29/06/2023

Stalin virá!* - Resenha crítica do filme Zoya – A Guerreira (2020)

Zoya, combatente soviética


Completaram-se 78 anos do Dia da Vitória dos povos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) contra a agressão do nazifascismo no 09 de maio próximo passado. Vitória imortalizada como Grande Guerra Pátria em que o glorioso Exército Vermelho e o heroico povo soviético sob a justa direção do generalíssimo Marechal Stalin lograram derrotar os planos de conquista da URSS pela Alemanha hitlerista, expulsando os invasores dos territórios soviéticos e marchando sobre Berlim, aplastando a besta fascista em seu covil. Grande Guerra Pátria em que se defendeu não apenas a URSS, primeira pátria do socialismo, mas a ditadura do proletariado e a revolução proletária mundial. Para isso também concorreram esforços dos povos de diversos países da Europa em suas resistências armadas antifascistas e dos povos da Ásia, especialmente do povo chinês sob a direção do Presidente Mao Tsetung e do Partido Comunista da China que também expulsou os fascistas japoneses que haviam invadido a China e planejavam escravizá-la. Como parte das celebrações do 78º aniversário desta grande vitória do proletariado e dos povos oprimidos do mundo inteiro, apresentamos a presente resenha do filme russo Zoya – A Guerreira, de 2020.

O filme se passa no contexto da invasão nazista à URSS em 1941 e narra a luta da combatente do Exército Vermelho Zoya Kosmodamianskya, primeira mulher a ser premiada com o título de Heroína da União Soviética na II Guerra Mundial. No momento da invasão alemã, Zoya é uma jovem estudante e, após a morte de seu companheiro Eugene na frente de batalha, ela decide alistar-se para defender seu país. Desde aí Zoya já dá demonstrações de sua coragem e sua decisão pela luta, condição que se temperará ainda mais no fogo do combate e no enfrentamento ao inimigo. A partir daí o filme retrata a forja combatente de Zoya e outros jovens que, como ela, decidem-se a desafiar todos os perigos e a morte para defender a pátria soviética. Dentre outros defeitos técnico-cinematográficos e de desonestidade intelectual de roteiristas e direção em faltar com a verdade histórica e apresentações caricaturescas do Exército Vermelho, não deixa explícito a ideologia que movia essa vontade – o marxismo-leninismo, à época – um dos principais pontos positivos da obra é ressaltar a fortaleza ideológica e moral de Zoya, expressão do despertar a fúria revolucionária de milhões de mulheres soviéticas, que ombro a ombro com seus companheiros foram capazes de imensuráveis heroísmos e sacrifícios.

Após seu alistamento, Zoya é designada para servir numa unidade de sabotadores, que deveriam retardar o avanço do exército nazista e fustigá-lo usando táticas guerrilheiras. Em uma cena, o comandante soviético encarregado do treinamento dos recrutas sabotadores protesta ante a ordem de treiná-los em apenas três dias, alegando ser impossível, defendendo ser necessário ao menos três semanas; mas é replicado por seu superior hierárquico com uma lei da guerra: os alemães não esperariam os soldados soviéticos terem melhor instrução militar. Como Zoya e seus companheiros centenas de milhares de soviéticos, principalmente jovens compuseram milhares de unidade guerrilheiras que atuaram na retaguarda e entre as posições das hordas assassinas de Hitler para combatê-las e desempenhou papel chave na vitória. A justeza dessa resposta se mostra ainda mais evidente quando o grupo de Zoya sai em sua primeira missão de ataque a uma unidade alemã e consegue cumpri-la com êxito, mesmo sendo inexperiente, enfrentando um fator imprevisto e resultando em um combatente ferido. Aí se dá o batismo de fogo de Zoya e seus companheiros. Como o Presidente Mao Tsetung sintetizou: “se aprende a fazer a guerra fazendo-a” e “não existe uma muralha da China entre um civil e um militar”. Ou seja, sem desprezar a importância do treinamento militar prévio, o principal da instrução e forja militares se dá nos próprios combates.

O filme também apresenta uma luta ideológica importantíssima, inerente a qualquer luta revolucionária e de resistência, a luta entre o prosseguimento no caminho da revolução e a capitulação frente aos ataques ferozes do inimigo. Após uma ação de sabotagem em uma aldeia em que tropas nazistas estavam estacionadas, os combatentes Zoya e Klubkov são capturados pelos alemães em momentos diferentes: Klubkov consegue se desfazer dos explosivos que portava e se passar por camponês, mas mesmo assim permanece detido; Zoya é pega no momento em que tentava incendiar casas ocupadas pelos invasores. Por ela saber falar alemão, inicialmente um oficial nazista tenta aliciar Zoya a colaborar com eles, mas ela mantém-se firme e não fornece nenhuma informação ao inimigo, mesmo quando submetida às mais cruéis torturas, derrotando moral e ideologicamente seus algozes e demonstrando toda superioridade da ideologia e moral comunistas sobre o fascismo e a capitulação, expressão da ideologia burguesa nas fileiras do povo. Por outro lado, Klubkov que já se achava amedrontado ante a ferocidade do inimigo, após ser apresentado às roupas e explosivos portados por Zoya, cai em desespero e degenera na capitulação e colaboração com o invasor, fornecendo informações aos inimigos. Apesar de o filme não apresentar tal luta nesses termos – ideologia proletária, firmeza diante do inimigo versus ideologia burguesa, capitulação frente ao inimigo – objetivamente é disso que se trata. Como afirmou o camarada Manoel Lisboa em Vencer as torturas é dever revolucionário (1972): “O revolucionário consciente é capaz de vencer qualquer obstáculo; não há ‘ponto máximo’ de tortura capaz de quebrar sua dignidade de combatente da mais justa das causas – a libertação do homem. Marx afirma que a teoria se transforma em força material quando se apossa das massas. A teoria revolucionária também se transforma em poderosa força material quando se apossa do combatente da causa proletária, uma força tão potente que faz tremer, ante um homem indefeso, as feras do fascismo sedentas de sangue.

Ainda no contexto da captura de Zoya, o filme retrata uma importante arma da guerra psicológica movida pelos nazistas: a contrapropaganda. Em uma cena, camponeses de uma aldeia que estava sob ocupação inimiga recebem uma edição do jornal Pravda[1] forjada pelos alemães que falsamente noticiava a queda de Moscou e de Stalin, impactando o moral daquelas massas. Esse recurso foi amplamente utilizado pela máquina de propaganda nazista antes e durante a II Guerra Mundial. É mesmo parte da ideologia fascista em suas diferentes versões, o obscurantismo e o falseamento descarado da realidade para tentar confundir e manipular as massas, tal como os fascistas da atualidade e suas chamadas Fake News.

Além dos motivos citados, as ações de contrainformação nazistas se faziam ainda mais necessárias para os invasores devido ao fracasso da sua estratégia de “guerra relâmpago”. Antes da invasão, Hitler e o Alto Comando militar alemão planejavam conquistar a URSS em apenas três meses, usando de um ataque massivo, rápido e intenso. Chocaram-se com a resistência férrea do povo soviético e fracassaram miseravelmente em seus planos de conquista e subjugação! Para isso o Exército Vermelho lançou mão tanto de ações guerrilheiras como as realizadas por Zoya e seus companheiros, desgastando o inimigo, como da guerra de posição em pontos estratégicos, cujo maior e mais glorioso exemplo é a Batalha de Stalingrado. Nesta que foi a maior batalha em cidades de todos os tempos, os combates foram tão encarniçados que chegou mesmo a disputar-se cômodo a cômodo de cada casa. Para tentar conquistar Stalingrado, o exército nazista enviou para lá o principal de suas forças. Pagando com seu generoso sangue, os combatentes de Stalingrado e as massas de lá, garantiram a defesa da cidade e infligiram a maior derrota militar e moral sofrida pelo exército alemão numa campanha.

O filme Zoya – A Guerreira também têm o mérito de não tentar ocultar o papel do camarada Stalin, como outras produções do gênero nos períodos do social imperialismo na URSS (após 1956) e da Rússia imperialista (após 1991). Mesmo sem dar a correta dimensão da direção de Stalin na Grande Guerra Pátria, o filme mostra que Stalin estava como comandante do quartel-general estava a par da aplicação das definições e em Moscou acompanhava de perto os preparativos de comandos especiais a serem enviados à retaguarda inimiga. Como mostra o filme o momento em que ele visita o campo de treinamentos em que Zoya e seus companheiros estão e passa a tropa em revista antes de ser enviada à frente de batalha. No período da guerra, mesmo diante das imensas e complexas tarefas que possuía como comandante supremo do Exército Vermelho e da Frota Vermelha, Stalin fazia questão de visitar pessoalmente todos os combatentes que partiam para o front. Em outra cena do filme, quando é apresentada a possibilidade de deixar Moscou ante a aproximação das tropas nazistas, o Generalíssimo Stalin afirma peremptoriamente que permanecerá em seu posto no Kremlin.

Dentre as limitações da obra, a principal é apresentar a Grande Guerra Pátria como sendo apenas uma guerra de resistência ante a invasão de uma potência estrangeira e não como o enfrentamento entre sistema socialista e sistema imperialista, entre ditadura do proletariado e ditadura fascista burguesa, entre emancipação dos povos do mundo pelo socialismo e escravização e subjugação pelo fascismo. Sobre o significado dessa guerra o Presidente Mao sentenciou: “A sagrada guerra de resistência da União Soviética contra a agressão fascista está sendo travada não apenas em sua própria defesa, mas em defesa de todas as nações que lutam para se libertar da escravidão fascista.” Esta “omissão” por parte de roteiristas e produtores do filme não pode ser considerada casual, é expressão ideológica da posição da burguesia russa de tentar traficar com o profundo sentimento patriótico inspirado pela Grande Guerra Pátria nas massas da URSS e de todo o mundo, buscando ocultar seu conteúdo de classe proletário e revolucionário e servir a seu reacionário nacionalismo burguês.

Exemplo maior disto é o fato de Putin e seus sequazes desde há muito buscarem manipular o sentimento das massas em pretensas celebrações do 09 de maio e intervenções públicas sobre o tema. Esses cabecilhas do imperialismo russo querem fazer crer que há identidade entre o libertador Exército Vermelho soviético e o atual Exército russo imperialista e, após o início de sua suja guerra de agressão à nação e ao povo da Ucrânia, que há identidade desta e a gloriosa guerra de resistência contra o nazifascismo pelo povo soviético. Como destacado em artigo da redação da Internacional Comunista (ci-ic.org): “Putin vinculou a atual invasão ao 9 de maio de 1945 para fazer crer que a ‘valentia’ dos soldados russos na luta por ‘desnazificar’ Ucrânia – como retórica imperialista ‘humanista’ para justificar seus interesses depredadores – está relacionada com a que mobilizou a classe operária e todos os povos do mundo, especialmente os soviéticos, a derramar seu sangue pela causa da derrota da agressão alemã contra a primeira pátria socialista na História da humanidade.” O mesmo surrado discurso de outras potências imperialistas, tal como os EUA de tentar justificar suas guerras de rapina com argumentos pretensamente humanistas e progressistas como “guerra contra o terror”, guerra para “defender os direitos humanos” e “levar liberdade e democracia” aos países invadidos – vide os exemplos recentes das invasões ianques ao Afeganistão e ao Iraque.

Nesse sentido, a lição que se pode extrair de Zoya – A Guerreira, desde uma perspectiva proletária e revolucionária é o contrário do que pretende a burguesia imperialista russa: morte ao invasor! Mesmo diante de suas limitações, o filme presta tributo à heroica resistência do povo soviético, especialmente as mulheres, operárias, camponesas kolkhozianas, estudantes e intelectuais proletárias, representadas no exemplo imperecível da combatente Zoya. Nesta grande epopeia da História humana é possível encontrar inspiração para a nação e povo ucranianos expulsarem o invasor russo e sacudir o jugo do imperialismo – dos EUA, da Alemanha, ou qualquer que seja – e elevar sua luta de libertação nacional à revolução de nova democracia ininterrupta ao socialismo; para o povo russo derrubar a burguesia imperialista e destruir seu velho Estado, edificando novamente a república socialista; e para o proletariado e povos oprimidos de todo mundo varrerem o imperialismo da face da Terra, dando lugar ao Socialismo, rumo à dourada emancipação da humanidade, o Comunismo.

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Notas:

* O título do presente texto é um rechaço à grosseira falsificação cometida pelos responsáveis da dublagem brasileira do filme Zoya – A Guerreira. Em uma das últimas cenas do filme, a combatente Zoya é levada pelos nazistas para ser enforcada e faz uma intervenção política diante dos habitantes da aldeia soviética, então sob ocupação alemã:

Então é isso, camaradas, acabem com os nazistas, queimem-los!

Há 200 milhões de nós, não podem enforcar todos!

Combati bravamente, adeus.

Não tenham medo!

Stalin virá!

Esta frase última de Zoya, o clímax do filme, é traduzida na dublagem para seu extremo oposto “Stalin cairá!” – grosseira falsificação, levando em conta todo o contexto e argumento do filme. E mais do que isso, é uma ridícula tentativa de falsear a História, digna dos mais raivosos anticomunistas e trotskistas. No próprio contexto da II Guerra Mundial, o camarada Stalin desfrutava de imenso prestígio em todo mundo, principalmente entre os povos da URSS e o movimento comunista internacional, dos quais ele se alçou à condição de chefatura após a morte do grande Lenin; não por acaso, os soldados do Exército Vermelho, tinham como grito de guerra antes dos combates: “Pela Pátria e por Stalin!” Mesmo essa produção russa não sendo uma obra de caráter proletário, ela não pode negar que Stalin foi o grande artífice da vitória sobre o nazismo, pois isso seria zombar da inteligência e memória dos povos do mundo inteiro. Desde essas linhas denunciamos, rechaçamos e aplastamos esse contrabando anticomunista e tamanha desonestidade intelectual e histórica. E reafirmamos: Viva o grande camarada Stalin! Morte ao oportunismo e ao revisionismo!

[1] A verdade” em russo: principal jornal da URSS no período da construção do Socialismo. Esse periódico foi criado por Lenin em 1912 e foi importante instrumento de propaganda e agitação na Grande Revolução Socialista de Outubro.

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