11/04/2023

Luíza Augusta Garlippe (Tuca)

Luíza Augusta Garlippe nasceu no dia 16 de setembro de 1941, em Araraquara, no interior de São Paulo, filha de Durvalina Santommo Garlippe e Armando Garlippe.

Luíza estudou no Instituto de Educação Bento de Abreu (IEBA) em Araraquara, e depois passou a morar em São Paulo, capital, onde fez o curso de Enfermagem na USP, formando-se em 1964. Em seguida passou a trabalhar no Hospital das Clínicas, chegando ao posto de enfermeira-chefe do Departamento de Doenças Tropicais, assunto em que se especializou, tendo feito em razão disso algumas viagens ao Amapá e ao Acre. 

Esta experiência profissional permitiu que Luísa Garlippe conhecesse de maneira mais profunda a realidade das massas camponesas de nosso país, em particular da região norte. Aí, onde o caráter semicolonial do Estado brasileiro se expressa através da total subjugação da nação aos interesses econômicos e políticos de potências estrangeiras, ligadas a grandes latifundiários e empresários e o caráter das relações semifeudais se expressa nas mais atrasadas relações de exploração do trabalho camponês e condições de vida que desde aquela época, impõem a morte da população pobre, sujeita a doenças como a leishmaniose e a malária, por falta de serviços médicos.

Já militante do Partido Comunista do Brasil, atuava politicamente no seu local de trabalho, onde participou da Associação dos Funcionários do Hospital das Clínicas e teve intensa atuação contra o regime militar. Durante esse período de muito trabalho em São Paulo, conheceu o seu companheiro Pedro Alexandrino de Oliveira (Peri), que também era militante do Partido Comunista do Brasil, e com quem partiu na clandestinidade para a região do Araguaia, no sul do Pará, no começo dos anos 70.

Chegando à região do Araguaia, Luíza Garlippe deslocou-se para a área do Rio Gameleira. Lá, como parte das preparações para a Guerrilha e para sua integração na região, desenvolveu junto com seus companheiros, intenso trabalho entre as massas camponesas, desde a propaganda contra a exploração e opressão promovida pelos grileiros, seus capangas e a polícia na região, à propaganda contra o regime militar fascista e a necessidade de construir uma nova sociedade. Deu tudo de si a serviço do povo, assumindo também, em meio a enormes dificuldades materiais o trabalho de saúde com os camponeses, passando a viver e trabalhar com eles, realizando ali inúmeros partos.

Com a deflagração da luta armada revolucionária, combateu no Destacamento B das Forças Guerrilheiras do Araguaia, destacamento comandado por Osvaldo Orlando da Costa o “Osvaldão”. Tuca era a responsável pelo serviço de saúde do seu destacamento, o que evidentemente, dadas as circunstâncias, não era fácil e exigia grande capacidade e abnegação. Dava assistência aos seus companheiros e às massas, realizando procedimentos desde curativos, tratamento de malária, até cirurgias. Em setembro de 1972, quando os guerrilheiros perderam em combate o companheiro João Carlos Haas Sobrinho (Juca), que era o responsável de todo o serviço médico, Tuca foi designada para a Comissão Militar, atuando como responsável-médica da Guerrilha.

No diário¹ de Maurício Grabois (Mário), dirigente do Partido Comunista do Brasil, membro de seu Comitê Central e Comandante da Guerrilha é relatada a intensa atividade de Tuca nas Forças Guerrilheiras. Além de atuar como Bula – apelido dado àqueles que cuidavam da saúde – ela era uma boa caçadora, possuía destreza na mata e viveu seus últimos dias combatendo com a moral elevada, como uma combatente do povo.

Luíza Augusta Garlippe foi assassinada pelas Forças Armadas, seu corpo não foi encontrado, como de muitos outros guerrilheiros, entre militantes e camponeses. Não se sabe com certeza a data e circunstâncias de sua queda em combate. Durante muito tempo acreditou-se que Tuca teria sido morta quando de um ataque do Exército em 25 de dezembro de 1973 a um acampamento da Comissão Militar, porque este foi o último dia em que foi vista pelos seus companheiros.

No “Relatório sobre a Luta no Araguaia” que ficou conhecido como Relatório Arroyo, de Ângelo Arroyo, dirigente do Partido Comunista do Brasil, membro de seu Comitê Central, membro da Comissão Militar que sobreviveu à Guerrilha do Araguaia e foi assassinado pela reação na “Chacina da Lapa” (SP) em 1976, encontra-se esta descrição sobre um combate do dia 25 de dezembro de 1973:

Osvaldo informou o seguinte: que o grosso da força havia acampado dia 24, mas percebeu que estava perto da estrada. Dia 25, pela manhã, afastaram-se para uns cem metros de onde se achavam, designando alguns companheiros para limpar (camuflar) o local em que estiveram. Os membros da CM e sua guarda ficaram num ponto mais alto do terreno, e os demais ficaram na parte de baixo. Na hora do tiroteio havia 15 companheiros no acampamento: Mário [Maurício Grabois], Paulo, Pedro, Tuca, Dina (com febre), Luís (com febre), na parte alta; embaixo: Zeca, Lourival, Doca e Raul (estavam ralando coco babaçu para comer). Lia e Lauro faziam guarda. Osvaldo e Batista realizavam a camuflagem.”

No entanto, relatórios das Forças Armadas afirmam que Tuca teria sido morta em 1974. Há variações sobre o dia exato de sua prisão e morte, mas as informações apontam que não teria sido morta em confronto no natal de 1973, mas sim após de ter sido presa e torturada no ano de 1974. O Exército registra sua prisão em maio de 1974; a Marinha registra sua morte em junho de 1974; e o Ministério da Defesa, 16 de julho de 1974.

Segundo informações colhidas no Processo sobre os desaparecidos do Araguaia, movido pelos familiares dos guerrilheiros e presidido pela Juíza Solange Salgado, um militar que participou das operações na época e pediu sigilo de sua identidade, entregou à juíza um papel com informações sobre qual teria sido o verdadeiro fim de 25 dos combatentes. Entre as informações, encontra-se o seguinte relato, que confirma a hipótese de que Tuca teria sido capturada, torturada e depois morta no ano de 74:

Luíza (sic) Augusta Garlippe (Tuca) – presa em 24 de junho de 1974 na região do Rio Sororó, perto de Marabá. Levada para a base da Casa Azul², em Marabá, passou ainda um tempo na base de Bacaba³. Foi morta em julho de 1974.”

Em sua homenagem a cidade de Campinas (SP) deu o seu nome a uma rua no bairro Vila Esperança. A cidade de Santo André (SP) deu seu nome ao PROCON local e a Comissão de Direitos Humanos de Araraquara tem o seu nome.

Nas páginas da história dos heróis do povo brasileiro, ficará grafado para sempre seu nome Luísa Augusta Garlippe, como exemplo a ser lembrado, saudado e seguido!

Luísa Augusta Garlippe, heroína do povo e da Revolução Brasileira! Presente na luta!

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Notas:

¹ Documento apresentado em matéria da revista Carta Capital nº 643, de 21 de abril de 2011. A revista informa que tal documento seria uma cópia datilografada por pessoal do Exército do manuscrito subtraído dos pertences de Maurício Grabois após o assassinato do mesmo.

² Identificada em depoimentos de sobreviventes como “Casa Azul” (sede do DNER), na cidade de Marabá–PA, neste local funcionava uma das bases militares e centro de torturas das Forças Armadas. Além disso, mais outros dois imóveis tinham a mesma destinação: sede do INCRA, e um presídio militar. As instalações de Marabá foram utilizadas para “interrogatórios” e prisão de suspeitos de participar ou colaborar com os guerrilheiros, e possuíam pista de pouso.

³ Na localidade da Bacaba, situada no km 68 da Rodovia Transamazônica (Município de São Domingos do Araguaia-PA), funcionava uma base militar. Neste mesmo local, onde ficava o canteiro de obras utilizado pela construtora Mendes Junior na construção dessa rodovia, havia pista de pouso, e uma grande área para a detenção de camponeses suspeitos, além de alojamentos para os militares e prisões para “interrogatórios”, leia-se centro de torturas.

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