manter sua hegemonia única no mundo, não só questionada, mas também ameaçada em meio ao avançado estado de decomposição do capital monopolista. Ainda que economicamente débil, a Rússia se mantém como superpotência militar e se situa à frente de outras potências imperialistas, como a China, e de países sujeitos à esfera de influência de ambas.
Os ianques não podem mais manter sua dominação global sem neutralizar a capacidade de resposta bélica-atômica do imperialismo russo. Utilizam-se de tudo que possuem para fazê-lo: seu enorme poderio militar construído através de formidável base industrial (cada vez mais no centro das crises de superprodução) e tecnologias de ponta alcançadas por meio da exploração do seu próprio proletariado e das massas trabalhadoras mundo afora e rapina sobre a maioria das nações oprimidas; do colossal endividamento que impõem ao resto do mundo sendo os donos da máquina de fazer dólar e por outras formas e meios próprios do sistema imperialista, no qual detêm hegemonia.
É esse o pano de fundo de todas as últimas escaramuças, que ameaçam seriamente transformarem-se em uma guerra onde atuem as duas superpotências imperialistas, mais ou menos direta e abertamente, para dominar determinados países, principalmente os que faziam parte da extinta URSS social-imperialista no Leste da Europa e na Ásia. O principal deles, hoje, é a Ucrânia, ainda que as provocações contra a Bielorrússia e Cazaquistão tenham crescido.
O imperialismo ianque força para que a Ucrânia, já cindida por uma guerra civil, integre a OTAN como impôs a outros países do Leste europeu. E, de fato, realiza provocações, através do regime lacaio pró-ianque que vigora naquele país, contra a Rússia, obrigando-a a realizar determinadas ações de resposta que, por sua vez, justificam perante a opinião pública a “necessidade” da Ucrânia ser membro da coalizão ocidental. Esse é um elemento chave da estratégia ianque, pois ter a Ucrânia como parte da OTAN é uma extraordinária posição para arrebatar da Rússia uma vasta faixa territorial indispensável para sua defesa militar e, principalmente, ali instalar seus mais avançados sistemas de defesa antimísseis.
Nesse momento, tropas ianques e de sua coalizão imperialista se encontram estacionadas em vários países do Leste europeu, enquanto o imperialismo russo realiza uma gigantesca mobilização de seu Exército na fronteira. Em negociações, os ianques exigem que a Rússia pare de mobilizar tropas na fronteira, e os russos exigem que a OTAN garanta, por escrito, que não integrará novos países-membros no Leste europeu e tampouco manterá ali presença militar. Dados os reais objetivos e as verdadeiras contradições que operam por trás dos pronunciamentos, fica evidente que ambas as exigências são, no momento atual, uma impossibilidade. A tensão se elevará mais, porém a nenhuma das partes interessa a guerra. Isso forçará a ambas chegarem a um termo intermediário dos seus respectivos objetivos.
O plano do imperialismo ianque, operado há pelo menos 20 anos, além de estacionar tropas em determinadas posições no Leste, é cercar a Rússia com seu sistema de defesa antimísseis, com capacidade de neutralizar o poderio bélico-atômico russo. Desde meados dos anos 2000, os ianques manejam com a União Europeia, através da OTAN, em conluio e pugna, por instalar no continente seu sistema de defesa, rumo ao leste.
Aqui um breve resumo. Em 2008, o USA, rasgando o acordo assinado com os russos quando da dissolução da URSS social-imperialista, propugnou abertamente a incorporação imediata da Geórgia e da Ucrânia na OTAN. Em 2013, Rússia instalou sistema para lançamento de mísseis próximo à Polônia e Lituânia, em resposta à instalação dos escudos antimísseis ianque instalados na Europa. Três anos depois, o imperialismo ianque, através da OTAN, instalou na Romênia e em outros países do Leste um novo sistema de escudos antimísseis, porém justificando-os como se fossem para “defender-se” do Irã. Um ano depois (2017), após fustigar a Coreia do Norte com suas sanções imperialistas, usou a retórica de Kim Jong-Un para justificar a instalação de novos escudos antimísseis, desta vez no Pacífico, progredindo extraordinariamente o cerco militar contra a Rússia; no mesmo ano, realiza o até então maior simulacro de guerra desde a “Guerra Fria”, cruzando toda a Europa e estacionando na Polônia, usada várias vezes como porta de guerra contra a Rússia no século passado.
Alguns dizem que se trata do risco de uma terceira guerra mundial a curtíssimo prazo. Ainda que incidentes possam precipitá-la, a tendência principal não é essa, para este prazo. Como analisou o Presidente Mao, nos anos 1960, uma nova guerra mundial, embora inevitável, só ocorrerá quando não houver mais outra forma de prosseguir a repartilha do mundo. Por agora, as disputas entre os imperialistas necessariamente se expressarão como invasões e guerras imperialistas destes contra as nações oprimidas, agudizando essa que é a contradição principal da época e da atualidade.
Assim se comprova o que afirmou o Grande Timoneiro, naqueles idos: se abriu um novo período, dos próximos 50 a 100 anos, em que as contradições fundamentais da nossa época se agravam de maneira nunca vista. O mundo está sacudido pela crise geral do imperialismo em um avançado estágio de decomposição e os necessários "acertos de contas” que os imperialistas fazem entre si. Mundo sacudido ainda pelas decorrentes e inevitáveis revoltas explosivas das massas. A instabilidade e crise aguda são uma lei nesse período, e são precisamente a instabilidade e a crise agônica da velha ordem aquelas condições que permitem grandes transformações, desde que haja uma força proletária que, em diferentes países, saiba explorar tais contradições e instabilidade em favor do proletariado e massas populares, potencializando a revolução mundial.
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