A seguir publicamos importante documento de balanço de nossa organização realizado em 2006, dez anos após a ruptura com o nacional reformismo. Segue sendo essencial para nossos estudos e formação.
Conquistar
a metade do céu
Dar
um salto na construção do Movimento Feminino Popular
Balanço
do Movimento Feminino Popular
8
de Março de 2006
I
- Introdução
Após
dez anos de atividades de combate ao revisionismo1
e oportunismo na frente do trabalho feminino que levou à fundação
do nosso Movimento Feminino Popular, chegou-se a uma situação que
tem suscitado inquietações sobre o movimento e seu destino. Na
verdade muitas de nós temos nos feito várias indagações sobre
esta situação procurando entender melhor o que está ocorrendo com
o MFP. Algumas companheiras tem mesmo afirmado que o movimento recuou
ou se enfraqueceu, outras não vêem resultados de tantos anos de
trabalho.
Na
verdade mesmo chegamos à culminação de uma importante etapa na sua
construção ideológica, política e orgânica. Tal culminação
aponta a necessidade de novo salto do processo que desafia a todas
nós integrantes do MFP, uma vez mais, de que somos nós mesmas é
que temos de dar cabo da tarefa da edificação de um vigoroso,
vibrante e combativo movimento feminino revolucionário como condição
indispensável para a emancipação da mulher. Emancipação esta que
para ser alcançada só se pode lograr com a emancipação das
classes exploradas e que, da mesma forma que tal emancipação só
pode ser obra da própria classe, também a emancipação feminina só
pode ser obra das próprias mulheres trabalhadoras e exploradas.
Contudo, como sempre tem sido cada conquista das mulheres fruto de
longas e penosas batalhas, esta obra emancipatória não poderá ser
obtida sem o concurso de duras e prolongadas lutas e dos extenuantes
esforços combinados de todas nós. Como metade das massas exploradas
e oprimidas nós mulheres, como dizem as revolucionárias da China do
Presidente Mao, sustentamos a metade do céu e devemos conquistá-lo!
Para
respondermos com clareza a estas indagações, confirmar a afirmação
de que na verdade culminamos uma importante etapa da construção do
MFP e de que novos desafios e dificuldades se interpõem à nossa
frente e assim impulsionarmos mais e mais a luta pela edificação e
fortalecimento do MFP, necessitamos realizar um balanço mais amplo
de toda a trajetória do movimento feminino, particularmente dos
últimos dez anos em que o mesmo pôde dar um grande salto
libertando-se por completo das concepções oportunistas que sempre o
contaminaram, impedindo às mulheres de desempenhar o papel que lhes
cobra a luta emancipadora como um todo.
Nestes
últimos dez anos enfrentamos um novo auge do oportunismo no
movimento popular no país, com negativas repercussões para o
movimento feminino, tudo favorecido por um cenário de aprofundamento
das derrotas do proletariado e das massas populares em todo mundo.
Por esta razão mesma é que o que nossa luta obteve tem um valor e
magnitude muito grandes e é preciso elevar nossa consciência para
poder perceber isto. E isto é chave para prosseguirmos avançando e
darmos novo salto em sua edificação. Agora, a partir dos últimos
anos em que a luta e a resistência dos povos em todo mundo está
crescendo e se eleva rapidamente temos mais razões para fazer um
balanço positivo de nossos esforços, localizar as dificuldades e
erros que nos enfraquece, dar luta contra eles, vencê-los e avançar
com o movimento fortalecendo toda a luta do proletariado e massas
populares do nosso país e de todo o mundo.
Para
procedermos a este balanço se faz necessário localizar, ainda que
sumariamente, a luta histórica de nosso povo e dentro dela a luta
das mulheres, como preâmbulo de nossa avaliação.
As
principais lutas do povo brasileiro e a participação das mulheres
(de 1500 a 1964)
A
nossa história está feita de lutas massivas, de lutas cujos brados
são das massas e delas o sangue derramado em profusão. Desde quando
aqui chegaram os portugueses tiveram que enfrentar a resistência das
nações indígenas, como a Confederação dos Tamoios. Estimadas em
mais de 5 milhões, em 1500, a população indígena, ainda que num
estágio muito primitivo, não se submeteu passivamente e foi
praticamente dizimada na luta contra a dominação e escravidão
estrangeiras, contando hoje com uma população em torno de 370 mil
pessoas, seguindo sistematicamente vitimada por massacres e matanças.
Os
negros africanos introduzidos como mão-de-obra escrava por quase
quatro séculos de barbárie resistiram das mais diferentes formas,
desencadeando inclusive, por longo período, formas de luta armada,
como foram os Quilombos, destacando-se o de Palmares (situado entre
Pernambuco e Alagoas) em 1629, que durou por mais de 60 anos,
chefiado por Ganga Zumba e depois por Zumbi. As mulheres participavam
ativamente dessas lutas e dentre elas sobressai a importância de
Dandara que teve participação decidida na organização e na defesa
do território libertado da República de Palmares, a primeira
república brasileira.
Foram
assim as dezenas de levantes pela independência do jugo da Coroa
Portuguesa: Guerra dos Emboabas (1708, Minas Gerais); Guerra dos
Mascates (1710 em Pernambuco); Rebelião na Bahia (1711); rebelião
de Felipe dos Santos (1720 em Minas); a Conjuração Mineira (1789)
onde Bárbara Heliodora sobressai como uma conjurada, teve seus bens
confiscados e sofreu enorme perseguição da coroa portuguesa, tendo
resistido bravamente até o fim de sua vida. Por participar da
Revolução Pernambucana (1817), Bárbara Pereira de Alencar com 56
anos foi a primeira presa política do Brasil, permanecendo nas
masmorras de prisões na Bahia por 3 anos. (acrescentar
sobre Maria Quitéria)
Seguiram-se
a Confederação do Equador e a Cabanagem, a Revolução Farroupilha
(1835 a 1845 no Rio Grande do Sul); Conjuração Baiana ou Sabinada
(1837); revolta de Diogo Feijó (São Paulo, 1842); Revolta de
Teófilo Otoni (Minas, 1842); Revolução Praieira (Pernambuco,
1848); a Balaiada (Maranhão 1848); Campanha Abolicionista (1863);
Manifesto Republicano (1870); Revolta do Vintém (Rio de Janeiro,
1880).
Dessas
sublevações, as que chegaram a tomar o poder, ainda que localizado
foram a Cabanagem no Pará (1835) e a Confederação do Equador
(Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe
e Bahia em 1824).
Já
no final do século XIX, o nascente proletariado brasileiro
forjou-se, desde seus primeiros dias, com lutas e combates contra o
capital, a dominação colonial imperialista e o lacaio Estado
burocrático-latifundiário. Não são de menor importância os
movimentos sociais, políticos, culturais, militares e
revolucionários da década de 1920, como expressão da luta de
classes no país, opondo as massas urbanas, ainda que dirigidas pela
pequena-burguesia, contra o poder das oligarquias rurais por um lado
e por outro a luta do campesinato pobre pela terra e pela
sobrevivência, particularmente das regiões nordeste e norte.
Atiçados explosivamente com o fim do escravismo, estes conflitos
vieram gerando fenômenos desta luta como o de Canudos (1896 no
interior da Bahia), Juazeiro, Caldeirão, Contestado, Pau de Colher,
Pedra Bonita e até mesmo o movimento do Cangaço (o mais importante
foi o de Antônio Virgulino, o Lampião, onde se destaca a
participação de Maria Bonita).
No
plano da luta contra a domina e colonialismo cultural surgiu a Semana
de Arte Moderna em que se destacaram Tarsila do Amaral, Anita
Malfatti, Patrícia Galvão, a Pagu, entre outras. Sua maior
expressão urbana, o chamado Tenentismo, gerou a Coluna Prestes –
maior movimento popular armado de nossa história, no qual
participaram muitas mulheres – e que, principalmente por não estar
dirigido pelo proletariado, derivou-se em direção da burguesia
submissa ao imperialismo que, com a “revolução” de 30 –
movimento da Aliança Liberal encabeçada por Getúlio –, traiu as
aspirações e o ideário democrático do tenentismo e o povo,
recompondo o poder com as oligarquias latifundiárias. No campo
popular, a aliança do proletariado – representado pelo Partido
Comunista – com a ala esquerda do Tenentismo, particularmente da
Coluna Prestes, possibilitou desenvolver o movimento revolucionário
que teve seu ápice na constituição da ANL – Aliança Nacional
Libertadora, dirigida pela Internacional Comunista através do P.C.B.
– Partido Comunista do Brasil, culminando com o levante de novembro
de 35. Olga Benário, uma revolucionária nascida na Alemanha,
militante internacionalista, participou na direção do Levante
Popular, sendo posteriormente presa e deportada pelo governo de
Getúlio Vargas para a Alemanha nazista, onde foi executada num campo
de concentração. Olga enfrentou com coragem as forças do fascismo
no Brasil e na Alemanha, teve uma filha na prisão e sua história é
marcada pela firmeza na defesa dos princípios revolucionários e na
confiança na vitória do povo por sua libertação.
Posteriormente,
em meio às pugnas pelo poder entre as diferentes frações da
burguesia e das oligarquias rurais, vigorosos movimentos de massas
irromperam no cenário urbano e rural do país, particularmente nas
décadas de 1950 e 1960, a ponto da reação e o imperialismo
sentirem-se obrigados a promover um novo golpe militar (1.º de abril
de 1964) para impor uma nova e longa fase de repressão, fascismo e
miséria sobre as massas.
Origem do movimento feminino organizado no Brasil
É
importante neste balanço do Movimento Feminino Popular, fundado no
ano de 2000, registrar que o movimento feminino revolucionário
inicia-se de forma organizada no Brasil em 1922 com a fundação da
Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em 9 de agosto
daquele ano.
Sob
direção do P.C.B. – Partido Comunista do Brasil – as mulheres
brasileiras, proletárias, camponesas e da intelectualidade tiveram
atuação importante assumindo de maneira revolucionária a luta
popular: a luta contra a carestia onde as mulheres por diversas vezes
invadiram açougues e armazéns e distribuíram carne e alimentos nos
bairros proletários; a exigência de que o governo brasileiro da
época apoiasse a União Soviética na luta contra o nazi-fascismo na
Segunda Guerra Mundial; a luta contra o envio de tropas brasileiras
para a agressão ianque à Coréia socialista em 1950; participação
ativa nas greves operárias, particularmente entre os ferroviários,
onde as mulheres organizaram piquetes heróicos garantindo a
paralisação dos trens operados por “fura-greves”; participação
nas lutas combativas e radicalizadas pela terra como em Trombas e
Formoso em Goiás; além das lutas organizadas pela anistia dos
presos políticos e contra os governos burgueses latifundiários
serviçais do imperialismo.
A participação das mulheres brasileiras
na luta popular revolucionária de resistência
contra
o regime ditatorial militar de 1964
Em toda a
história do Brasil, portanto, a participação da mulher foi
inegável e marcante. Tomando como exemplo o período histórico mais
recente do gerenciamento militar, que se inicia com o golpe de 1.º
de abril de 1964 vemos claramente a confirmação desta participação.
O
golpe foi patrocinado pelo imperialismo ianque dentro de seu plano de
completa subjugação da América Latina. Todos sabemos que o alvo
dos generais golpistas era o movimento popular que crescia em vigor e
massividade, especialmente no campo, particularmente no nordeste
brasileiro, através das Ligas Camponesas, onde se prenunciava um
levante armado de camponeses contra o latifúndio e o velho Estado.
O
golpe pisoteou a soberania nacional, violou os mais elementares
direitos democráticos, aumentou a exploração e opressão sobre as
massas trabalhadoras e perseguiu violenta e covardemente os
democratas, revolucionários e patriotas do país.
Mas
desde o primeiro momento os generais gorilas desencadearam a feroz
contra-revolução sobre a resistência popular. E nela estava um
grande número de mulheres, inclusive quando esta resistência
adquiriu sua forma mais radical que é a luta armada. Centenas de
mulheres pegaram em armas e arcaram heroicamente com as conseqüências
de sua decisão:
Iara
Iavelberg e Sônia Stuart dentre várias na guerrilha urbana; Áurea
Elisa Valadão, Dinaelza Soares Santana Coqueiro, Dinalva Conceição
Oliveira Teixeira, Helenira Rezende de Souza Nazareth, Jana Moroni
Barroso, Lúcia Maria de Souza, Luíza Augusta Garlippe, Maria Célia
Corrêa, Maria Lúcia Petit da Silva, Suely Yomico Kamaiana, Telma
Regina Cordeiro Corrêa, Walkíria Afonso Costa, – guerrilheiras do
Araguaia, que escreveram páginas de heroísmo e bravura na defesa
dos interesses do povo e da nação. Assim como seus companheiros,
essas combatentes, juntamente com incontáveis mulheres anônimas do
nosso povo, derramaram seu sangue, enfrentaram as balas e a tortura
dos esbirros do imperialismo, da grande burguesia e do latifúndio.
Seus nomes estão inscritos na história de nosso povo e reclamam o
mais elevado reconhecimento.
Ao
mesmo tempo, na luta popular nas cidades e no campo, centenas de
mulheres foram presas, torturadas e assassinadas, assim como seus
companheiros e é importante destacar neste período que as denúncias
das torturas, assassinatos e desaparecimentos de revolucionários,
democratas e patriotas combatentes, desembocaram na criação do
Movimento Feminino
pela Anistia,
movimento político que apesar de seu caráter reformista burguês,
atraiu mulheres para a atividade política em defesa da vida e da
libertação dos presos políticos e desaparecidos do regime militar.
Incorporação massiva de mulheres no processo produtivo e na luta popular de resistência
A
participação ativa das mulheres em toda época histórica da luta
de classes contra a exploração e a opressão em todo mundo nunca
recebeu o devido reconhecimento em conseqüência da opressão e
desvalorização da mulher, marcas da sociedade patriarcal que se
inicia com o escravismo e subsiste até os dias atuais. É por esta
razão que apesar da participação da mulher na base dos movimentos
sociais ser relativamente grande e em determinados momentos mesmo
decisiva, o mesmo não se observa na ocupação dos postos de
liderança.
Para
entendermos porque isto ocorre é importante compreendermos como se
dá o processo de incorporação das mulheres na produção nas
sociedades de classes baseadas na exploração. Na sociedade
capitalista o aumento da participação da mulher no processo
produtivo não ocorreu como uma reivindicação das mulheres e sim
como uma medida para o aumento da exploração da classe operária
pelo capitalismo. Analisando o trabalho feminino e infantil o grande
Karl Marx afirma: “O
maquinário ao tornar inútil a força do músculo, permite empregar
operários sem força muscular ou sem um desenvolvimento físico
completo que possuam, em troca, uma grande flexibilidade de seus
membros. O trabalho da mulher e da criança foi, portanto, o primeiro
grito da aplicação capitalista do maquinário. Deste modo, aquele
instrumento gigantesco criado para eliminar trabalho e operários se
converteu imediatamente em meio de multiplicação do número de
assalariados, colocando todos os indivíduos da família operária,
sem distinção de idade nem sexo, sob a dependência imediata do
capital. Os
trabalhos forçados a serviço do capitalista vieram invadir e
usurpar, não só o lugar reservado aos jogos infantis, como também
o posto de trabalho livre dentro da esfera doméstica e romper com as
barreiras morais, invadindo a órbita reservada, inclusive ao próprio
lar.
O
valor da força de trabalho não se determina mais pelo tempo de
trabalho necessário para o sustento do operário adulto individual,
mas pelo tempo de trabalho indispensável para a manutenção da
família operária. O maquinário ao lançar no mercado de trabalho
todos os indivíduos da família operária, distribuiu entre toda a
sua família o valor da força de trabalho de seu chefe. O que fez,
portanto, foi desprezar a força de trabalho do individuo... Como se
vê, o maquinário amplia desde o primeiro momento, não só o
material humano de exploração, a verdadeira lavra do capital, como
também seu grau de exploração.”
Marx
prossegue descrevendo como o capitalismo utiliza, em sua voraz
ganância, as virtudes femininas e suas obrigações para com a
família: “Sr. E.,
fabricante, me informou que em seus teares mecânicos empregava
exclusivamente mulheres, dando preferência às casadas e sobretudo
às que tinham em casa uma família que vivia ou dependia de seu
salário, pois estas eram muito mais ativas e zelosas que as mulheres
solteiras; sendo assim, a necessidade de procurar o sustento de sua
família as obrigava a trabalhar com mais afinco. Deste modo, as
virtudes características das mulheres reverteram em seu prejuízo:
toda a pureza e doçura de seu caráter se converteram em instrumento
de tortura e escravidão.”2
Esta
explanação magistral de Marx nos mostra como é vulgar a tese da
libertação da mulher preconizada pelo oportunismo e pelo feminismo
burguês como possível dentro do sistema de exploração
capitalista, ainda mais em sua fase imperialista e para todas as
mulheres independente de classe como veremos no segundo ponto.
Exemplo atual da continuação desta forma de exploração é a
decisão dos empresários de transporte coletivo em Belo Horizonte,
Minas Gerais, de empregar mulheres como motoristas porque “elas
trabalham melhor”. Isto não quer dizer, de forma alguma, que os
empresários mineiros decidiram abrir o espaço às mulheres e sim
que eles querem se aproveitar da situação de maior dificuldade da
mulher em encontrar emprego e, portanto, de que elas se submetem às
piores condições de trabalho e salário para garantir o sustento de
seus filhos. Portanto, quando o capitalista emprega mulheres é para
ganhar mais, explorando mais a força de trabalho de uma parcela das
classes
trabalhadoras.
O
capitalismo com a incorporação da mulher amplia ainda mais a
exploração de toda a classe operária, porém ao lado dessa
exploração cria as bases materiais para que a mulher lute por seus
direitos, o que é um ponto de partida na luta por sua emancipação.
Trabalhando na fábrica, no comércio, varrendo ruas, na faxina, nas
cantinas e nas salas de aulas das escolas, nos hospitais,
superexplorada pelo capitalista, a mulher participa das lutas de sua
classe começando, portanto a desenvolver sua consciência de classe,
alargando seus horizontes para muito além dos opressivos muros de
seu lar. O capitalismo moderno criou as máquinas e junto com elas o
proletariado. Só é possível colocar a grande indústria em
funcionamento com essa nova classe de trabalhadores altamente
organizados e disciplinados a custa de uma exploração e opressão
violentas. E ao fazer isso junta milhões de homens e mulheres que
passarão a se ver como uma classe capaz de produzir tudo e de
destruir a classe dos parasitas opressores. O capitalismo cria seus
próprios coveiros.
O
desenvolvimento do capitalismo burocrático no Brasil durante o
gerenciamento militar incorporou milhões de mulheres ao processo
produtivo, o que levou a um aumento da participação feminina na
luta sindical e nas greves operárias por todo o país do final da
década de 1960 até os anos 1980. A luta contra a carestia mobilizou
milhões de mulheres em todo o país, ampliando a denúncia sobre as
péssimas condições de vida e estimulando o povo a lutar por seus
mínimos direitos. Nas combativas manifestações estudantis sempre
houve forte presença das mulheres. Os professores, no seu setor mais
proletarizado que é o magistério público (ensino de primeiro e
segundo graus)
em sua esmagadora maioria composto de mulheres, realizaram greves
históricas por todo o país. O crescimento do descontentamento
popular manifestou-se em grandes lutas em torno dos problemas de
saúde e transporte, onde as massas populares – e aí estavam as
mulheres do nosso povo - agiram com violência quebrando os ônibus
que só chegavam aos pontos depois do horário nos bairros
proletários e também quebrando postos do antigo INPS que não
atendiam às mais mínimas necessidades de saúde do povo. No campo
destacaram-se também as mulheres no processo de revigoramento da
luta camponesa contra o latifúndio. Em todos esses setores foi forte
a participação das mulheres na luta contra a supressão de direitos
democráticos, exigindo o fim do gerenciamento militar.
Essa
maior participação das mulheres tem como base principal,
entretanto, não uma consciência de classe desenvolvida e sim muito
mais o sentimento represado pelo acúmulo da opressão. Daí que o
lema “Despertar a fúria revolucionária da mulher” será adotado
pelo movimento feminino revolucionário, que no Brasil será criado
em 1995.
A
inexistência de uma direção revolucionária conseqüente no Brasil
fez com que a transição do gerenciamento militar para o
gerenciamento civil (década de 1980), não representasse nenhuma
mudança de qualidade em relação às condições de vida do povo e
à dominação imperialista sobre o País. A combatividade das massas
expressa em tais lutas não ultrapassou os limites da luta espontânea
sendo canalizada para o jogo eleitoreiro, o que fica claro hoje
quando o oportunismo encontra-se no núcleo da gerência do velho
Estado reacionário.
Hegemonia
do revisionismo e do oportunismo no movimento feminino
No
período final do regime militar surgem as organizações “sexistas”
As
contradições no processo revolucionário no Brasil levaram
fatalmente à hegemonia do revisionismo e do oportunismo também no
movimento feminino que passará por longo período de profundos
desvios ideológicos e de estancamento. Só no final da década de
1970 e nos anos de 1980, voltou a organizar-se como movimento de
massas, hegemonizado, entretanto, por posições pequeno-burguesas
que trazem da Europa, com a volta dos exilados, a posição do
feminismo de “esquerda”, que nega a luta das mulheres inserida na
luta de classes e coloca a questão de gênero como exclusiva. Ou
seja, essas organizações “sexistas”, sustentadas na velha tese
burguesa de “libertação de todas as mulheres”, criam entidades
que defendem e praticam a “união de todas as mulheres para atingir
a libertação vencendo a discriminação de gênero”.
Diversas
vertentes desta posição se organizaram no país nas mais variadas
formas, associações femininas, clubes de mães, uniões de
mulheres, movimento popular da mulher, centros femininos, grupos e
círculos de estudos de gênero e pesquisa sobre a mulher. Mais
direitistas ou mais esquerdistas, todas elas, do final da década de
1980 até nossos dias, canalizaram suas ações para o cretinismo
parlamentar, fazendo coro com o feminismo burguês mais reacionário,
repetindo a cantilena de que a grande luta da mulher é “ocupar
espaços democráticos”. Proliferam assim às pencas tais tipos de
organizações com amplo financiamento de ONGs estrangeiras.
Dirigidas e controladas pela “esquerda” eleitoreira estas
entidades e organizações se acham atoladas no pântano do
oportunismo e do reformismo que atuam no sentido de corporativizar as
mulheres (isolar a luta das mulheres da luta das classes exploradas
em nome de contrapor a luta da mulher aos homens).
Este
isolamento serviu aos interesses do velho Estado
burguês-latifundiário e ao imperialismo, permitindo a implementação
de políticas de controle da população feminina pelos ianques, como
por exemplo as campanhas de controle de natalidade implementadas na
América Latina pela BENFAM (Sociedade Civil de Bem Estar Familiar no
Brasil)3
e pelo CPAIMC (Centro de Pesquisas de Assistência Integrada à
Mulher e à Criança)4.
As políticas imperialistas para a mulher, particularmente do
Terceiro Mundo, são incrementadas de maneira mais direta a partir de
meados da década de 1970, com a instituição da Década da Mulher
(75/85) promovida pela ONU, que patrocinou a ida de todas essas
entidades a seus encontros internacionais de discussão de programas
voltados para a mulher. Todas essas políticas são encampadas pelo
feminismo sexista e pela direita organizada institucionalmente (nos
órgãos de governo).
Órgãos de governo e ONGs imperialistas
As
teóricas de “esquerda” vão atuar dentro desses órgãos
governamentais numa descarada promiscuidade. Assim, as organizações
femininas controladas pelo PCdoB, PT, MR8, PSTU e etc., vão compor
organismos como os Conselhos Estaduais de Mulheres, Conselho Nacional
da Mulher (atual Secretaria Nacional da Mulher no governo Luiz
Inácio) e participar “em pé de igualdade”, com as “primeiras
damas” de encontros nacionais e internacionais controlados e a
serviço da política imperialista de corporativizar a luta da
mulher, de manter a miséria e a humilhação das massas com seus
projetos de distribuição de cestas básicas e programas de
distribuição de leite, de controle de natalidade (hoje Bolsa
Família, Bolsa Escola, Fome Zero, etc.).
Como
decorrência disto, ao lado dessas correntes feministas, vão
proliferar as ONGs financiadas pelas agências imperialistas como
USAID (Agência Estadunidense para o Desenvolvimento Internacional),
BIRD (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Banco Mundial,
Fundação Ford e muitas outras. Essas organizações comandadas
internamente no país pelo oportunismo, muitas delas dirigidas por
“intelectuais, teóricas feministas de renome”, cumprem o sujo
papel de facilitar a entrada em nosso país e na América Latina das
políticas imperialistas de controle das massas. Os programas
desenvolvidos por essas ONGs visam controlar a população pobre de
maneira geral principalmente através dos “programas de
planejamento familiar” e particularmente atuam na Amazônia, entre
a população indígena; no nordeste, entre os camponeses pobres e
nas favelas das grandes cidades.
Concepção nacional-reformista
Fora
da vertente do sexismo, porém atuando ao lado dele nas instituições
governamentais e na relação com organismos internacionais, surgiu
um movimento feminino que se desenvolveu politicamente para uma
concepção nacional-reformista (concepções do MR8 a partir da
década de 1980) e que se constituiu a partir de federações
estaduais numa confederação nacional de mulheres. Este movimento de
caráter burocrático, mesmo considerando a questão de classe,
afundou-se no reformismo colocando o movimento de mulheres para
sustentar bandeiras do oportunismo (como pacifismo) e para mendigar
reformas da burguesia, utilizando as massas de mulheres pobres como
meros apêndices do movimento democrático-burguês e como
instrumento para o tráfico com os interesses das massas pobres.
Decorrente
de uma situação em que o movimento operário e popular não se
desenvolveu plenamente, o movimento feminino também não se
desenvolveu com uma linha política e uma forma orgânica proletária,
embora os elementos para sua conformação se encontrassem presentes
na luta de classes.
II - A criação do Movimento Feminino Popular
Em
meio dessas lutas e diante da traição ao movimento social pelo
oportunismo, um grupo de companheiras rompe com o movimento feminino
reformista. Esse grupo levanta a bandeira de combater as posições
oportunistas e pequeno-burguesas e decide fundar o movimento feminino
popular revolucionário, advogando a concepção proletária para o
movimento de mulheres.
No
dia 8 de março de 1995, Dia Internacional da Mulher Proletária
reúnem centenas de companheiras para afirmar a posição
revolucionária de luta pela emancipação da mulher, afirmando que o
8 de março é o dia das mulheres proletárias e não de todas as
mulheres. Na solenidade realizada na atual sede da Liga Operária, em
Belo Horizonte-Minas Gerais, as companheiras homenagearam as mulheres
que participaram da luta revolucionária do período da resistência
ao regime militar no Brasil pós 64, entregando a antigas militantes
do movimento revolucionário um diploma de reconhecimento pela sua
participação na luta popular revolucionária, democrática e
antiimperialista.
No
dia 26 de maio de 1996, 50 companheiras proletárias de Belo
Horizonte, num movimento combativo invadiram o auditório do
Instituto de Educação onde se realizava um congresso da Federação
Mineira de Mulheres, organização dirigida pelo nacional-reformismo.
Cantando o Hino A Internacional, essas companheiras distribuíram um
manifesto, “VIVA A
LUTA DA MULHER PROLETÁRIA! A libertação da mulher só será
conquistada com a libertação de todo o povo”,
onde desmascaravam o feminismo burguês e conclamavam as mulheres do
povo a não aceitarem ser massa de manobra do oportunismo.
Afirmando
que a luta da mulher é a luta da sua classe, o manifesto chamava as
mulheres do povo ao combate revolucionário: “Para
que nossa luta vingue e seja vitoriosa, sabemos que é preciso
estarmos unidas, organizadas e resistindo. O sangue dos nossos,
derramado nos massacres, nos ensina e nos impele a seguir ainda mais
decididas. Mas não nos deixamos iludir com o palavrório pomposo de
tantos que tentam nos usar em seus discursos demagógicos,
eleitoreiros e oportunistas. Sabemos que a luta das camponesas pobres
não é a ação das mulheres dos fazendeiros latifundiários, como a
luta da operária, da empregada doméstica, da gari, não é a dos
seus patrões, sejam eles homens ou mulheres. Lutamos contra os que
nos oprimem, contra os que fazem as leis que garantem essa opressão,
contra os que comandam a repressão policial sobre o povo, sejam eles
homens ou mulheres. Essa história de que nós mulheres temos que nos
unir, separadas de nossos companheiros é um artifício para diluir o
caráter de classe da nossa luta, como sempre faz a burguesia. As que
nos convidam a essa aventura são as burguesas que pagam salário de
fome para as empregadas domésticas, são as que exploram a mão de
obra barata infantil, são as que eleitas fazem leis que beneficiam
as mulheres de sua classe, que seguirão a cadeia da exploração e
opressão de todo o povo. Nossa história é de resistência e
combate! Nossa vida, companheiras, é a resistência e o combate, até
o dia em que possamos virar o jogo e garantir todos os direitos de
todos os que trabalham e produzem com o suor de seu rosto.”
Esse
ato marcou o início do novo movimento feminino e, no mês de janeiro
de 2000, as bases teóricas e políticas foram sentadas para a
construção do Movimento Feminino Popular.
III - Principais lutas após a fundação do MFP
A
partir de sua constituição, o MFP contribuiu para ampliar a
participação das mulheres do povo nas lutas populares em várias
regiões do país, além de impulsionar a elevação da militância
de inúmeras companheiras em postos de direção principalmente no
movimento camponês, no movimento estudantil, no movimento de luta
por moradia, no movimento de professores (no movimento operário esse
desenvolvimento ainda não se observou). Ao mesmo tempo levou o
debate da importância da compreensão da questão feminina para
homens e mulheres nas diversas organizações de massas. Esse
crescimento ocorreu numa primeira fase da constituição do MFP e
teve um impacto muito grande no desenvolvimento e na massividade das
diversas organizações populares da luta popular revolucionária.
Lutas
contra o latifúndio:
1
- A Batalha de Santa Elina
A
região sul de Rondônia tem as melhores e mais sadias terras do
Estado. Grande parte delas improdutivas, era - e continua sendo a
melhor alternativa para as 40 mil famílias de camponeses pobres da
região. Já haviam ocorrido, nos anos 80 e início dos anos 90, as
tomadas vitoriosas de Verde Seringal, Vitória da União e Adriana.
Continuar enfrentando o latifúndio exigia coragem e combatividade. O
coronel do exército reformado Antenor Duarte cabeça do latifúndio
na região, com seus pistoleiros, espalhava o terror tentando
intimidar as massas e suas lideranças.
E
foi essa coragem e decisão que um grupo de companheiros demonstrou
quando iniciou a mobilização e organização de mais de 600
famílias para tomar um latifúndio, a fazenda Santa Elina, com 18
mil hectares, no Município de Corumbiara.
Ao
ser convidada para contribuir com a tomada, a direção do MST de
Rondônia não só se recusou como delatou ao governo estadual nomes
de companheiros que estariam encabeçando a mobilização. Já nesta
época o PT tinha fechado acordo com o PMDB e participava do governo
de Valdir Raupp. Esta traição foi a senha para que os
latifundiários planejassem, junto com o governo do Estado, o bárbaro
massacre que ocorreu a partir da madrugada do dia 9 de agosto de
1995. Resultado, 16 mortos, entre eles uma companheira não
identificada que foi carinhosamente batizada de Maria Bonita e uma
criança de 7 anos a menina Vanessa dos Santos Silva, 7
desaparecidos, mais de 600 companheiros e companheiras com graves
seqüelas resultantes da selvageria desencadeada pela polícia e
vários companheiros perseguidos. O número de vítimas só não foi
maior por que os camponeses organizaram a resistência com as armas
que tinham, paus, foices e espingardas de caça. Desta heróica
resistência em todas as fases (organização, mobilização, tomada,
resistência, prosseguimento da luta até os dias de hoje)
participaram e seguem ativas as mulheres camponesas com seus filhos,
maridos, irmãos, pais e companheiros.
O
massacre foi uma ação intencionalmente preparada, com planejamento
militar, com o objetivo de espalhar o terror entre as famílias de
camponeses e assim paralisar as tomadas de terras dos latifúndios em
Rondônia e no país. No entanto, ao contrário do que se esperava, a
repressão sangrenta gerou uma enorme solidariedade e fez explodir o
ódio das massas, levantando uma onda de novas tomadas em todo o
Brasil.
Os
oportunistas e conciliadores da direção do MST em Rondônia foram
completamente desmascarados e os companheiros que lideraram aquela
luta passaram a ter a responsabilidade de dar prosseguimento à luta
contra o latifúndio no Estado, honrando o generoso sangue daqueles
companheiros que tombaram na luta pela terra, demarcando dois campos
no movimento camponês brasileiro, o do oportunismo e burguesia com
sua “reforma agrária” a conta-gotas e o caminho revolucionário
de destruição de todo o latifúndio.
Em
2001 foi fundado o CODEVISE (Comitê de Defesa das Vítimas de Santa
Elina) para lutar pela indenização e tratamento de saúde adequado
para as vítimas das barbaridades cometidas pelo latifúndio naquela
histórica tomada.
2
- Tomada da máquina patrol da prefeitura – Norte de Rondônia
Durante
uma campanha de perseguição ao movimento camponês combativo, com
participação da Polícia Federal e do Exército (realizando
operação ACISO – Ação “Cívico-Social”), a prefeitura do
município se negava a cumprir um compromisso assumido de patrolar
estradas de uma região que atendiam a centenas de famílias
camponesas, incluindo uma Escola Popular. Companheiros e companheiras
se mobilizaram então e tomaram de assalto uma máquina patrol da
prefeitura da cidade Vale do Anari e a retiveram por muitos dias para
realizar trabalho de reparo de estradas na região. E nem sob as
ameaças da repressão a massa devolveu a patrol, fazendo isso
somente depois de terminado o trabalho. Também se logrou obter o
óleo combustível para a máquina fazendo pressão sobre a
prefeitura de outra cidade da região.
Nesta
região, na área rural de Machadinho d’Oeste desenvolveu-se uma
experiência muito importante com a criação da Escola da Família
Camponesa. Os camponeses tomaram posse de prédios que seriam usados
como escritório num projeto de construção de uma barragem no rio
Machado que foram abandonados. Os prédios de madeira estavam em
perfeitas condições e eles instalaram ali sua escola. Os alunos
eram crianças e jovens filhos dos camponeses da região, que
aprendiam a ler, faziam o curso primário e secundário e recebiam
aulas de técnicas agrícolas. Durante 15 dias ficavam na escola e
depois passavam 15 dias em suas casas trabalhando com suas famílias.
Nesta escola funcionou uma granja que se tornou na principal fonte de
abastecimento de ovos do município de Machadinho. Também uma horta
coletiva que garantia o suprimento da alimentação de alunos e
professores, além do cultivo de plantas medicinais. Como parte do
programa da escola, desenvolveram-se atividades de formação
política de lideranças do movimento camponês que tiveram um papel
muito importante na construção da Liga dos Camponeses Pobres de
Rondônia.
Várias
companheiras do MFP passaram pela Escola da Família Camponesa como
alunas e professoras, muitas delas sendo alfabetizadas ali.
3
- A história de Jacinópolis – Noroeste de Rondônia
“O
povo começou a entrar na área em 1999, mas ganhou maior impulso a
partir de 2001. As pessoas atravessavam o rio Jaci de balsa. Os
latifundiários já haviam demarcado a área com picadas. Eram áreas
grandes. Logo que chegaram as famílias dividiram a terra em lotes de
21 alqueires, fazendo as linhas. Decidiram fundar por conta própria
o núcleo urbano de Jacinópolis e mediram as datas (lotes). Foi tudo
feito sem ajuda de nenhum político, tudo foi feito pelo povo. Como a
área tinha muita mata os madeireiros tinham grande interesse nela,
mas assim que o povo entrou ali proibiu as madeireiras de continuar a
tirar a madeira.
Começou
a ter combates entre camponeses e latifundiários e grandes
madeireiros. A madeireira Condor fez um massacre de 14 famílias em
Jacilândia (outro distrito). Mataram crianças, mulheres, pais de
família e jogaram seus corpos no rio. Nunca houve punição. As
famílias que estavam em Jacilândia não desistiram da luta e foram
para Jacinópolis. Os camponeses com o apoio da Liga dos Camponeses
Pobres se uniram mais ainda para a resistência. Fizeram mutirões,
abriram linhas. Outros pequenos madeireiros também ajudaram e
abriram estradas. Tudo que tem em Jacinópolis foi construído pelo
povo sem ajuda do governo.”
Hoje
eles contam com 12 pontos comerciais entre mercados e veterinárias,
3 hotéis, 2 açougues, 2 linhas de ônibus, e mais de 6 táxis. Já
estão estabilizados. O povo está em cima da terra, mas o Incra não
regulariza. Ainda existem enfrentamentos, porque apesar da área ser
da União, destinada a estabelecer as famílias camponesas, a justiça
decretou uma liminar de despejo para beneficiar os latifundiários
que não têm nada ali. Já são hoje 750 famílias (mais de 5 mil
pessoas), que produzem muita banana, arroz, milho, tendo três
máquinas cerealistas lotadas de produção. Tem muita roça. Ao todo
são 10 mil cabeças de gado, produção de leite e queijo, além de
criação de porcos e galinhas. No núcleo urbano de Jacinópolis tem
6 salas de aula e nas linhas tem 8 escolas.
Os
camponeses mobilizaram 600 pessoas para abrir 16 quilômetros de
estrada em apenas 4 dias de trabalho, finalizando a BR 421 que liga
Nova Mamoré a Ariquemes. Enquanto faziam essa obra, para impedir um
ataque da polícia, os camponeses derrubaram uma ponte que dava
acesso ao local. Assim que terminaram a estrada reconstruíram a
ponte de 100 metros de extensão sobre o rio Jaci, demonstrando o
poder da massa organizada.
4
- Cachoeirinha – Norte de Minas Gerais
Um
exemplo da saga histórica das mulheres camponesas é a luta de
dezenas de famílias de camponeses pobres do norte de Minas que lutam
há décadas pela posse de sua terra usurpada pelo latifúndio na
chamada fazenda Cachoeirinha. Após o golpe militar de 1964, muitas
famílias de posseiros foram expulsas das margens do rio Verde, no
município hoje chamado de Varzelândia. A ferocidade do latifúndio,
se abateu sobre aquelas famílias camponesas. As mulheres deram ali
mostras de sua capacidade de luta, embrenhando-se na mata com seus
filhos, participando de maneira ativa da resistência aos pistoleiros
e à polícia do latifúndio. Ali morreram dezenas de crianças,
vitimadas pelas terríveis condições a que foram submetidas as
dezenas de famílias camponesas. A morte de mais de 60 crianças não
esmagou essas bravas mulheres como queriam o latifúndio e a
repressão. Ao contrário, enfurecidas, elas decidiram vingar o
sangue de seus filhos e saíram por diversas fazendas ateando fogo
nos pastos dos latifundiários mostrando que a luta continuava.
As
camponesas pobres de Cachoeirinha, como tantas outras em nosso país,
jamais esmoreceram e foram, mais uma vez, um pilar da luta pelo
direito sagrado da terra para quem nela trabalha. Esta luta segue
combativa até nossos dias, com os descendentes dos bravos
combatentes da década de 60 tomando em maio de 2000, de maneira
vitoriosa o latifúndio de Cachoeirinha.
Tomadas
de terra na cidade:
1
- Vila Corumbiara (24 de março 1996)
2
- Vila Bandeira Vermelha – (26 de abril de 1999- data do confronto)
As
tomadas de terrenos nas grandes cidades na luta popular por moradia,
têm demonstrado com exemplos heróicos a importância da
participação das mulheres:
As
companheiras de rosto tampado, com filhos nos braços e empunhando
foices e facões na cerca do acampamento da Vila Corumbiara (Belo
Horizonte - 1996), enfrentando sem esmorecer as duras condições de
um acampamento cercado e transformado em campo de concentração pela
polícia, a mando da prefeitura “popular” do PT e PCdoB.
As
mulheres combatentes da Vila Bandeira Vermelha (Betim, MG – 1999)
em heróica resistência enfrentando sem arredar pé da terra
conquistada o ataque genocida da polícia a mando do prefeito do PT,
Jésus Lima, que assassinou os companheiros Élder e Erionides.
Estas
são duas experiências onde as famílias dirigidas por organização
popular revolucionária participaram organizadamente da mobilização,
da tomada e da resistência e foram vitoriosas conquistando sua
moradia.
3
- Sonho Real – (2001-2005)
Outro
exemplo importante foi a tomada urbana Sonho Real em Goiânia. Cerca
de 3.000 famílias, em 2001, invadiram um terreno e iniciaram a
construção de suas casas. Foi uma ocupação espontânea, sem uma
direção revolucionária que levou as famílias a confiar nas
promessas de todos os candidatos a prefeito que nos comícios
realizados na região (2004) garantiram solenemente “que se eleitos
lhes dariam o título de posse”. No ano seguinte, em 2005, numa
ação articulada entre o governo federal (PT), governo estadual
(PSDB) e prefeitura de Goiânia (PMDB), foi realizada uma verdadeira
operação de guerra para expulsão das famílias ali instaladas há
4 anos.
A
polícia montou uma das maiores operações já realizadas em Goiás,
nos últimos tempos. Foram gastos R$ 1,5 milhão, o efetivo policial
chegou a 2.500 homens, incluindo a PM-GO, a ROTAM, o Choque e o GATE,
o Hospital de Urgências de Goiânia, policiais civis, inclusive
disfarçados, e até o Exército.
A
polícia cercou a área num raio de 3 quilômetros, ninguém saía e
ninguém entrava. Até o espaço aéreo foi bloqueado. Ninguém
deveria ter acesso ao massacre. A ação da polícia foi rápida.
Oitocentas pessoas foram presas e levadas ao 7° BPM, inclusive
estudantes que estavam no local no momento da operação e prestavam
apoio à população. Outros foram levados a um ginásio estadual de
esportes e, depois, várias pessoas desapareceram.
As
famílias, com muitas mulheres à frente, resistiram com bravura,
vários companheiros foram assassinados no confronto (oficialmente o
Estado só reconheceu duas mortes, mas existem vários
desaparecidos), mas não conseguiram ficar na terra.
Esta
derrota do movimento popular é o alto preço que as massas pagam no
caminho da conformação de organizações populares revolucionárias
que não se deixam enganar pelo oportunismo e demagogia eleitoreira.
Lutas
dos vendedores ambulantes:
O
altíssimo nível de desemprego no País tem colocado para milhões
de brasileiros o comércio ambulante nas cidades como única opção
de sobrevivência. E aí está um enorme número de mulheres, muitas
delas chefes de família, que enfrentam fiscais, guardas municipais,
polícia para garantir o direito a trabalhar. Organizações de luta
dos trabalhadores ambulantes têm se estruturado em todo o país. A
resistência contra a violência da polícia e do governo tem
crescido e certamente grandes batalhas de rua serão travadas para a
garantia do direito ao trabalho nos grandes centros urbanos.
Registramos
aqui nossa homenagem à companheira Rita de Cássia, líder dos
trabalhadores ambulantes no Rio de Janeiro, símbolo do heroísmo das
massas, que participou corajosamente de inúmeros confrontos com a
repressão e foi barbaramente assassinada em 1999 pela PM que molhou
seu corpo com álcool e ateou fogo.
Lutas
estudantis:
1
- Luta pelo passe-livre
Histórica
bandeira do movimento estudantil no Brasil, condição fundamental
para que milhões de estudantes possam freqüentar as escolas longe
de suas casas.
Belo
Horizonte, Florianópolis, Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro,
Goiânia, Uberlândia, Maceió, Recife, foram palco de massivas e
combativas manifestações contra o aumento do preço das passagens,
pela manutenção do passe e pela implantação onde não existe.
Nestas manifestações, as companheiras estudantes sempre tiveram uma
elevada participação, enfrentando com coragem o aparato policial.
A
radicalidade e a extensão da luta em Florianópolis (Santa Catarina)
em abril de 2004, quando os estudantes mantiveram-se mobilizados por
vários dias enfrentando a repressão, recebendo amplo apoio da
população até conquistar a vitória, mostra que é por esse
caminho que a luta pelo passe-livre estudantil prosseguirá em todo o
País.
2
- A luta dos estudantes de Pedagogia
O
curso de Pedagogia dentre os vários cursos superiores é o que tem
maior percentual de participação feminina. Aí são formados os
responsáveis pela direção pedagógica das escolas de primeiro e
segundo graus do país. Os estudantes de Pedagogia têm a tradição
de realizar encontros nacionais massivos anuais. O Movimento
Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) vem tendo destacada
participação nestes encontros impulsionando a luta contra o
oportunismo e para derrotar a contra-reforma universitária do Banco
Mundial imposta às universidades brasileiras pelo governo FMI-Lula.
No ano de 2005 vigorosas manifestações comandadas por companheiras
estudantes, muitas delas militantes do MFP, ocuparam ruas e
faculdades contra a resolução do Ministério da Educação que
pretendia acabar com a profissão de pedagogo. Estas têm sido lutas
fundamentais para a defesa da educação pública e gratuita para o
povo.
3
- Luta pela autonomia e democracia na universidade pública
Mobilizados
na denúncia contra fraudes ocorridas no processo de eleição para
reitor na Universidade Federal do Paraná, os estudantes, professores
e funcionários exigiam que não se anunciasse o resultado antes da
apuração das irregularidades. Apoiado pelo PT e PCdoB, UNE, o atual
reitor que concorria à reeleição não só se recusou a atender as
exigências da comunidade universitária como chamou a Polícia
Federal que, armada de fuzis invadiu o campus da Universidade para
reprimir o movimento. Indignados os estudantes denunciaram essa
atitude fascista do reitor que se recusou a tratar um assunto interno
da Universidade com estudantes, professores e funcionários e
transformou-o em caso de polícia. A invasão pela polícia de um
campus universitário, vista poucas vezes no Brasil mesmo na época
do gerenciamento militar, ocorre agora sob as ordens do PT e PCdoB.
Os estudantes, entre eles um grande número de companheiras
enfrentaram os homens da PF desafiando-os a usar as armas que
portavam, o que obrigou a retirada deles no final do primeiro dia.
Os
estudantes decidiram então tomar o prédio da reitoria em defesa da
democracia e da autonomia universitária. A ação para a tomada do
prédio exigiu audácia e combatividade dos estudantes, pois tiveram
de enfrentar um enorme contingente de seguranças particulares
armados que haviam sido contratados pelo reitor para substituir a
Polícia Federal.
Essa
ocupação teve uma forte repercussão política, granjeou forte
simpatia dos setores democráticos, isolou a reitoria e seus
apoiadores transformando-se num capítulo importante na luta pela
autonomia e democracia na universidade brasileira.
Luta
contra a guerra imperialista e em apoio à resistência iraquiana
No
dia 24 de março de 2003, pouco depois de iniciado o covarde ataque
ianque ao povo iraquiano, uma combativa manifestação do Movimento
Estudantil Popular Revolucionário em frente ao Consulado ianque no
Rio de Janeiro marcou o protesto contra a guerra imperialista e o
incondicional apoio à resistência popular iraquiana. Os estudantes
queimaram a bandeira do EUA e foram lançados coquetéis molotov no
prédio do Consulado. Em seguida saíram em passeata pelo centro do
Rio e populares que se juntaram à manifestação atacaram com pedras
bancos e uma lanchonete McDonald, símbolos do imperialismo ianque. A
polícia prendeu cinco estudantes, entre eles 3 companheiras, que
foram levados para presídios e processados. Ferida no confronto, uma
das companheiras presas, a estudante Bárbara Flores, por intervenção
direta da Embaixada ianque foi condenada a 2 anos de prisão, acusada
sem nenhuma prova de ter lançado os coquetéis molotov. Prossegue
até hoje campanha pela anulação dessa absurda condenação.
Em
Belo Horizonte, no dia 10 de abril de 2003, a Frente de Defesa dos
Direitos do Povo realizou uma manifestação antiimperialista, onde
foram pisoteadas e queimadas as bandeiras imperialistas do EUA e
Inglaterra, atacada uma agência do Citybank e jogado tinta vermelha
na lanchonete McDonald como símbolo do sangue derramado pelo povo
iraquiano na covarde agressão ianque. O MFP participou ativamente
desta manifestação, que foi reprimida pela polícia comandada por
uma tenente, tendo algumas companheiras travando luta corporal com
soldados da PM. A população no centro da cidade apoiou abertamente
os manifestantes aderindo ao protesto. Resultado do confronto: 3
companheiros presos sendo duas mulheres. Feridos: 1 trabalhador e 12
policiais.
Frente
Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo
Congresso
de fundação
Dia
27 de agosto de 2000, em Belo Horizonte, foi fundada a Frente de
Defesa dos Direitos do Povo uma organização política, que se
propõe a dirigir a luta classista e revolucionária na região
metropolitana de BH. No Congresso de fundação estavam presentes
mais de 350 delegados, representantes do Luta Popular pela Moradia
(LPM), Liga Operária e Camponesa (hoje Liga Operária e Ligas de
Camponeses Pobres), Frente Estudantil Rebelião (hoje Movimento
Estudantil Popular Revolucionário), Juventude Revolucionária
Popular (JRP), Movimento de Educação Popular (MEP) e Movimento
Feminino Popular (MFP), organizações que passaram a atuar de forma
coordenada pela Frente de Defesa dos Direitos do Povo.
Em
seu manifesto de fundação foram reafirmados os princípios que
norteiam a luta popular revolucionária: 1) A rebelião se justifica;
2) São as massas que fazem a história; 3) Combater implacavelmente
o oportunismo de maneira inseparável do combate ao imperialismo, à
grande burguesia e ao latifúndio; 4) A luta reivindicativa é
necessária mas o poder é o principal.
Neste
congresso participaram de forma destacada como delegadas 120
companheiras.
Marcha
contra a fome e a farsa das eleições
28
de setembro de 2000
Convocada
pela Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo, foi
realizada a Marcha Contra a Fome em Belo Horizonte. Sob a bandeira de
“Rebelar-se contra a fome e o desemprego!” e “Desmascarar e
boicotar a farsa eleitoral!” mais de 1500 operários, camponeses,
estudantes, professores, homens, mulheres, jovens e crianças, numa
combativa passeata tomaram as ruas da capital mineira.
Marcando
seu caráter antiimperialista, os manifestantes atearam fogo na
odiosa bandeira do EUA quando em seu trajeto passaram em frente ao
escritório de negócios ianques.
Realizada
na véspera das eleições de 2000, esta passeata foi a primeira
manifestação que defendia abertamente o boicote à farsa eleitoral.
Passando pelas principais avenidas da cidade os manifestantes eram
saudados de forma entusiasmada pela população que recebia os
panfletos distribuídos com imensa simpatia.
Grupos de Ajuda Mútua na cidade e no campo
Para
enfrentar a difícil situação de sobrevivência e por entender que
o principal para favorecer a participação da mulher na luta por sua
emancipação é elevar sua completa incorporação à produção,
têm sido desenvolvidas várias experiências de Grupos de Ajuda
Mútua.
Na
região metropolitana de Belo Horizonte, em áreas de tomada de
terras urbanas, grupo de confecção e venda de roupas e grupo de
fabricação de produtos de limpeza; em Goiânia grupo de reciclagem
de papel organizado por funcionárias da limpeza da Universidade
Federal.
No
campo troca de trabalho, mutirão, hortas e plantio de grãos em
áreas coletivas. São experiências muito importantes pois servem à
luta pela libertação das forças produtivas, principalmente no
campo, nas áreas tomadas do latifúndio, através da eliminação de
todas as relações de produção baseadas na exploração do homem
com a adoção de formas cooperadas.
Em
todos esses Grupos de Ajuda Mútua é elevada a participação
feminina, sendo que alguns deles são constituídos só por mulheres.
Escola Popular
A
organização de massas de novo tipo, que serve à luta
revolucionária em nosso país, se assenta em um tripé: 1) o
organismo de massas (no campo Liga dos Camponeses Pobres, MFP e na
cidade Liga Operária, LPM, MFP, MEPR, etc.), 2) a Escola Popular e
3) Comitê de Apoio (no campo) ou a Frente de Defesa de Direitos do
Povo (na cidade).
A
Escola Popular é criada e dirigida pelas organizações populares e
é independente do governo e do velho Estado. Serve à politização,
à alfabetização de adultos e crianças, à difusão da técnica e
da ciência. Só com a elevação do nível cultural e político das
massas é possível destruir esse sistema de exploração e opressão
e seu velho e podre Estado e construir o poder das massas
revolucionárias como Estado de Nova Democracia ininterrupta ao
socialismo.
Nas
diversas Escolas Populares que funcionam no campo e na cidade é
grande o número de mulheres como estudantes e professoras e já são
várias as militantes de nosso movimento que foram alfabetizadas e se
politizaram nas nossas escolas.
As
Escolas Populares têm sido também um importante instrumento para
que estudantes, professores e demais intelectuais se integrem à luta
popular praticando a consigna “Servir ao povo de todo o coração”.
Movimento de Educação Popular – MEP
Uma
das importantes bandeiras democráticas é a defesa intransigente da
educação pública e gratuita para todos. Enfrentamos esse velho e
decadente Estado de burgueses e latifundiários que tem adotado
políticas sistemáticas de destruição da escola pública: a
chamada escola plural (regime de aprovação automática),
sucateamento das escolas públicas (falta tudo: merenda, bibliotecas,
material didático, laboratórios, quadras de esportes, carteiras,
conservação dos prédios, etc); corte de verbas e privatização da
universidade pública; desvalorização e desestímulo aos
professores (baixos salários, carga excessiva de trabalho, etc.).
A
parcela mais numerosa, mais explorada e proletarizada do magistério
público são os professores de 1.º grau da escola pública. São
milhões em todo o país, trabalhando principalmente para
prefeituras e governos estaduais e na quase totalidade são mulheres.
O
Movimento pela Educação Popular foi fundado em 1998, é um apoio
importante para o desenvolvimento das escolas populares e trava uma
importante luta no plano sindical contra o governo e os oportunistas
do PT, PCdoB e CUT.
Socorro Popular
Organizado
em 1995 inicialmente para prestar apoio às famílias que foram
torturadas na Batalha de Santa Elina em Corumbiara – Rondônia. O
Socorro Popular é uma organização política revolucionária de
massas que se propõe a prestar a solidariedade aos militantes das
organizações populares e a seus familiares em relação às
perseguições, prisões, problemas de saúde, de sobrevivência,
etc. A época do imperialismo é a época do fascismo (aberto ou
sofisticado). O imperialismo e as classes reacionárias que o
sustentam – grande burguesia e os latifundiários – despejam e
despejarão seu ódio sem limite sobre as massas. O Socorro Popular
é uma arma dos revolucionários para denunciar os crimes políticos,
a violação dos direitos, as perseguições políticas,
transformando as medidas de terror da reação em mais isolamento do
velho Estado e fortalecimento do campo da revolução.
Na
atual fase de seu desenvolvimento o Socorro Popular tem mobilizado
médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e demais profissionais de
saúde, além de militantes das organizações populares que têm
contribuído atendendo a dezenas de camponeses e demais
trabalhadores. As organizações populares têm contribuído com
acomodações, recursos para passagens, alimentação e medicamentos.
Temos
muito que fazer para atingir os objetivos políticos do Socorro
Popular e as mulheres têm um papel fundamental para impulsionar esta
luta.
Luta por salário igual para trabalho igual e luta pela creche
A
operária, particularmente nos países semicoloniais como o Brasil,
não conquistou nenhum benefício social que lhe facilite a entrada
na produção, ao contrário, sua entrada foi forçada e representou
na verdade um aumento do número de pessoas a serem exploradas e um
aumento do grau da exploração.
A
diferenciação no salário da operária em relação a uma mesma
função exercida por um operário impôs a bandeira de “salário
igual para trabalho igual” que é levantada pela classe desde os
primórdios da entrada da mulher na produção.
Outra
bandeira fundamental é a luta pela creche e berçário nos locais de
trabalho, nos bairros populares e no campo.
O
MFP defende que nas áreas revolucionárias a creche deve se guiar
pela concepção geral de Escola Popular e cumpre duas funções
fundamentais: 1) é a garantia da incorporação da mulher à
produção, base material do desenvolvimento da consciência de
classe das massas de mulheres favorecendo sua entrada na luta
reivindicativa e sua conseqüente politização; 2) cumpre o papel de
desenvolver a construção de uma nova concepção de educação das
crianças, voltada para o desenvolvimento da consciência de classe,
do coletivismo e da organização das crianças proletárias e
camponesas que podem contribuir de diversas formas para a luta de sua
classe.
Uma
experiência importante de luta pela construção de creche para as
trabalhadoras está em desenvolvimento em Betim vanguardeada pelo
Sindicato dos Comerciários. A trabalhadora do comércio vive uma das
piores condições de trabalho, com jornada excessiva, obrigada a
trabalhar de domingo a domingo, causando-lhe graves problemas,
particularmente em relação aos filhos – ou ficam sozinhos em
casa, meninos pequenos cuidando de irmãos menores, ou ficam na rua
depois da aula, ou ficam em casas de familiares ou vizinhos. A
construção de uma creche em Betim que atenda aos filhos destas
trabalhadoras é uma conquista muitíssimo importante para a classe.
Frente de Trabalho Cultural
O
MFP se opõe radicalmente à ação nefasta dos monopólios
imperialistas de comunicação que atingem de maneira especial aos
jovens e de maneira ainda mais brutal à mulher jovem. É fundamental
que organizemos a mais ampla campanha de combate a esta podre
ideologia da burguesia e do latifúndio que servindo à ideologia
imperialista impõe sua “cultura” dos shoppings centers, do
consumismo como sendo o melhor dos mundos; que seguir à risca a moda
e todo o conjunto de atitudes degeneradas por ela propagandeadas é a
receita da felicidade; que difunde o individualismo, o racismo, o
salve-se quem puder como única alternativa. Lutamos por elevar a
compreensão de todas as mulheres e principalmente das jovens
estudantes, proletárias e camponesas sobre o quanto esta cultura as
atinge de maneira especial e destruidora: as músicas e danças da
“boquinha da garrafa” e os termos usados pelo funk para designar
as mulheres (cachorra, tchutchuca, preparada, potranca, mercenária,
popozuda, etc.) devem receber de nossa parte uma crítica implacável.
Para
isso é importante que levemos este debate para dentro de nossos
movimentos, mostrando particularmente para os jovens como essa
cultura é reacionária, como serve exclusivamente para esmagar e
desvalorizar a mulher. Interessa ao imperialismo que as mulheres
aceitem essa desvalorização e até pensem que estão sendo
“avançadas”, pois desta forma são tiradas da luta, alienadas e
aprisionadas no papel inferior e cruel de objeto sexual.
Em
Belo Horizonte o trabalho da Frente Cultural tem sido importante
nesta luta, difundindo as canções e hinos revolucionários,
inclusive com composições próprias e músicas populares de
diferentes regiões do país, se apresentando em todas as atividades
do movimento popular revolucionário. Essas apresentações têm tido
uma qualidade cada vez mais elevada e são recebidas e aclamadas
pelos operários, camponeses, jovens, estudantes e crianças.
Outra
atividade de grande importância que já foi desenvolvida pela Frente
Cultural é o teatro popular. Já foram realizadas dezenas de
apresentações e chegaram a produzir e encenar uma peça teatral
sobre a Revolução Agrária. As apresentações foram saudadas pelos
companheiros e companheiras de luta e apontam o caminho da produção
e valorização da arte popular e revolucionária.
Destaca-se
o trabalho de organização de coral de crianças em duas áreas
revolucionárias urbanas na região metropolitana de Belo Horizonte.
Este trabalho desperta um interesse muito grande nas crianças, um
apoio decidido de todas as mães e pais e tem colhido aplausos
emocionados em todas as apresentações que faz, pelo repertório e
pela simpatia e alegria dos participantes.
Várias
companheiras participam da Frente Cultural e esta iniciativa precisa
ser ainda mais apoiada e incentivada para superar dificuldades e para
que também se desenvolva em todo país.
Celebrações do Dia 8 de Março - Dia Internacional da Mulher Proletária
Desde
sua fundação, o MFP celebra o Dia 8 de Março como Dia
Internacional da Mulher Proletária. Foi com esse caráter que essa
data foi instituída na segunda Conferência de Mulheres Socialistas,
realizada em Copenhague, Dinamarca, em agosto de 1910. Clara Zetkin,
dirigente do Partido Social Democrata (Comunista) Alemão apresentou
a proposta de se definir um dia de luta das mulheres para todo o
movimento socialista internacional. As delegadas aprovaram a
organização de um dia internacional das mulheres, comemorado em
datas diferenciadas nos diversos países durante os primeiros anos
que se seguiram. Alguns anos mais tarde, no início de 1917, em
Petrogrado, então capital da Rússia, sacudida pela fome e pelas
dificuldades da guerra, uma grande mobilização de mulheres foi o
estopim para um processo de grandes mobilizações e greves. Era o
dia 8 de março, segundo o calendário ocidental. Após a Revolução
Bolchevique em outubro de 1917, unificou-se a data de 8 de março
para a celebração do Dia Internacional da Mulher Proletária.
A
historiografia ocidental oficial, nos anos de 1950 tentou suprimir
estas referências históricas excessivamente vinculadas ao movimento
comunista internacional, oferecendo o substitutivo do incêndio da
fábrica têxtil ou da manifestação das operárias em Nova Iorque
para justificar a celebração em 8 de março. Ocorre que os dois
acontecimentos no EUA ocorreram em dias diferentes: 25 de março e 27
de setembro respectivamente. Somente a manifestação na Rússia
ocorreu de fato na data de 8 de março de 1917.
O
Dia 8 de Março, portanto é o dia das mulheres que pelejam nos
campos e nas cidades, das que sofrem a infâmia da exploração e
opressão, das que derramam lágrimas de sangue mas não se dobram
nem se dobrarão jamais ao longo da história da humanidade. É o dia
das companheiras operárias, das companheiras desempregadas, das que
lutam pelo direito sagrado à terra para quem nela trabalha, das
comerciárias, das professoras, das trabalhadoras dos hospitais, das
garis, costureiras, cozinheiras, lavadeiras, empregadas domésticas,
trabalhadoras ambulantes, das estudantes e das intelectuais
comprometidas com a luta do povo.
O
8 de Março não é de maneira alguma o dia da confraternização das
mulheres de todas as classes, como querem as feministas burguesas. Os
monopólios de comunicação (tv, rádio, jornais, revistas)
escancaram suas portas em propagandas demagógicas e cínicas
celebrando a mulher empresária, a latifundiária, a deputada, a
patroa, a policial, as carrascas do povo. E dão publicidade aos atos
realizados pelo oportunismo exatamente porque essas organizações
pretendem juntar as mulheres das classes oprimidas com as mulheres
das classes opressoras e separar, no meio do proletariado e do
campesinato, a luta das mulheres da luta dos homens de sua classe.
As
celebrações do Movimento Feminino Popular em todo o Brasil –
passeatas, panfletagens, debates - têm a marca do proletariado: o
classismo, a combatividade, o internacionalismo e a firme decisão de
lutar, homens e mulheres, pela destruição do velho Estado e a
construção revolucionária do novo poder, o poder de Nova
Democracia caminho para a construção do socialismo em nosso país.
A agitação e a propaganda da concepção proletária
do
movimento feminino revolucionário para organizar o MFP
Nos
últimos 11 anos elaboramos e vamos aprimorando a concepção, a
linha de massas e o programa de lutas para um vigoroso e massivo
movimento feminino popular. Este é um movimento de mulheres
conscientes que necessita portanto de um número mínimo de
companheiras destemidas e decididas a impulsionar a luta pela
politização das mulheres do povo, a luta popular revolucionária e
a luta de defesa dos direitos femininos usurpados.
Nossa
principal dificuldade tem sido garantir a formação desse
contingente de lideranças femininas em condições de estruturar e
fazer crescer o movimento feminino. Constituindo um núcleo dirigente
politizado e com elevada consciência que seja capaz de multiplicar a
organização revolucionária das mulheres em centenas de núcleos de
base no campo e na cidade.
Essa
formação se faz com um intenso trabalho de propaganda através de
materiais especiais, debates, seminários, assembléias, congressos e
principalmente com a implementação de escolas populares. As
mulheres necessitam elevar seu nível cultural e apropriar-se do
conhecimento científico sobre as causas da sua opressão e a forma
de sua superação; sobre a história da luta das mulheres por sua
emancipação no Brasil e em todo o mundo; sobre a luta popular
revolucionária em nosso país e no plano internacional; sobre a
Revolução Agrária e o caminho da revolução socialista que em
nosso país é a Revolução de Nova Democracia; sobre as artes e as
ciências em geral. Esta é uma necessidade de todo o povo, mas as
mulheres precisam desta formação de maneira mais intensa na luta
por superar as desigualdades historicamente acumuladas entre mulheres
e homens.
A
organização de Escola Popular no MFP é o instrumento mais avançado
para realizar esta propaganda pois permite um estudo concentrado
garantindo uma assimilação mais elevada da nossa concepção. Não
garantir a continuidade e multiplicação desta experiência de
Escola Popular sintetiza as nossas principais dificuldades.
IV - Da fundação do MFP aos dias de hoje: 11 anos sob a nova bandeira
O
Programa do MFP
A mulher tem uma quarta montanha para derrubar
Os
povos dos países semicoloniais e semifeudais, de desenvolvimento
capitalista atrasado, como é o caso do Brasil, têm de derrubar três
montanhas para conquistar o poder e iniciar a construção de uma
sociedade justa e igualitária. São elas: 1)
A semifeudalidade no
campo, representada pela existência do latifúndio, terras imensas
nas mãos de pouquíssimos “donos”, ao lado de uma miséria
brutal de milhões de camponeses sem terra ou com muito pouca terra
para trabalhar. 2)
O capitalismo
burocrático,
representado pela grande burguesia, proprietária das fábricas e
empresas, organizadas em monopólios que exploram e oprimem milhões
de homens, mulheres e crianças. 3)
O imperialismo, que
no caso do Brasil é principalmente imperialismo norte-americano
(ianque), que domina e submete o país através das classes serviçais
reacionárias e opressoras (grande burguesia e latifundiários), que
conformam o velho e podre Estado e submetem o nosso povo e país aos
interesses dos monopólios imperialistas.
Nós
mulheres temos uma quarta montanha para derrubar: 4)
A opressão sexual,
representada na forma de organização da família na sociedade de
classes. Ou seja, na sociedade de classes a família individual, como
uma unidade econômica do sistema, em nosso caso a família camponesa
e a família operária, é uma eficiente forma de exploração das
classes oprimidas.
O
latifundiário e o capitalista exploram a mulher de seus empregados
de duas formas, através da força de trabalho direta no campo ou na
fábrica e no próprio lar, onde são elas que cuidam de tudo que é
necessário para repor a força de trabalho necessária no dia
seguinte para seguir a exploração: a mulher lava, passa, cozinha,
cuida dos filhos, tendo ou não exercido uma jornada de trabalho,
executando uma função extenuante e invisível.
Mas
é um trabalho imprescindível para o próprio desenvolvimento do
sistema capitalista. Mesmo que os capitalistas não explorem
diretamente o trabalho doméstico da mulher, eles o exploram
indiretamente, já que graças a todas as atividades e serviços
realizados por ela no lar, pode-se liberar e usar toda a força de
trabalho dos homens no processo produtivo. Se esse trabalho não
fosse feito pela mulher só restariam duas opções: 1) reduzir
sensivelmente as horas de trabalho dos homens para que eles pudessem
realizar estas atividades ou 2) implantar toda uma série de serviços
sociais coletivos (creches, lavanderias, restaurantes, etc.) para
suprir os trabalhos domésticos e liberar a mulher desta pesada
carga. No primeiro caso, a mais-valia arrancada do operário ficaria
bastante reduzida; no segundo, seria necessário elevar o salário
dos trabalhadores para que ele pudesse custear estes serviços, ou o
próprio capitalista teria que pagá-los de seu próprio bolso. Nos
dois casos o resultado é o mesmo: extrai-se uma menor mais-valia e
em conseqüência uma menor taxa de lucro.
Esta
exploração ocorre sem que a maioria das mulheres se dê conta. E as
classes exploradoras o fazem com muita eficiência usando para
alcançar seus objetivos a disseminação de sua apodrecida ideologia
da “natureza feminina deficitária”. Os monopólios de
comunicação, a religião, a escola, ensinam que “o lugar da
mulher é na cozinha”, que ela é a “rainha do lar”, que não
deve se meter nos “assuntos dos homens”, etc.
Para
adormecer a revolta feminina contra uma situação que cada dia se
agrava mais as novelas ao fim do dia esforçam-se por aliená-las com
sonhos de um futuro cor-de-rosa e os personagens quase pulam fora da
tela para lhes dizer: “você é que é incapaz, se você comprar
essa roupa que estou usando, se você trair sua melhor amiga, se você
roubar o namorado de sua própria mãe, se você for uma pobre muito
bonita (dentro dos padrões burgueses, é claro!), pode conseguir o
príncipe encantado e aí está tudo resolvido.” Ou então outra
vertente de alienação: “é possível ser feliz depois desta
vida”, “padecer hoje, purgar pecados, ser feliz na vida eterna”.
E
para completar esse quadro essa ideologia reacionária usa os homens
das classes oprimidas, inculcando neles toda sorte de preconceitos,
mitos, “leis” terrenas e divinas para que eles cumpram o papel de
prender as mulheres a estas normas. Além do que toda a sociedade,
homens e mulheres estão formados sob a influência da concepção
chauvinista machista. Homens e mulheres são machistas. As mulheres,
vítimas do massacre ideológico da burguesia, educam seus filhos
reproduzindo essa ideologia, fortalecendo nas filhas os conceitos de
submissão e nos filhos os “direitos” do macho.
Para
derrubar as três montanhas que se colocam como obstáculo diante do
campesinato, do proletariado e do povo, precisamos da força da
mulher. E para contar com essa força é necessário que desde já se
inicie a derrubada desta quarta montanha, liberando a energia, a
fúria revolucionária das milhões de companheiras que estão
encerradas dentro de casa, num trabalho repetitivo, embrutecedor, que
as adoece e lhes apresenta sempre uma nuvem negra no horizonte.
A concepção marxista sobre o problema da opressão feminina
As
companheiras que se mobilizaram nas batalhas de
estudo-investigação-prática por restabelecer a justa concepção
sobre o movimento feminino revolucionário, sustentam que esta
concepção se fundamenta no marxismo, ideologia científica do
proletariado, que de uma forma geral consiste em:
1
- Origem da opressão feminina.
A
origem da opressão feminina tem como base o aparecimento da
propriedade privada, a conseqüente acentuação da divisão do
trabalho e divisão da sociedade em classes sociais antagônicas.
Na
etapa superior da barbárie, estágio que precede o surgimento da
civilização, o homem progride em seu domínio sobre a natureza,
desenvolve instrumentos de trabalho, desenvolve o pastoreio, a
agricultura e a produção de utensílios, obtendo com isto um
excedente na produção dos meios materiais de sua subsistência. Com
a obtenção do excedente, se desenvolverá mais a divisão do
trabalho, a troca. Surgirá a propriedade privada, a mercadoria e
apropriação da produção por uma parte da sociedade, dividindo-a
em classes proprietárias e classes expropriadas, classes
exploradoras e classes exploradas, um pequeno contingente que se
constitui em classe dominante e a grande maioria, os produtores, que
conformam a classe dominada.
É
importante ainda destacar que, com a divisão da sociedade em classes
sociais antagônicas surge a organização do Estado como instrumento
especial da classe dominante para exercer a repressão sobre a classe
dominada e assegurar através dela sua subjugação para a exploração
de seu trabalho.
O
caráter essencial da opressão feminina é de classe, da condição
de classe explorada e oprimida. Corresponde à divisão da sociedade
em classes sociais com o aparecimento da propriedade privada, a
passagem da constituição familiar baseada no matriarcado para o
patriarcado, com o sistema monogâmico de casamento, necessário para
solucionar o problema da herança. Como afirmou Engels “A
perda do direito materno foi a grande derrota histórica das
mulheres”.
Assentando a sociedade de classes na família monogâmica patriarcal
como unidade de produção, a mulher passou a plano secundário da
produção e da vida social de uma forma geral.
Ao
contrário de todo o período anterior, o da sociedade comunista
primitiva, onde prevalecera a família matriarcal, em que as mulheres
exerciam funções de maior importância na sociedade e gozavam de
privilégios, sob o patriarcado, na base de sua secundarização no
processo de produção, surgirão as mais aberrantes lendas sobre a
inferioridade da mulher, que serão seguidamente reproduzidas e
ampliadas ao longo dos milênios até as formas modernas de
preconceitos machistas e mitos dos dias de hoje.
Sendo
assim, a causa da opressão feminina tendo um caráter de classe,
manifesta-se de forma diferente sobre as mulheres, segundo sua classe
social. Isto quer dizer que sobre a mulher trabalhadora e explorada
pesa uma dupla opressão.
A
concepção proletária se afirma em contraposição e em luta contra
a concepção burguesa.
As
classes exploradoras criaram a pseudo-teoria da “natureza humana”
para negar a luta de classes, defendendo a existência de um ser
humano em geral que ultrapassa todo o desenvolvimento da sociedade de
classes em seus diversos estágios, sem mudar as condições
estabelecidas. Assim se criaram as “teorias” de que sempre houve
pobres e ricos, que a sociedade de classes é um destino da
humanidade e nada se pode fazer contra essa situação. Como variante
dessa “teoria”, idealista e reacionária, apresenta-se a tese da
“natureza feminina” acrescida ainda do adjetivo “deficitária”,
como o objetivo idêntico de afirmar que existe uma natureza feminina
em geral, eterna e imutável.
Esta
falsa teoria, sem qualquer sustentação científica acha-se na base
de todo o pensamento burguês sobre a mulher, negando-se portanto a
reconhecer o caráter de classe da opressão e dominação sobre a
mulher.
2
- O caminho da emancipação da mulher
Em
decorrência desse caráter de classes da opressão feminina, a
emancipação da mulher só pode se realizar de fato através da
emancipação de toda a sua classe, o proletariado e demais classes
exploradas e oprimidas.
Somente
a revolução social, a revolução proletária socialista que
derroca o capitalismo e constrói o socialismo pode conduzir à
emancipação da mulher e a mesma completar-se com o advento do
comunismo. Para obter a sua emancipação, as mulheres trabalhadoras
devem lutar lado a lado com seus irmãos de classe explorada pela
emancipação social, criando assim as bases materiais e subjetivas
para sua completa emancipação.
Na
sociedade socialista as massas de mulheres são integradas na
produção social, as atividades domésticas são industrializadas,
entre um conjunto de medidas que libertam objetivamente a mulher
trabalhadora da escravidão doméstica, além da plena igualdade
jurídica com o homem. Mas, somente com a passagem ao estágio
superior do socialismo, o comunismo, em que as classes sociais foram
abolidas, e a sociedade já é uma sociedade sem classes, aí sim a
emancipação feminina será completa.
Ao
contrário, portanto, de todas as concepções burguesas e
pequeno-burguesas sobre uma tal “libertação da mulher”, pela
via da luta e disputa com os homens por equiparar-se na sociedade,
por uma suposta igualdade de direitos debaixo da exploração e
opressão capitalistas, através da “união do sexo feminino”, ou
da suposta “sensibilidade especial” das mulheres, como advoga o
movimento pequeno-burguês atual, somente através da revolução
proletária a emancipação da mulher será realizada.
Só
com a emancipação da classe proletária conquistando o socialismo e
o comunismo terá fim toda opressão sobre a mulher. No caso do
Brasil, como corresponde o caminho da revolução socialista passa
pela revolução de Nova Democracia, a qual se desencadeia como
Revolução Agrária.
3
- Necessidade de uma organização especial das mulheres em sua luta
pela emancipação
É
necessário e imprescindível a construção de uma organização de
massas revolucionária de mulheres. Primeiro
é preciso destacar que sem a participação das mulheres exploradas
e oprimidas a luta revolucionária não pode desenvolver-se por
completo e menos ainda triunfar e consolidar.
Segundo,
se é lei da sociedade de que são as massas que fazem a história,
ou seja, são as massas que têm a força para realizar a revolução,
não se pode conceber tal processo somente com metade destas massas.
Terceiro,
que dado o acentuado grau de opressão sobre a mulher, dos mil e um
laços que a prendem à dominação, subjugação e submissão na
sociedade capitalista, as mulheres necessitam de um instrumento
próprio de organização. Para encorajar um número cada vez maior
de companheiras a lutar por seus direitos de classe pisoteados, para
arregimentar forças numa mesma base de opressão, irmãs que são
nesse sofrimento milenar, para impulsionar a participação e
politização de contingentes crescentes de mulheres nas mais
diferentes esferas da vida social e da luta de classes. Enfim, para
constituírem-se num verdadeiro batalhão organizado para os combates
de classes, em defesa dos direitos e pela revolução social.
Somente
impulsionando uma organização especial de mulheres poderão vencer
os obstáculos que as impedem, e de forma crescente, de desenvolver o
papel destacado como um poderoso contingente revolucionário
proletário e popular.
V – Formas de organização e métodos de luta
O
MFP se organiza junto às mulheres mais pobres, as mais oprimidas do
campo e da cidade com o objetivo de nos organizar e nos politizar,
conhecer os problemas do nosso povo e agir de maneira consciente na
sua solução.
No
campo, o MFP
soma-se às Ligas de Camponeses Pobres nas tomadas de terra e nos
acampamentos e aos Comitês de Apoio nas pequenas cidades (formados
por pequenos comerciantes, professores, estudantes, apoiadores da
luta camponesa). Desenvolvendo a aliança operário-camponesa para
levar a cabo a revolução agrária para a destruição de todo o
sistema latifundiário. Para favorecer a participação cada vez
maior das companheiras, buscamos impulsionar sua atuação no
processo de produção coletiva, através das várias formas de
cooperação; também na construção de escolas populares, onde as
mulheres se destacam como alunas e professoras, além de estimular
também a participação organizada das crianças.
Na
cidade, fazemos
parte da nos somamos aos demais movimentos populares revolucionários
e concentramos nosso trabalho nas periferias, nos bairros
proletários, vilas e favelas; na luta pela moradia; nas fábricas;
nas escolas e universidades. Também na cidade é fundamental
organizar grupos de ajuda mútua que são cooperativas de produção
de material de limpeza, de alimentação congelada e outros para
fazer frente ao desemprego. A construção de escolas populares de
adultos e crianças e as creches é outra importante frente de
trabalho que buscamos desenvolver.
O
MFP se estrutura em Núcleos que são organizados nos locais de
moradia, de trabalho e de estudo. Em cada região uma Coordenação
Geral dirige esses diversos núcleos.
O
desenvolvimento do nosso trabalho em várias regiões do país coloca
como necessidade a conformação de uma Coordenação Nacional do
MFP.
VI
– Conclusão
O
processo de luta pela emancipação da mulher brasileira é o
processo de luta da classe operária e de todo o povo brasileiro pela
sua libertação da exploração e libertação do Brasil da opressão
do imperialismo. Tanto é que os males de que tem padecido o
movimento operário e popular no país, debilitado pela hegemonia de
sucessivas direções oportunistas e reformistas impedindo-o de
atingir seus supremos objetivos de libertação, são os mesmos que
tem afetado o movimento de emancipação da mulher. E foi exatamente,
só com a ruptura com todo oportunismo no movimento operário e
popular que se propiciou o surgimento de um autêntico movimento
feminino revolucionário de caráter proletário expresso na
construção do MFP.
A
luta sem trégua contra todo oportunismo no movimento operário e
popular levou ao combate no movimento feminino às concepções
burguesas e pequeno-burguesas, velhas e novas e a todas as espécies
de variantes modernas nele presentes. A luta por florecer a concepção
proletária da emancipação da mulher tem sido uma dura luta dentro
de um prolongado período de derrotas estratégicas e à escala
mundial do proletariado e das massas populares. Por isto mesmo esta
luta não tem sido fácil. Por isto mesmo que o surgimento do MFP,
seu programa e sua luta tem um valor inestimável. O rompimento com
todo oportunismo e adoção da linha ideológica e política
proletárias no movimento operário e popular levou ao aparecimento
da mesma concepção no movimento feminino liberando-o das ervas
daninhas do feminismo burguês. Se foi com muita luta que esta grande
vitória foi alcançada não será com lutas menores que ela poderá
triunfar por completo.
Os
últimos dez anos, quando surgiu o movimento feminino revolucionário
tem sido um período de ofensiva geral da contra-revolução mundial
encabeçada pelo USA. Nestas condições os percalços pelos quais
tem passado todo o movimento revolucionário no país,
particularmente com o triunfo eleitoral do oportunismo, tem sido os
mesmos e até mais difíceis para o movimento feminino
revolucionário. Como afirmamos na introdução, agora que a
resistência dos povos cresce sem parar em todo mundo, provocado pela
agudização da própria ofensiva geral da contra-revolução, todo o
movimento revolucionário e dentro dele o Movimento Feminino Popular
tem tudo para saltar a novos patamares na sua edificação como um
instrumento estratégico para a aliança operário-camponesa e avanço
da revolução brasileira de nova democracia ininterrupta ao
socialismo.
O
grande desafio que temos diante de todas nós é o de contribuir para
o progresso geral de todo o movimento operário e popular
revolucionário. Para isto é preciso muito trabalho, estudo,
organização, enfim muita luta e mobilização das mulheres do povo.
Organizar boas escolas para a formação de dezenas e centenas de
companheiras na linha do MFP, para elevar sua compreensão da
concepção proletária, do nosso programa, do Programa Agrário e de
Defesa dos Direitos do Povo, do Programa da revolução de nova
democracia. Organizar atividades num plano encadeado para organização
da sustentação econômica através da Ajuda Mútua e outras
iniciativas. Organizar atividades para melhorar a assistência às
nossas crianças e jovens. Organizar a nossa participação nas lutas
reivindicativas, mas principalmente nas lutas políticas
revolucionárias de nosso povo contra a exploração, contra o
latifúndio, contra o imperialismo e toda a reação.
Elevar
bem alto num sem número de companheiras a compreensão de que se a
exploração da mulher é um aspecto do sistema geral de exploração
do homem pelo homem e que é esta exploração que cria as condições
de alienação da mulher reduzindo-a à passividade e à exclusão da
esfera de tomada de decisões na sociedade! De que se as contradições
antagônicas que existem são entre a mulher e a ordem social
exploradora e que estas contradições são as mesmas que opõe a
totalidade das massas exploradas do nosso país e do mundo às
classes exploradoras! Então somente a revolução é capaz de
resolver definitivamente esta contradição, porque só ela encarna
os interesses das massas exploradas, as mobiliza, organiza e une para
o combate, só ela é capaz de destruir a ordem social antiga. É a
revolução que instala no poder as massas exploradas e oprimidas
forçadas à passividade.
Por
isto é hora de nós mulheres agarrarmos com gana e decisão mais que
nunca a bandeira da luta revolucionária, segurá-la com firmeza e
mobilizar milhares e dezenas de milhares de companheiras de
infortúnio e desenvolver um espírito irrestrito de luta e de
vontade sem limites de lutar pela libertação de nosso povo
explorado e oprimido. Mobilizar, organizar, animar e lançar
centenas, milhares e dezenas de milhares de mulheres do povo na luta
revolucionária devem ser nossas ambições. Demonstrar tudo de que
somos capazes com a energia, a força e a intrepidez que temos
enfrentado as agruras, privações, humilhações e desrespeito ao
longo dos séculos e no nosso dia a dia. Criar uma onda irresistível
pela revolução. Provar como as mulheres mais simples do povo são
um furacão destinado a destruir e varrer para o inferno toda
opressão e sofrimento de nosso grandioso povo, tomar as primeiras
fileiras da luta combativa e revolucionária.
Conta-se
que durante a luta de libertação do povo vietnamita uma camponesa
guerrilheira foi presa e sob o martírio da tortura seus algozes que
dela nada conseguiam arrancar, perguntavam: Onde estão seus
camaradas? Quem é o seu marido? Onde estão seus filhos? Ao que a
valorosa guerrilheira respondia com o mutismo sem nunca vacilar. E
sob os suplícios morreu. Na parede de sua cela, os carrascos puderam
ler uma quadra que ela escrevera com o seu próprio sangue:
“Mulher
de faces rosadas, eis-me aqui com vocês homens,
Sobre
os meus ombros, pesa o ódio que nos é comum.
A
prisão é minha escola, os prisioneiros, os meus camaradas,
‘Espada’é
o nome de meu filho mais novo, ‘Fuzil’ o do meu marido.”
Despertar a fúria revolucionária da mulher!
Abaixo o imperialismo, a burguesia, o revisionismo e o feminismo burguês!
Viva a revolução democrática agrária e antiimperialista!
Viva a revolução agrária!
Construir um vigoroso e massivo movimento feminino revolucionário!
Viva o
MFP!
1
Revisionismo: Corrente oportunista no movimento operário
revolucionário, é hostil ao marxismo, porém se apresenta sob sua
bandeira. Recebeu seu nome por submeter à “revisão” a teoria
marxista, seu programa revolucionário, sua estratégia e sua
tática. O revisionismo apareceu a fins do século XIX quando o
marxismo havia obtido uma vitória completa sobre todas as
variedades do socialismo no seio do proletariado e se difundia cada
vez mais entre as massas operárias. Os principais representantes do
velho revisionismo (final do século XIX– começos do século XX)
foram os alemães Bernstein e Kautsky, os austríacos Victor Adler e
Otto Bauer, os socialistas de direita da França e outros. Na Rússia
houve os “economicistas”, mencheviques(minoria), e após a
revolução de Outubro (1917) o trotskismo (de Trotsky) e o
bukarinismo (de Bukarin). A essência do revisionismo consiste em
introduzir a ideologia burguesa no movimento operário, em adaptar o
marxismo aos interesses da burguesia, em extirpar dele o espírito
revolucionário. Os revisionistas, como afirmou Lenin, dedicam-se à
“castração burguesa” do marxismo em todas suas partes
componentes: filosofia, economia política e comunismo científico.
A base social do revisionismo formada pela pequena burguesia que se
vai incorporando à classe operária, assim como pela camada alta do
proletariado – a denominada aristocracia operária – sustentada
pelo imperialismo. Após ser desmascarado por completo por Lenin, o
revisionismo entrou em bancarrota e a revolução proletária
avançou. Stalin também desempenhou grande papel no combate aos
revisionistas, principalmente após a morte de Lenin levando a
revolução a outros países. Posteriormente, já na década de 1940
e 1950 o revisionismo começou a levantar a cabeça novamente com
Togliatti (do Partido Comunista da Itália) e Tito da Iugoslávia.
Mas o principal formulador do novo revisionismo foi Nikita Kruchev,
do Partido Comunista da União Soviética e que a partir do XX
Congresso do PCUS traiu o socialismo e iniciou a restauração
capitalista na URSS. Como o velho revisionismo o revisionismo
moderno nega a luta de classes, a ditadura do proletariado, o
partido revolucionário do proletariado e a violência
revolucionária.
2
O Capital, tomo I, páginas 323 e seguintes - Marx, Fundo de
Cultura Econômica, 1966.
3
A
BENFAM foi criada em novembro de 1965 como uma entidade privada sem
fins lucrativos, com sede no Rio de Janeiro, mas com intervenções
em quase todo o território nacional. Financiada por capital
internacional e filiada ao IPPF tinha como estratégia o treinamento
de profissionais de saúde para a prática do planejamento familiar
e a prestação direta de assistência exclusiva em ações
contraceptivas, através de suas unidades próprias ou conveniadas
com prefeituras, sindicatos, secretarias de saúde, universidades,
etc.
4
No caso do CPAIMC, o financiamento para as suas atividades no Brasil
provinha fundamentalmente das instituições vinculadas ao sistema
USAID através da Family Planning International Assistance (FPIA),
Pathfinder Foundation e outras. Sua estratégia, no entanto, foi
mais agressiva e eficaz na criação e consolidação de uma
ideologia contraceptiva intervencionista no meio médico. Para
tanto, financiou treinamentos de profissionais vinculados ao ensino
da medicina, da enfermagem e de outras áreas afins, além de
sustentar uma verdadeira rede de médicos que atuavam na realização
de esterilização cirúrgica por laparoscopia, doando o equipamento
e subsidiando as suas atividades. O CPAIMC foi ainda distribuidor de
material contraceptivo para diversas outras instituições
congêneres, usando de sua prerrogativa de isenção de impostos
para importação, em virtude de sua titulação como entidade de
utilidade pública, sem fins lucrativos. A ideologia imperialista e
fascista do controle da natalidade, largamente disseminada no
Terceiro Mundo, teve, no caso especial do Brasil, sua origem nos
interesses do EUA que vislumbram ameaças econômicas e políticas
na "explosão demográfica".
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