03/08/2023

Aumento de casos de dengue e Chikungunya estampam descaso do Velho Estado com a saúde do povo

As arboviroses são doenças causadas por vírus (arbovírus) transmitidos, principalmente, por mosquitos. As mais comuns são Dengue, Chikungunya e Zika transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti e Febre Amarela transmitida por mosquitos silvestres, principalmente Haemagogus leucocealenus. 
O mosquito Aedes aegypti, originário do Egito, vem se espalhando pelas regiões tropicais e subtropicais desde o século 16, período das grandes navegações e invasão dos colonizadores europeus dos territórios da América e da África. 
Relatos da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) mostram que a primeira epidemia de dengue no continente americano ocorreu no Peru, no início do século 19, com surtos no Caribe, Estados Unidos, Colômbia e Venezuela.
No Brasil, os primeiros relatos de dengue datam do final do século XIX, em Curitiba (PR), e do início do século XX, em Niterói (RJ). No início do século XX, o mosquito já era um grande problema, mas não por conta da dengue, na época, a principal preocupação era a transmissão da febre amarela.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a primeira ocorrência do vírus da dengue no país, documentada clínica e laboratorialmente, aconteceu em 1981-1982, em Boa Vista (RR), causada pelos vírus DENV-1 e DENV-4. Anos depois, em 1986, houve epidemias no Rio de Janeiro e em algumas capitais do Nordeste. Devido à existência de 4 sorotipos diferentes do vírus, uma mesma pessoa pode pegar dengue por quatro vezes, o problema é que ter um segundo ou terceiro quadro da doença só aumenta os riscos de desenvolver as formas mais graves. Desde então, a dengue vem ocorrendo no Brasil de forma continuada, sendo considerada importante problema de saúde pública. Já o vírus da Chikungunya chegou no continente americano em 2013, e em 2014 foram confirmados os primeiros casos da doença. 
 
2022 recorde de casos  
O Brasil registrou 1.106 mortes por dengue em 2022, o maior da série histórica. Anteriormente, as maiores epidemias de dengue foram em 2015, o pior ano até então, com 986 óbitos, em 2016 com 701 óbitos e em 2019 com 840. Já em 2023 o número de casos de Dengue e Chikungunya notificados no Brasil já superam o limite esperado considerando a série histórica, caracterizando situação de epidemia; até março deste ano já foram confirmados 117 óbitos e mais de 400.000 casos prováveis para dengue, um aumento de 53% em relação ao mesmo período de 2022. Em relação a Chikungunya, foram confirmados 6 óbitos e mais de 53.000 casos prováveis, um aumento de 98% em relação ao mesmo período em 2022. Para zika, doença com menor taxa de incidência, sem registro de óbito, com cerca de 1.600 casos prováveis, representa um aumento de 124% do número de casos em relação ao mesmo período de 2022. 
Com bases nos dados históricos, desde seu aparecimento, as arboviroses, principalmente a Dengue, tem sido um problema grave de saúde pública, que só piora com o passar dos anos. 
A disparada no aumento de casos é um fenômeno diretamente relacionado a pobreza, ao aumento de pessoas vivendo em situações precárias, com ausência de saneamento básico e coleta de lixo, ao acúmulo de materiais recicláveis como forma de renda devido ao desemprego, à construções de casas precárias que acumulam água que, nos períodos chuvosos, tem contribuído para maior circulação dos mosquitos. 
São doenças sazonais em que se poderia planejar ações preventivas bem como estruturar melhor os serviços de saúde para atendimento a população. Embora acometa a todos, tem riscos maiores para quem vive em condições precárias, são os pobres quem mais sofrem com as arboviroses pois o sistema público de saúde no Brasil além de nunca ter oferecido uma cobertura total a população com qualidade, tem sido extremamente afetado pelos cortes de gastos públicos que o imperialismo demanda aos países subjugados para continuar pagando os escorchantes juros da dívida pública. 
Mesmo diante da previsibilidade de ocorrência dos casos, até algumas medidas que foram implantadas no início da epidemia nos anos de 1980 foram abandonadas como as visitas periódicas de agente de endemias com vistas a inspecionar e utilizar venenos em fontes de criação de mosquitos. Contrariando a propaganda dos governos federal e estaduais que dizem combater e promover ações para minimizar a situação de epidemia, de forma geral não há investimentos em ações eficazes como os fumacês, principalmente após a pandemia da COVID-19, em que ações desse tipo foram praticamente paralisadas. 
 
Doenças negligenciadas 
O controle de epidemias transmitido por mosquitos em países imperialistas teve um razoável êxito quando medidas de saneamento em grande escala foram implementadas. Até o início do século XX havia malária na Europa que foi controlada por obras públicas, antes mesmo que o veneno específico fosse sintetizado. Mesmo no Brasil, durante os anos de 1940 e 1950 foras interrompidas a transmissão de febre amarela urbana e malária em quase toda a região Sudeste e Sul. Havia o interesse econômico de fazê-lo numa situação em que o tratamento tinha menos impacto sobre as doenças e os riscos atingiam também as classes dominantes. Com as arboviroses, a letalidade (risco de mortes) é menor para quem tem acesso a medicamentos, UTI e vive em bairros com boa infraestrutura. O risco é, portanto, maior para os pobres, especialmente para quem vive no campo ou em favelas e periferias. Esses são descartáveis para o Estado de grandes burgueses e latifundiários serviçais ao imperialismo, principalmente ianque e as doenças que os acomete são sistematicamente negligenciadas. 
 
Contribuições do Socialismo 
Nos países que tiveram experiências socialistas, essas epidemias foram quase erradicadas e o sistema de saúde, pública, acessível a todos, garantiu oportunidades de tratamento a quem era acometido. Na China socialista, numa situação de parcos recursos do Estado, mobilizou-se as massas para enfrentar doenças endêmicas que acometiam um grande contingente de pessoas. Grande exemplo disso foi o controle da esquistossomose mansônica, para o qual teria que se fazer o tratamento sanitário em grande escala das áreas alagadas onde se plantava arroz, obra cara e difícil. O que fez o Estado para proteger os camponeses que trabalhavam nesses alagadiços? Mobilizou as massas para encontrarem e matarem o caramujo, no que foi plenamente atendido e o problema resolvido. Nas áreas urbanas densas, como nas favelas, também se pode mobilizar as massas para acabar com fontes de águas estagnadas como lajes, por exemplo, foco de mosquitos em períodos de chuva. Mas tal tarefa só um Estado que seja dirigido por classes revolucionárias que acabem com o sistema de dominação oligárquica do país e que tenha legitimidade perante as massas é capaz de levar a cabo. 
O velho estado e suas instituições, totalmente desmoralizadas frente as massas, não tem capacidade de tal mobilização e nem interesse de fazê-lo, pelo contrário, tem reduzido as verbas para saúde básica, prevenção a saúde e campanhas de vacinação, enquanto lançam milhões de reais no reforço dos aparatos repressivos que sobem as favelas para promover matanças de pobres e para conter a luta pela terra no interior do país. Sua política para a pobreza é a morte e a cadeia, é crescente o número de mortos por violência policial e falta de assistências nos serviços de saúde. 
Essa situação reafirma o caráter semifeudal e semicolonial da formação da nação brasileira, cuja dominação do imperialismo sustentada e mantida por um capitalismo burocrático que se apoia em seculares relações semifeudais e semicoloniais e que em meio a profunda crise geral do capitalismo não conseguirá prover melhores condições de saúde para o povo, pelo contrário, doenças já erradicadas começam a voltar ao país. 
 
Desmonte da pesquisa científica em saúde pública 
Para doenças que acometem os países pobres há pouco interesse no desenvolvimento de vacinas, ao contrário do que ocorreu com a Covid-19, uma pandemia, que atingiu e impactou economicamente os países imperialistas, para estas, desenvolveu-se em tempo recorde vacinas para controle, mas para doenças que acometem os países oprimidos, não há investimentos, as universidades federais do Brasil, centros de produção científica e desenvolvimento tecnológico estão sucateadas e necessitam recorrer a recursos de ondem privada para garantir suas pesquisas.
Exemplo disso são as vacinas para dengue. Alguns laboratórios farmacêuticos privados desenvolveram algumas alternativas. A primeira vacina contra dengue, aprovada no Brasil em 2015, foi a vacina Dengvaxia, primeira com registro no mundo, do laboratório Sanofi Pasteur do imperialismo francês disponível apenas no mercado privado e com restrições de uso, só pode ser aplicado em quem já teve contato prévio com o vírus da dengue, com objetivo de evitar uma nova infecção e desenvolver quadro hemorrágico, mais grave; devido à falta de conhecimento e restrição de uso não foi muito divulgada. Uma segunda vacina, aTak-003, da farmacêutica Japonesa Takeda, foi aprovada em março passado pela ANVISA. Esta vacina já pode ser utilizada em todos os indivíduos entre 4 e 60 anos independente de contato prévio com o vírus, apresenta eficácia de 80, 2% além de 90,4% de proteção contra hospitalizações. Embora a vacina tenha sido aprovada no Brasil, só deverá estar disponível no mercado privado a partir do segundo semestre. Já para ser incluída no Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde há ainda um longo caminho a ser percorrido. Na estrutura do SUS e Ministério da Saúde o Instituto Butantan em parceria com o NIH (Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA) vem, a mais de 10 anos, desenvolvendo uma vacina com previsão de finalização para 2024. O Instituto Butantan também desenvolve uma vacina contra Chikungunya em parceria com a farmacêutica franco-austriaca Valneva desde 2020. 
Ou seja, há um desenvolvimento tecnológico em termos de vacinas e tratamento mas não é colocado à disposição delas pelo sistema público e nos casos das pesquisas em institutos e universidades públicas a lentidão das pesquisas corresponde em grande medida a falta de financiamentos públicos.
 As Arboviroses são doenças que afetam imensamente as massas mais pobre, e medidas sanitárias e de melhorias das habitações podem reduzir em muito a transmissão. Mas, como a experiência dos Comitês Sanitários mostraram, essas medidas não virão sem luta popular. A vacina contra a dengue demanda demanda mobilização pela Vacina já! Assim como ocorreu com a vacina da COVID-19. Junto a isso é chave impulsionarmos a autodefesa, a ajuda mútua e a organização popular para implantar as medidas preventivas de impedir que haja águas estagnadas próximas às habitações. Não permitir que o velho estado elimine fisicamente o nosso povo, exigir as vacinas, as obras de saneamento básico e um atendimento digno nos serviços de saúde, com consciência de que para resolver o problema defenitivamente, precisamos derrotar das podres classes dominantes e seu Estado reacionário e estabelecer uma Nova Democracia com a garantia plena do direito a saúde.

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