Estudante é presa por denunciar crimes de policiais
O
MFP – Movimento Feminino Popular repudia veementemente mais uma
ação arbitrária da polícia militar de Rondônia: a prisão de uma
estudante de direito durante uma manifestação na capital Porto
Velho, no último dia 29 de setembro, porque ela denunciou crimes
cometidos por policiais militares contra camponeses em luta pela
terra. Os policiais se incomodaram com o fato de uma pessoa tornar
público estes crimes, ainda que tudo o que ela falou foram fatos
denunciados em
inúmeras
manifestações, atos e audiências públicas, fatos
provados com
vídeos, fotos e depoimentos de testemunhas. Esta
atitude dos policiais militares configura abuso
de poder,
censura e acobertamento de crimes gravíssimos e só comprova serem
verdade todas palavras ditas pela universitária. Esta
prisão é tentativa de intimidação
para
impedir o direito democrático de opinião e faz parte da
criminalização da
luta do povo, especialmente da luta camponesa e estudantil.
A
jovem usou o microfone para saudar as mulheres camponesas em Rondônia
que ao longo dos anos, na luta pelo direito a um pedaço de terra
para trabalhar e viver com dignidade, junto de seus companheiros e
filhos, têm enfrentado assassinatos,
desaparecimentos,
sequestros,
agressões e torturas,
atentados,
prisões,
despejos
violentos,
destruição
de casas, roças e criações, calúnias
e difamações.
E
muitos destes crimes tiveram
a
participação de policiais, isso
é
inquestionável,
de conhecimento amplo dos
movimentos populares e democráticos, e
mesmo das
“autoridades”, embora grande parte da população não saiba,
devido ao bloqueio
à informação imposto pelo monopólio
dos meios de comunicação, serviçal do latifúndio, por
páginas da internet que são porta-vozes
extraoficiais
da pm e
pela perseguição exercida pela própria polícia.
Os
crimes contra camponeses em luta pela terra, cometidos por
pistoleiros, policiais e outros agentes do velho Estado, todos a
serviço
do latifúndio certamente é maior do
que se sabe,
mas as vítimas e testemunhas não tornam público justamente por
medo de represálias, como aconteceu com o camponês Paulo
Sérgio Bento Oliveira, do
acampamento Fidel Castro 2 (município
de Mirante
da Serra).
Em
maio
de
2017 ele
foi assassinado por policiais do GOE (Grupamento de Operações
Especiais) após
camponeses denunciarem que
um
policial
militar
era
chefe
da pistolagem a
serviço
de
um
latifundiário,
com
o conhecimento e conivência de
policiais do GOE.
Trabalhadores
dessa
área entregaram
carta
e
vídeos que comprovavam
as acusações
ao governador,
na época vice,
Daniel Pereira e
para representantes da Ouvidoria Agrária Nacional, durante reunião
em Porto Velho.
Depois,
policiais
foram
no
acampamento,
reclamaram
das
denúncias e ameaçaram:
"agora
vocês
vão
sentir
o peso do
GOE".
No mesmo dia, Paulo foi
assassinado.
Em
maio de 2017 Veronilson Cabral Roseira, do acampamento Terra Nossa 2,
na antiga fazenda Tucumã (município de Cujubim), foi agredido por
dois elementos que invadiram sua casa. Dias antes, ele havia
denunciado ações da polícia militar na área, durante a dita
reunião da ouvidoria agrária, em Porto Velho. Em janeiro de 2016,
dois jovens da mesma área foram barbaramente assassinados por
pistoleiros e pelo sargento da pm Moisés Ferreira de Souza, que após
trocar tiro com a própria polícia foi detido, mas teve a fuga
facilitada por colegas de farda. Em abril do ano seguinte, o mesmo
policial pistoleiro comandou a tortura e massacre de 9 camponeses em
Colniza/MT.
Em
dezembro de 2014, Caubi Moreira Quito, que se diz o dono das terras
da Área “10 de maio” (município
de
Alto Paraíso), confessou em depoimento para delegado de Ariquemes
que contratou 10 policiais militares para fazerem serviços de
pistolagem. O
casal de ativistas Edilene e Izaque sofreu
uma tentativa de assassinato quando voltava de Porto Velho, onde fez
várias denúncias deste e outros crimes do latifundiário.
Mas em
setembro de 2016
eles foram covardemente assassinados
enquanto trabalhavam em
seu
lote.
Até
Ênedy
Dias, comandante-geral
da pm nos
anos de 2016 e 2017,
foi acusado
de
estar
envolvido
com “grupos de extermínio” integrado
por policiais quando
comandava
o 7º BPM em Ariquemes. E
esta
denúncia gravíssima foi feita pelo
Núcleo Integrado de Inteligência da
própria polícia militar.
E
não podemos deixar
de citar um
dos
mais
conhecidos
crimes
cometidos pela polícia militar de Rondônia, que
assassinou,
torturou e feriu dezenas de camponeses, inclusive a pequena Vanessa
de 7 anos, na fazenda Santa Elina em 1995 no
município de Corumbiara,
crimes
até hoje impunes. Ao
contrário de sofrerem punição, entre
os
que comandaram diretamente os assassinatos e torturas em 1995, José
Hélio Cysneiros Pachá (na
época capitão)
e Mauro Ronaldo Flores Corrêa (na
época tenente), hoje são coronéis e fazem parte do alto-comando
da pm,
sendo
o
primeiro chefe
do Estado-Maior
e o
último o atual comandante-geral.
Cabe
lembrar também que há anos Rondônia tem ocupado os primeiros
postos na contabilidade da repressão e assassinatos de camponeses em
todo país, denunciada anualmente pela CPT.
Por
tudo isso, nós do
Movimento Feminino Popular saudamos a coragem da estudante em
denunciar os crimes contra camponeses em luta pela terra. Conclamamos
todas mulheres do povo, todos operários, camponeses, estudantes,
professores, trabalhadores em geral, entidades, movimentos e pessoas
democráticas a se somarem e reforçarem a denúncia do terrorismo de
Estado e da prisão arbitrária desta jovem. São fatos graves que
evidenciam a escalada fascista que ameaça o país e cobra de todos
trabalhadores e democratas firme posicionamento e luta.
Lutar
não é crime!
Terra
para quem nela vive e trabalha!
Brasil,
outubro 2018
MFP
– Movimento Feminino Popular
Vídeo do momento da prisão da companheira:
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